O modo de encarar a velhice está mudando totalmente.
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Basta falar de pai e mãe para que as mais variadas emoções entrem em cena. Mas o que fazer quando eles necessitam de ajuda? “Não existe resposta pronta”- adverte a psicóloga Graziela Zlotinik Chehaibar, especializada em mediação familiar. “É preciso construí-la, de preferência com os pais.” Para começar, podemos evitar alguns erros que são cometidos com frequência, como o de tratar os idosos como inválidos. “Suponhamos que seu pai more sozinho e não tenha mais condições de dirigir. Não é por isso que você vai passar a fazer tudo por ele. O ideal é incentivá-lo a manter a autonomia ele não ficou incapaz, só não pode mais usar o carro.”
O sucesso de cada empreitada de reorganização familiar depende de se fazer um balanço entre as vontades e necessidades dos pais e a real disponibilidade dos filhos. Às vezes, uma filha decide levar o pai para casa. Mas será que ele deseja a mudança? Será que o genro e os netos estão abertos à possibilidade? Todos têm de ser envolvidos no processo, pois a vida doméstica será remodelada. Tudo deve ser conversado – caso contrário, não vai funcionar, como os especialistas são unânimes em garantir.
Não alimente ilusões nem sinta culpa
Diante de grandes decisões, algumas ilusões familiares podem ir por água abaixo, como a expectativa de que os irmãos dividam igualmente responsabilidades e despesas. Um filho que teve problemas com os pais durante a vida toda, por exemplo, com certeza enfrentará conflitos se for chamado a cuidar deles. “Morar junto, nessas circunstâncias, pode ser um inferno”, pondera Graziela. Em caso de doença que afeta a lucidez, o impasse é ainda maior. “No mínimo deve haver um treinamento da pessoa que for tomar conta do idoso, senão ela também adoece”, diz a psicóloga. Embora o asilo possa ser uma saída, é malvisto pela sociedade.
Não raro as famílias relutam, pois confundem a opção com abandono – na verdade, porém, o que define o abandono não é o local em que o idoso está, mas como ele é tratado. Muitos não têm amparo no próprio lar… “Ao enfrentar o dilema, tente ser objetiva, discernir o que a situação pede e fazer o melhor que puder. Isso será útil para todos, pois culpa não adianta, só paralisa”, esclarece Graziela.
Qual é a obrigação dos filhos?
Com o aumento da expectativa de vida, as novas gerações começam a se preparar melhor para o futuro cuidando da saúde, do plano médico, da previdência privada… e também da cabeça, pois o modo de encarar a velhice está mudando totalmente. E isso vai se acelerar, segundo a antropóloga Elizabeth Mercadante, “O script tradicional dizia que os filhos eram responsáveis pelos pais, mas esses valores estão em plena revisão”, afirma a antropóloga. Um dos motivos é que a família deixou de ser idealizada. “Dentro de casa podem existir desleixo e violência. Morar com parentes nem sempre é sinônimo de qualidade de vida”, aponta. Por outro lado, nos dias de hoje o afeto filial não pode ser medido pela disponibilidade: “Você trabalha o dia todo, mal tem condições de cuidar de si mesma, precisa montar o maior esquema para educar os filhos, como poderia se responsabilizar pelos pais?”, pergunta Elizabeth.
Um jeito positivo de envelhecer
Menos dependência e mais autonomia: esse é o segredo para quem deseja outro tipo de envelhecimento. Como levar os pais a se encaminharem nessa direção? Estimule sempre que eles criem outros laços além da família. Tanto Graziela quanto Elizabeth salientam a importância dos amigos e dos programas sociais e culturais – jogar, praticar esporte, começar um curso, ir à igreja ou ao cinema. Além de satisfação com tais atividades, as pessoas sentem que fazem parte do mundo – é uma ótima tática contra a solidão e o tédio. A aposentadoria também não precisa ser levada ao pé da letra. “Ocupações triviais, como cozinhar, ajudar a cuidar dos netos, resolver as pendências bancárias… tudo isso faz com que o idoso sinta-se útil e independente, alimentando sua confiança e autoestima”, assegura Graziela.