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Transar com hora marcada: os benefícios do hábito

Especialista aponta caminhos para uma vida sexual saudável onde o sexo compete com outras prioridades do dia a dia

Por Sarah Brito
10 mar 2024, 08h43

“A última coisa na qual eu conseguia pensar era em sexo.” A frase é de Clarice Maia*, mãe e professora de 31 anos, que diz não ter tempo para transar. Para alguns, a fala de Clarice pode ser interpretada como um simples desinteresse no ato sexual ou então uma crise no relacionamento.  Mas não era isso. “Eu simplesmente não conseguia encontrar tempo para fazer sexo com o meu namorado. Sempre estávamos ocupados com o trabalho, a família, a educação dos filhos. E, quando encontrávamos uma brecha para transar nessa rotina louca, não existia tesão, apenas cansaço e muita culpa por não manter o prazer aceso”, conta a professora, que preferiu falar com CLAUDIA usando um pseudônimo*. A maneira de superar isso? Transar com hora marcada

Certamente, muita gente consegue se identificar com o desabafo sincero de Clarice. Para mães e profissionais bem-sucedidas, com agendas lotadas, realmente pode se tornar um desafio encontrar um espaço para o prazer em meio à correria.

“Comecei a desconfiar que não existia mais amor entre nós dois ou que havia uma possível traição por parte dele. No final, descobri que era apenas falta de tempo para transar”, diz. Mais alguém sobrecarregada aí?

São em rotinas intensas que o sexo acaba entrando como mais uma tarefa a ser realizada na enorme lista de afazeres do dia a dia. De acordo com uma pesquisa realizada em 2021 pelo Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, a situação é mais comum do que se imagina. 

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Dentre os casais millennials – aqueles em que a idade corresponde entre 29 e 40 anos – cerca de 25,8% dos entrevistados relataram ter enfrentado problemas relacionados ao desejo sexual nos últimos anos. Como é de se esperar, entre a geração Z, mais jovem e cheia de energia, a taxa era de apenas 10,5% — mas até os casais da geração X (entre 41 e 53 anos) estavam mais bem resolvidos: só 21,2% dos participantes da pesquisa apontaram falta de tesão.

A pandemia agravou esse cenário. “Muitos comportamentos sexuais se modificaram depois da Covid”, explica a sexóloga e terapeuta conjugal Tamara Wall. “Para a maioria dos casais, o isolamento social proporcionou inicialmente uma grande aproximação sexual, com ondas intensas de muito sexo que duraram alguns meses.” 

A atividade intensa, porém, não durou para sempre, à medida que o afastamento social se estendeu, a rotina se adaptou ao “novo normal” (em muitos aspectos, muito pior que o antigo) e os horrores da pandemia se tornaram aparentes. Difícil sentir tesão nesse imbróglio todo, né?  Para os millennials, justamente a faixa etária em que a carreira e a criação dos filhos disputam o pouco tempo disponível, o sexo acabou despencando na lista de prioridades.

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Desejo sob demanda: por que transar com hora marcada?

Ilustração de Anamaria Sabino - mulher listando as atividades do dia em um bloco de notas
“Precisei me forçar a ter uma janela na rotina só para transar”, revela Clarice Maia, professora que detalha como a prática de reservar hirário para a transa salvou o seu relacionamento (Anamaria Sabino/Divulgação)

“Nem toda vontade de transar surge na hora, como num passe de mágica. Isso seria o que nós sexólogos chamamos de excitação sexual instantânea, que é repentina e involuntária”, explica Tamara.

“Mas sabemos que essa não é a realidade para a maioria dos casais, já que a prioridade e atenção estão muitas vezes voltadas à rotina intensa de trabalho, da família e dos meios de comunicação, como o celular e a televisão. Nesses casos, a intimidade se encaixa apenas em momentos involuntários”, pontua Tamara.

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Ou seja, para muitos casais o desafio se torna encontrar maneiras de abrir espaço para a excitação sexual dentro desses “momentos involuntários”. Nesse contexto, faz sentido desenvolver um hábito para o qual, a princípio, muita gente torce o nariz: marcar hora para fazer sexo.

“Precisei me forçar a ter uma janela na rotina só para transar. Começamos a frequentar motéis próximos de casa, onde passávamos umas horas sozinhos, só conversando e sentindo prazer. Às vezes, rolava até durante o horário de almoço”, conta Clarice, que está em um relacionamento há cerca de 4 anos, e que é adepta à prática de agendar horário para transar.

“Íamos duas a três vezes por semana e tínhamos nesse momento de paz, sem interrupções ou imprevistos. Começamos a expandir esse tempo para mais horas, até se tornarem dias inteiros reservados somente para nós dois. Isso melhorou o nosso relacionamento em 100%”, conta.

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“Podemos comparar o sexo com o ato de escovar os dentes: faz bem para a saúde. Transar às vezes se torna obrigatório para manter a saúde sexual”, brinca a sexóloga Tamara. “Quando a preguiça e o sono são grandes, também hesitamos para ir escovar os dentes. Mas é importante manter a saúde bucal. Podemos pensar no sexo da mesma forma.”

Transar com hora marcada: indo além do sexo

Segundo Tamara, a prática de reservar um momento para o sexo pode ser uma boa iniciativa para cultivar o que especialistas chamam de tesão momentâneo, cujo surgimento pode, sim, ficar estagnado. “A maior parte das dificuldades sexuais não está relacionada ao ato de transar em si, mas sim a iniciar a relação”, diz Tamara.

“É aí que entra o desejo responsivo. Ele surge quando os participantes de um ato sexual estão minimamente dispostos a satisfazer seus desejos e os de seu parceiro, e priorizar essa vontade.”

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Ou seja, quando falamos sobre reservar um horário para transar, não estamos falando de criar magicamente uma excitação sexual instantânea, mas sim de colocar o tesão responsivo antes dos imprevistos cotidianos. Ótima ideia, certo?

“É importante entender essa reserva como um momento não só para as relações sexuais, mas como uma oportunidade de viver a intimidade que se perde com a convivência”, diz a especialista. Não é por que um casal resolveu tirar um tempo para si que ele precisa imediatamente partir para o ato. Mesmo que o momento seja curto — seja uma hora, duas horas — é importante que seja um espaço prazeroso: um escape das expectativas do dia a dia. Se bem sucedido, o sexo surgirá aí como uma consequência.

“Ao encarar o compromisso com leveza, o casal também elimina a possibilidade de frustrações, mesmo se a transa não rolar ou não for 100% satisfatória”, acrescenta.

“Sem agendar, fica quase impossível. Eu preciso me preparar para isso. Mas isso não significa um preparo para sentir tesão — e sim uma forma de atender a tudo que a minha vida demanda. Eu preciso dar conta de cuidar das minhas crianças e também de sentir tesão, e a única alternativa para isso é agendando um momento para o sexo“, explica Clarice, que sentiu na pele os benefícios do sexo com hora marcada.

“Escolhemos um local em que nós dois nos sentimos seguros e à vontade para falar, ouvir e agir naturalmente. Conseguimos beber e comer algo gostoso, sem ninguém para nos interromper. Só assim vemos nossas afinidades e conseguimos pensar em um único objetivo: sentir prazer e saber que aquele momento é nosso.”

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