Viagem: um mergulho nas águas paradisíacas da Jamaica
Visitar essa pequena ilha do Caribe é mergulhar num paraíso de tons de azul e verde, símbolos rastafári, muito reggae e zero preocupações
Em uma sempre basta embarcar numa viagem para conseguir trocar a chavinha mental e sair do modo rotina-trabalho-obrigações para o modo férias. Durante dez dias no início do ano, escapei para a Jamaica com altas expectativas: queria comemorar o aniversário de uma grande amiga e des-can-sar.
Cheguei pelo aeroporto de Kingston, e segui direto para a região de Port Antonio. Ainda colada no celular, respondendo e-mails e mensagens no WhatsApp, ouvi de outra amiga querida que estava lá há mais tempo: “Calma, daqui a pouco você vai descobrir qual é o ritmo da Jamaica”.
Foi no dia seguinte, no primeiro mergulho na Frenchman’s Cove, que entendi as raízes do “deboísmo” jamaicano. Depois de nadar em uma das praias mais bonitas do país, agraciada com um rio cristalino que desagua no mar depois de cruzar dois balanços pendurados em árvores, fica mais fácil entender a conexão com a natureza, a permissão para seguir os ciclos e esvaziar as preocupações.
Claro que a música do Bob Marley (1945–1981), onipresente nessa pequena ilha do Caribe, ajuda. A visita ao museu instalado na antiga residência do músico, na capital do país, explora o estúdio montado ali mesmo e rememora suas grandes apresentações e composições. Ainda que o guia animadão insista em cantar trechos de “Three Little Birds” e “Redemption Song”, minha cabeça brasileira não desgrudava da versão de Gilberto Gil para “Time Will Tell”: “Jah jamais permitirá que as mãos do terror/Venham sufocar o amor/Somente o tempo, o tempo só/ Dirá se irei luz ou permanecerei pó”.
É com a proteção de Jah, único Deus da religião rastafári, que eu contei para viajar de carro pelas desafiadoras estradas. Jamaica No Problem é uma espécie de lema nacional, e aos poucos nós, visitantes, vamos nos acostumando a não ver problema em tudo e nos entregamos ao fluxo.
Os símbolos da espiritualidade predominante no país estão espalhados em todos os lugares. Sim, estou falando da “ganja”, ou maconha. Nos rituais sagrados, a planta é usada como instrumento de iluminação (os rastas reprovam o uso de qualquer elemento que possa prejudicar o corpo, considerado um templo). Na prática, predomina o uso recreativo e para fins medicinais.
Como taurina legítima, a gastronomia local me parece sempre o melhor remédio para aplacar a curiosidade sobre um local estrangeiro. Os restaurantes mais bem recomendados ficam dentro dos hotéis. Se as instalações de quartos, piscina e spa são deslumbrantes — em Negril, vale reservar parte do orçamento da viagem para ficar no Rockhouse (leia mais a seguir) —, nem sempre a cozinha está à altura.
O que é imperdível? Comer um jerk chicken, frango assado em uma churrasqueira de tonel depois de ficar marinando numa mistura de especiarias beeem picantes. A opção de rua mesmo, vendida no papel alumínio junto com bastões de festival, o nome do pão regional adocicado, é a melhor. Para escolher qual barraquinha, vale a regra de ouro: aquela que tiver mais locais comendo! Só provei franguinho tão saboroso quanto no passeio de rafting pelo Rio-Grande (mais a seguir).
Na lista de locais mais improváveis que já visitei, o Floyd’s Pelican Bar está montado num banco de areia no meio do oceano. Depois de chegar de barco, um deque de ar bem improvisado é dividido pelos visitantes que querem tomar sol (capriche no protetor, o Sol por lá não dá tréguas nem no “inverno”) — muitos jamaicanos preferem a sombra, onde há jogos de dama e dominó (uma paixão levada a sério por lá, tem até campeonato simultâneo às festas com paredões de sound system).
Os petiscos do Floyd não são grande coisa, mas a cerveja Red Stripe está sempre gelada e o refresco para o corpo está a um passo e mergulho de distância. Na Jamaica, quem iria querer mais?
Refúgio nas águas
Viajar de carro na Jamaica significa seguir a mão inglesa e encarar buracos e desvios, na maioria das vezes, sem faixa pintada no asfalto. O deslocamento vale pelos presentes encontrados. Em Port Antonio fica Frenchman’s Cove (na foto acima), uma das praias mais bonitas do país, onde desagua um rio cristalino.
Em Ocho Rios, a atração é a cachoeira Dunn’s River Falls. Com jeito de puxadinho num banco de areia no meio do mar, o Floyd’s Pelican Bar foi feito para abrir uma cerveja Red Stripe e curtir.
Luxo no penhasco
As formações rochosas vulcânicas, ou cliffs, foram incorporadas à arquitetura do Rockhouse, um hotel-boutique e spa premiado em Negril. Os quartos mais desejados são villas de frente para o mar, com acesso direto para a água por duas vias: pelas escadas vermelhas (seguras, mas que dão frio na barriga) ou pulando onde não há pedras (ainda mais frio na barriga, claro).
A recompensa para quem supera os medos é a chance de se entregar ao balanço da maré quentinha, transparente e tão azul quanto da foto. Não é filtro.
Pimenta, ya mon
A língua oficial é o inglês, mas fora do contexto turístico dos hotéis o que se ouve é o patois jamaicano, que incorpora outras influências. “Ya Mon” é uma das expressões que todo mundo pega rapidamente e quer dizer que está “tudo bem”.
Na hora de pedir a comida, deixe claro se está tudo bem meeesmo ter pimenta! Eles capricham no jerk, um preparo picante na brasa que deixa mais saboroso do frango até os peixes e frutos do mar.
Um rafting diferente
No Rio-Grande River, não deixe de experimentar o rafting. Se a palavra te remete a botes infláveis e remos para lutar contra corredeiras, esqueça. O rafting jamaicano é numa longa embarcação de bambu, suavemente guiada pelo condutor em águas tranquilas.
Para subir, os pés devem estar de ladinho, assim não escorregam entre vãos. Além de deliciosos mergulhos, há uma parada no Belinda’s Cafe, restaurante de mesas e bancos de bambu. Ultra simples e apetitoso, faz um dos melhores jerck chickens.