Talíria Petrone (PSOL) convive com ameaças de morte desde sua eleição em 2016 como vereadora de Niterói, no Rio de Janeiro. Neste ano, como deputada federal, a parlamentar foi alvo de um atentado organizado pelo miliciano Edmilson Gomes Menezes, conhecido como Macaquinho, segundo revelou VEJA. O miliciano tem relação com o “escritório do crime”, que funciona como ponto de encomenda de assassinatos no Rio.
Foragido da polícia e réu em três crimes de homicídio, Macaquinho já foi apontado em investigações como um dos responsáveis pela execução da vereadora Marielle Franco, que era amiga de Talíria, e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Porém, a polícia e o Ministério Público desconsideraram a participação do miliciano, responsabilizando apenas o policial reformado Ronnie Lessa e do ex-agente Élcio Queiroz. Ambos estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho.
O plano do atentado foi descoberto por conta de duas denúncias feitas por meio do Disque Denúncia, em agosto. Em decorrência da gravidade, a equipe da deputada foi comunicada imediatamente. Assim, Talíria passou a contar com escolta de agentes da Polícia Legislativa.
Em 21 de agosto, Talíria deu uma entrevista à editora de comportamento e sociedade de CLAUDIA, Letícia Paiva, sobre violência contra mulheres no ambiente político. Na época, a parlamentar havia recebido a denúncia da ameaça há uma semana. Como as investigações eram iniciais, suas falas não foram divulgadas no momento por questão de segurança.
“Recentemente, o Disque Denúncia identificou uma possível reunião de milicianos dizendo que eu tinha que ser assassinada antes das eleições. E eu estou de licença-maternidade. É quase inacreditável”, revelou Talíria, que não vive mais no Rio de Janeiro por conta das ameaças. “Isso tira uma energia para produzir luta e leis. Ficamos psicologicamente abalados”.
Segundo ela, as redes sociais podem democratizar as informações, mas ainda são muito violentas. “As ameaças de morte, como ‘vai ficar furada como Marielle, é a próxima, a milícia tem que te colocar no caixão’ saem de lá. Além de planos de assassinatos na deep web”, contou a parlamentar.
A rotina dela foi transformada a partir da sua eleição, em que demanda urgentes de direitos humanos, como direitos das mulheres e de negros e segurança pública, são defendidas veemente. “Antes da execução da Marielle, o nível de tensão já era grave. Mas a ocupação no parlamento obrigou uma mudança muito radical de vida. Do ônibus e da bicicleta para o carro blindado, da roda de samba para o cuidado de onde vai se divertir. Isso afasta”, disse Talíria. Os ataques se tornaram ainda mais cruéis com a maternidade. “Agora, tenho uma filha também. Me questiono às vezes, mas sei que ainda vale a pena”, pontuou.
Nesta quinta-feira (12), a deputada também se pronunciou sobre o plano de assassinato por meio de uma nota divulgada a CLAUDIA. “Convivo com ameaças desde o início da vida pública. Os riscos à minha vida foram mudando de patamar e, neste momento, devido à gravidade da situação, fui obrigada a sair temporariamente do Rio de Janeiro com minha família enquanto aguardamos a investigação. Considero o cerceamento ao meu exercício parlamentar um ataque frontal à democracia e exijo poder, o mais breve possível, voltar ao território que me elegeu e onde preciso e quero estar para seguir cumprindo a tarefa para a qual fui eleita com mais de 107 mil votos”, disse.
Mais de 600 pessoas assinaram o manifesto feito pela equipe de Talíria para alertar sobre os ataques sofridos por ela. Além disso, parlamentares de países como Colômbia, Estados Unidos, Suíça, Venezuela, políticos brasileiros e outras personalidades também declaram apoio à parlamentar.
Para a deputada, o enfrentamento dessa violência deve ocorrer com a presença cada vez maior de mulheres na esfera política. Posteriormente, Talíria também recorreu à Organizações das Nações Unidas para cobrar um posicionamento do Governo Federal não só das denúncias em que é vítima, como também do caso de Marielle e de todas as mulheres ameaçadas.
O ataque
De acordo com relatos de fontes anônimas a VEJA, o ataque teria sido planejado dentro do presídio Bangu 9, onde há três detentos investigados no inquérito do caso Marielle e Anderson. As informações apontam que milicianos junto de Macaquinho que articulavam o crime.
Para investigar a denúncia, uma busca e apreensão dentro do presídio recolheu um celular. Os agentes aguardam a autorização judicial com a quebra de sigilo para acessar o conteúdo do aparelho.
Em agosto de 2018, o miliciano Orlando da Silva Araújo, também apontado por envolvimento no caso de Marielle e Anderson, revelou a existência do Escritório do Crime em um depoimento ao Ministério Público.
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