A desembargadora Luislinda Valois, 75 anos, tomou posse na manhã de hoje como Ministra dos Direitos Humanos. A pasta, criada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2015, havia sido extinta por Michel Temer, quando ele ainda estava no cargo como interino, e transformada em Secretaria Especial.
Valois (PSDB-BA) é a atual secretária de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça. Aos 9 anos, a menina negra, de origem humilde, ouviu de um professor: “Se você não tem dinheiro para comprar o material escolar, pare de estudar e vá cozinhar feijoada na casa de branco”. Luislinda Valois deixou a sala de aula chorando, envergonhada. Valente, tomou coragem e retornou: “Não vou parar. Vou estudar para ser juíza e prender o senhor”. O trauma infantil despertou o furor, que fez dessa soteropolitana, uma profissional ávida por justiça.
Primeira juíza negra e primeira profissional da área a proferir uma sentença contra o racismo no Brasil, Luislinda trabalhou no interior baiano até ser promovida, em 1993, para Salvador. Combater o racismo dentro e fora da magistratura e tornar a Justiça acessível a todos são seus desafios constantes.
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Ela reativou dezenas de Juizados Especiais em municípios da Bahia e criou e instalou a Justiça Itinerante, sala de audiência dentro de um ônibus que atende os bairros carentes de Salvador e Feira de Santana. Coordenou ainda o Balcão de Justiça e Cidadania e levou a lei às comunidades quilombolas e aos índios. O Programa Justiça, Escola e Cidadania, idealizado por ela, atingiu mais de 5 mil estudantes.
Em 2010, ganhou o Prêmio CLAUDIA na categoria Políticas Públicas. Em dezembro de 2011, em sessão plenária extraordinária do Tribunal de Justiça, foi promovida, pelo critério de antiguidade, como desembargadora.
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Em 2012, aposentada, Luislinda tomou posse na Academia de Letras José de Alencar, em Curitiba, no Paraná. No mesmo ano, recebeu o título de embaixadora da paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A participação das mulheres nos espaços de Poder é fundamental para que sejam realizadas transformações concretas em nosso país, com políticas públicas e iniciativas privadas que reflitam a diversidade e a igualdade de gênero e de raça. Somos um país com maioria de mulheres e maioria de negros. Nossos espaços de decisão precisam refletir isso”, disse a CLAUDIA, em agosto do ano passado, na série de reportagens “Mulheres na Política“. Leia na íntegra aqui.