O recente surto de catapora que atingiu uma escola da Carolina do Norte (EUA) deixou muita gente de cabelos em pé: 36 crianças foram diagnosticadas com a doença praticamente ao mesmo tempo e foi descoberto que 110 dos 152 alunos da instituição não eram vacinados contra catapora.
Por lá existe um dilema: a vacinação é obrigatória, mas uma brecha na lei abre exceção para que os pais não imunizem os filhos por motivos religiosos. Embora a maioria das religiões não tenha ressalvas em relação à proteção da saúde de seus fiéis, o pessoal do movimento antivacina se aproveita dessa desculpa para não imunizar as crianças.
O problema fugiu do controle e agora as autoridades locais estão cortando um dobrado para convencer as pessoas de que a vacinação é indispensável e de que as vacinas não causam autismo ou doenças – a bandeira sem nenhuma prova que o movimento levanta.
Há risco de surto de catapora no Brasil?
Ao saber do caso norte-americano, a dúvida/o medo é inevitável: será que há o risco de algo assim acontecer no Brasil?
“Risco sempre existe quando grupos sem fundamentações científicas são mais ouvidos do que as sociedades médicas”, diz Melissa Palmieri, médica especialista em vigilância em saúde e coordenadora médica de vacinas do Grupo Hermes Pardini. “Mas o Brasil, em mais de 40 anos do Programa Nacional de Imunizações, conquistou êxitos no controle de doenças graves. Acredito que nessa trajetória foi formada uma massa crítica de pessoas que dificilmente será influenciada por fake news ou movimentos antivacina”, complementa.
Ainda assim, ela alerta para o fato de que a cobertura brasileira não atingiu os desejados 95% nos últimos dois anos, o que deixa um grupo de crianças suscetível à catapora.
Vale destacar que a vacina contra catapora é disponibilizada gratuitamente em todo o Brasil pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e deve ser tomada em duas doses: uma aos 15 meses de vida e outra aos 4 anos de idade.
6 razões pelas quais não é preciso ter medo das vacinas
Diante dessa situação, vamos lembrar aqui os principais motivos pelos quais você não deve bobear em relação à vacinação das crianças e pode confiar nas vacinas. Para montar a lista, contamos com a consultoria de Melissa e de Jesse Alves, infectologista e gerente médico de vacinas da GSK.
As vacinas previnem doenças graves
Este já deveria ser motivo suficiente para que ninguém pensasse em ficar sem vacinas, mas ainda há quem prefira arriscar. Então vamos lembrar: a imunização é a melhor forma de criar anticorpos e se proteger contra doenças sérias que podem deixar sequelas e levar à morte, como meningite, poliomielite (a paralisia infantil), pneumonia, sarampo e catapora, entre muitas outras.
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que a vacinação em massa evita entre 2 e 3 milhões de mortes por ano no mundo.
Os vacinados protegem quem não pode tomar vacinas
Bebês e crianças com alergias a determinados componentes de algumas vacinas ou com o sistema imunológico comprometido não podem ser vacinados – e contam com a responsabilidade do restante da população para não serem infectados por doenças evitáveis por vacinas.
É o chamado “efeito rebanho”: as pessoas vacinadas impedem a entrada do agente causador da doença naquela comunidade, formando uma espécie de cinturão de defesa para todos.
As vacinas não sobrecarregam o sistema imune da criança
Muitos pais têm medo que a grande quantidade de vacinas nos primeiros meses de vida do bebê sobrecarreguem de alguma forma o sistema imune do pequeno. Podem ficar tranquilos, pois isso não ocorre. Mesmo quando são várias vacinas no mesmo dia, cada uma delas contém apenas uma fração dos antígenos, já pensada para ser bem assimilada pelo organismo.
As vacinas são rigorosamente testadas
Antes de serem disponibilizadas ao público, as vacinas passam por testes de segurança e eficácia muito rigorosos e são avaliadas por órgãos regulatórios, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Tudo para que elas cumpram sua função – proteger contra as doenças – sem causar transtornos maiores após a aplicação.
Vacinas não causam autismo
Esta é uma crença completamente mentirosa que se perpetua há 20 anos. O problema foi que, em 1998, o pesquisador britânico Andrew Wakefield publicou um artigo afirmando que a vacina tríplice viral (contra caxumba, sarampo e rubéola) estava ligada a uma síndrome intestinal e ao autismo em crianças.
Mais tarde descobriu-se que ele havia manipulado os dados e ele inclusive perdeu seu registro médico, mas o estrago já estava feito e até hoje há quem acredite nessa relação. Mas ela não existe.
Catapora é uma doença muito séria
Não é raro encontrar quem defenda que a catapora é uma doença “levinha” e que, por isso, não é necessário se preocupar tanto assim com sua vacina. É errado quem pensa assim. “A catapora pode evoluir para complicações como infecção bacteriana de pele, pneumonia viral ou bacteriana e pode levar até à morte, principalmente em pessoas com problemas e deficiência no sistema de defesa”, explica Melissa.
Por isso, mantenha a vacinação das crianças – e a sua também! – em dia. Prevenir é o melhor remédio contra qualquer doença e contra a desinformação.