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Outro dia tomei um sermão do meu filho, Gabriel, de 7 anos: “Mãe, faz tempo que você não brinca comigo. Tô com saudade”. Eu fiquei indignada. Como assim? Tinha passado o dia inteiro com ele, ido ao cinema, levado ao restaurante que ele queria e nada era suficiente? Não, não era. Parei e comecei a analisar o que era brincar para o Gabriel. E ele mesmo respondeu de forma simples: “Brincar de uma brincadeira que eu gosto, junto comigo”. Então fui descobrindo aos poucos o que a frase dele queria dizer.
Naquele dia em questão, era futebol de botão. Uma caixa que estava esquecida lá no fundo do armário virou a brincadeira mais legal do momento. Essa foi minha primeira descoberta: o significado de brincadeira era relativo a cada dia, ou melhor, a cada segundo. Meu filho tinha consciência de que eu não sabia jogar aquilo, que futebol não era o meu forte. As funções se invertiam e agora ele ensinava algo pra mim. Era isso! Brincadeira é coisa de criança, o grande protagonista, e nós, adultos, somos coadjuvantes, aqueles que dão o empurrãozinho para eles brilharem.
Muitas vezes colocamos um brinquedo nas mãos de uma criança e achamos que é suficiente para entretê-la. E aí não entendemos por que ela não para e fica tentando chamar a nossa atenção. Outras vezes é o contrário. Vemos nosso filho quietinho, brincando, e o tiramos daquele universo maravilhoso para alguma atividade que julgamos ser mais importante, como tomar banho ou comer. Claro que é fundamental ter rotina, mas será que não estamos cobrando muito e brincando pouco? Levar a vida tão a sério para quê? Confesso que esse dia do futebol de botão foi tão gostoso que até deixei o banho passar em branco. Ele dormiu gostoso e fedido, mas com um sorriso no rosto. Todos sobrevivemos em casa, inclusive ele.
Precisamos brincar mais com nossos filhos, não na hora que podemos, do jeito que queremos, com as nossas regras. Vou propor uma revolução! Vamos deixá-los no comando dessa arte que sabem melhor do que ninguém: o brincar! Chega de impor se o brinquedo tem que ser de madeira, eletrônico ou sucata. Tem dias que o tablet vai ser o máximo, enquanto no outro o sucesso será a tampa da panela. Chega de dizer quanto tempo uma brincadeira deve durar. Hoje, ele vai ficar dois minutos com a galinha pintadinha e amanhã vai querer levá-la até para o banho. Chega de colocar roupa de festa de casamento para a criança curtir o aniversário do amigo. Vestido longo rodado e suspensórios não combinam com bufê infantil. Aproveite as férias você também! Brinque, se suje, volte a ser criança com quem mais entende do assunto!
Fica a dica
· Faça a mesma atividade que acontece sempre dentro de casa ao ar livre. Saia da mesmice.
· Quando for um jogo, deixe a criança perder alguma vez para entender que nem sempre se ganha.
· Conte histórias com sucatas e objetos diferentes e permita que a criança descubra novas formas de brincar além dos brinquedos tradicionais.
· Deixe o pequeno se sujar. Ninguém brinca de verdade preocupado com limpeza.
· Não tenha medo de reutilizar roupas e acessórios do primeiro filho. Poucos se lembram do que um bebê vestiu há pelo menos um ano.
· Por menor que seja o primogênito, ele deve ser avisado sobre a chegada do irmão. Melhor após três meses de gestação.
· Aproveite o planejamento e verifique sua saúde antes de engravidar.
Chris Flores é jornalista, autora do livro Um Bebê Em Casa e apresentadora do programa Hoje em Dia, da Record. |