“Eles estão com raiva e existe uma maneira fácil de impedir; prenda os policiais. Denuncie os policiais. Denuncie todos os policiais. Não apenas alguns deles, não apenas aqui em Minneapolis. Denuncie-os em todas as cidades da América onde nosso povo está sendo assassinado”, disse a ativista Tamika Mallory em um dos discursos das manifestações em Minneapolis, nos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd. George, um homem negro, foi asfixiado por policiais brancos na semana passada.
O vídeo com a fala da Tamika correu as redes sociais não só nos Estados Unidos, mas no todo o mundo. O alerta para os danos que o racismo institucional e estrutural implica há centenas de anos na população não se restringe a esse momento.
Responsável pela organização da Marcha das Mulheres de 2017, a filha de Stanley e Voncile Mallory foi influenciada pela relação dos pais com o movimento dos direitos civis. Os ativistas são fundadores do National Action Network (Rede Nacional de Ação dos Direitos Civis), em Nova York, instituição onde Mallory ingressou aos 11 anos e da qual se tornou a mais nova diretora executiva, aos 15.
Em 2013, a ativista se desvinculou das atividades administrativas da instituição para trilhar uma caminhada no ativismo em prol de causas feministas, no movimento Black Lives Matter e no controle de armas. Esse último, inclusive, rendeu à ela, em 2014, um lugar no Sistema de Gerenciamento de Crises de Nova York do prefeito Bill de Blasio, que debruçava esforços sobre a violência armada.
Após o primeiro ano da presidência de Donald Trump, a busca pela interseccionalidade e a diversidade levou Tamika ao ativismo da Marcha das Mulheres. Em uma entrevista para a Ebony, ela conta que tudo começou com ideias similares de Teresa Shook, Bob Bland, Breanne Butler, entre outras articuladoras, de reunir mulheres na rua para reivindicarem os seus direitos. Com isso, a Marcha das Mulheres de 2017 ganhava forma. Vanessa Wruble, cofundadora e copresidente da Okayafrica, foi a responsável pela chegada de Mallory ao time de organizadores.
“Apresentar uma oportunidade para as pessoas não apenas ficarem tristes e frustradas, mas sentirem que há poder em números e em ser organizado”, comentou nesta entrevista de 2017. A frase também se encaixa com o significado das manifestações das últimas semanas. Ela ainda completa: “Queria garantir que as vozes das mulheres negras fossem defendidas, exaltadas e que nossos problemas fossem resolvidos, mas isso não poderia acontecer a menos que sentássemos à mesa”, apontou.
Chamada de “líder do amanhã” por Valerie Jarrett, principal assessora do governo Barack Obama, o nome de Tamika ficou marcado também pela intervenção que a mesma fez em um caso de racismo na rede de café Starbucks, na Filadélfia, em 2018. Na época, dois homens negros foram presos no estabelecimento por serem suspeitos. A dupla foi questionada e a justificativa usada pela polícia é de que a postura fazia parte do combate ao antissemitismo e todas as formas de ódio, a Liga Anti-Difamação (ADL). “A ADL envia a polícia dos Estados Unidos para Israel para aprender suas práticas militares. Isso é profundamente preocupante. Não vamos nem falar sobre seus ataques contra a vida negra”, tuitou Maloni. Após sua pressão e de outros ativistas, a rede de café retirou a organização do seu treinamento de segurança.
Atualmente, Tamika é cofundadora e presidente da consultoria Mallory, na qual oferece acompanhamento de iniciativas corporativas em Nova York. Além disso, a ativista também é integrante do conselho de administração da Gathering for Justice, instituição que atua contra o encarceramento infantil e a redução do encarceramento em massa. Em 2019, Mallory deixou a Marcha das Mulheres por motivos controversos. Após a participação em uma cerimônia do líder da Nação do Islã, Louis Farrakhan, que proferiu falas antissemitas, a presença dela passou a ser questionada internamente. Porém, a ativista declara que não tem envolvimento e nem endossa os comentários de Louis e que sua saída foi apenas pelo fim do mandato.