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Pesquisas ajudam a manter a saúde da vida a dois

Apoiados em pesquisas, três especialistas - dois deles autores de novos livros sobre o tema - ajudam casais a driblar as dificuldades da vida a dois e manter a saúde do casamento.

Por Bell Kranz (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 09h25 - Publicado em 13 nov 2014, 22h00
Bell Kranz e Isabella D'Ercole
Bell Kranz e Isabella D'Ercole (/)
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As situações não são raras na crônica da vida a dois. Um vive implicando com o outro. Às vezes, um lado do casal fica nervoso e grita, deixando as coisas fora de controle. Ou ambos sempre tentam manter o tom civilizado, mas um deles tem a mania de esconder que empresta dinheiro para o irmão quase todo mês porque sabe que esse é um assunto delicado. Em compensação, os dois se amam, está na cara. Tanto que traição é um mal que nunca passou nem longe daquela relação. Será mesmo? A infidelidade conjugal possui outras formas além da famosa pulada de cerca. Pior: menos levadas em conta, elas podem ser tão devastadoras para o relacionamento quanto a escapulida sexual.

Uma nova compreensão de infidelidade – e também do seu antídoto, a confiança no parceiro – é explorada no mais recente livro do psicólogo e professor americano John Gottman. Em seu centro de estudos na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, apelidado de Laboratório do Amor, Gottman passou quase quatro décadas observando, minuciosamente, milhares de casais, das palavras ditas um ao outro à linguagem corporal e até as reações biológicas. O pesquisador estudou, inclusive, conversas domésticas e brigas. No livro O Que Faz o Amor Durar? (Fontanar), lançado recentemente no Brasil, o psicólogo mostra ser possível medir os níveis de confiança e de traição entre os cônjuges.

CLAUDIA ouviu John Gottman mais dois especialistas brasileiros sobre o assunto – o psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury, autor de best-sellers, que acaba de lançar As Regras de Ouro dos Casais Saudáveis (Academia), e a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex), do Hospital das Clínicas de São Paulo – e listou algumas verdades, que servem tanto para proteger relacionamentos prósperos quanto para resgatar casamentos em crise.

Traições devastadoras não são apenas sexuais

Elas costumam passar despercebidas ou ser minimizadas até mesmo pelo cônjuge que está sendo traído, mas podem ser tão perniciosas quanto a infidelidade sexual e arruinar um casamento. Alguns exemplos desse tipo de deslealdade? Desrespeitar o parceiro com atitudes ou palavras que o façam se sentir inferior. Mesmo que pareçam banais, como dizer na frente dos outros: “Você é idiota? Sempre esquece os óculos”. Priorizar a carreira acima de qualquer coisa, incluindo o relacionamento, também é trair, assim como demonstrações de egoísmo, frieza ou incompreensão. Como diz o americano, um relacionamento sério é um contrato de confiança mútua, respeito e cuidado. Qualquer conduta que viole esse contrato é traição. Deslealdades, porém, ocorrem até nas relações mais harmoniosas. A diferença é que casais saudáveis e felizes buscam corrigir logo a mancada.

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Confiança é princípio fundamental para o sucesso

Basicamente, a confiança existe quando um parceiro pensa nos interesses do outro como se fossem dele. Exemplos prosaicos do dia a dia ilustram bem como alimentar essa confiança: ele vai fazer compras no supermercado e traz a guloseima de que ela tanto gosta ou, então, se lembra de comprar o xampu que ela usa e já terminou. Tais atitudes mostram que um parceiro está pensando no outro e está interessado em se dedicar à relação. Se um lado está ligado apenas nas próprias necessidades, a confiança acaba abalada. Ou seja, a questão tem tudo a ver com quanto cada um está investindo emocionalmente no relacionamento.
Assim, para recuperar a confiança, é preciso retomar a sintonia, a conexão dos dois. Nesse caso, a técnica de Gottman consiste em levar os casais a incorporar o hábito de ter, com certa regularidade, conversas sinceras e profundas. Nesse sentido, ele propõe um cardápio de perguntas que um deve fazer ao outro: “Quais são seus planos? E seus medos? Doque você precisa para ser mais feliz? O que está preocupando você agora? Que sonhos ainda não realizou?” São questionamentos que levam, por exemplo, os parceiros a identificar se estão ou não caminhando na mesma direção, além do que precisa ser ajustado para fortalecer os laços.

Ninguém muda ninguém

Uma das regras de ouro dos casais saudáveis formuladas pelo psiquiatra Augusto Cury é justamente essa. Segundo ele, temos o poder de influenciar (e até piorar) os outros, mas não de mudá-los. Fazer críticas excessivas, sermões ou chantagens, impor punições e falar em voz alta ou berrar são estratégias negativas, que não funcionam. Como são atitudes de dominação, claro que não contribuem para o desenvolvimento de quem se ama. Relacionar-se é a arte de negociar e dialogar, lembra o especialista. É necessário encontrar um meio-termo para tudo que incomoda o casal. Para tanto, as conversas têm de ser sinceras, feitas de coração aberto. Pode ser difícil, mas vale tentar. “O incômodo asfixia a vontade de dividir, quebra a liberdade e deixa o humor para baixo. Faz parecer que aquilo será definitivo no futuro”, diz Cury.

Assuntos mal resolvidos não podem se acumular

“Os maiores fantasmas que sabotam nossos romances e nossa qualidade de vida estão dentro de nós. Então, é fundamental domesticá-los”, alerta Cury. Se não há como deletar o passado, ele pode ser ao menos reeditado, lembra o psiquiatra. Isso só é possível se criarmos espaço para um debate interior com nossos medos, culpas, ciúmes e impulsos. Para o americano Gottman, assunto bem resolvido é aquele que é discutido a dois com toda a calma. Quando as coisas ficam quentes, sua dica de sucesso é esperar passar ao menos 24 horas após o conflito para dar tempo de amenizar a raiva, a mágoa ou outros sentimentos negativos. Aí a conversa poderá ser sincera, prática e efetiva. “Você precisa ter uma distância emocional segura para abrir-se com o outro sem machucá-lo ou ferir-se mais ainda”, observa. Por mais indigesta que seja, nenhuma questão deve ser varrida para debaixo do tapete. Ou virará ferida e, posteriormente, virá à tona em forma de chantagem ou instrumento de defesa.

Romance e sexo, uma prioridade

O americano John Gottman avisa: não deixe o amor no pé da sua lista de coisas a fazer. E não se sinta mal de encaixar na agenda momentos para o sexo e o romance. Também nessa área é preciso se programar. “Se o parceiro ficar para o fim do dia, quando estiver exausta, após trabalhar e cuidar das crianças, a relação não terá qualidade.” A seguir, dicas de especialistas para jamais parar de namorar.

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Conversa boa

Segundo a pesquisa de Gottman, a comunicação entre os casais costuma ser falha, o que impacta a relação. O psicólogo instalou câmeras na casa de jovens casais e mediu o tempo de interação entre eles. Descobriu que, em uma semana, eles mantinham apenas 35 horas de conversas, o que ele considerou pouco. Mas quantidade não era a pior parte: os temas giravam em torno de questões enfadonhas, como contas a pagar. Por isso, é muito indicado que o casal tenha estratégias para se distanciar dos assuntos de ordem prática. “Eu e minha esposa planejamos uma vez ao ano uma lua de mel. Vamos a algum lugar sem as crianças e com celulares desligados, só para curtir um ao outro”, conta Gottman, ao falar de Julie, sua parceira também no Laboratório do Amor. “Voltamos outros, refeitos.” Romper com a rotina torna o parceiro mais interessante – e atraente na cama.

O que não tem preço

Para quebrar o que chama de “o cárcere da rotina”, Cury propõe dar aquilo que o dinheiro não compra. Isso significa dizer palavras carinhosas, acolhedoras e que encantam a quem se ama, como “obrigado por você existir” ou “o que posso fazer para torná-lo mais feliz?”. Para a psiquiatra Carmita Abdo, no sexo a ideia é que a relação se torne cada vez mais equilibrada e criativa. “Pode ser mudando o lugar dentro de casa mesmo: transar um dia no quarto, outro na sala, na cozinha…”, diz. “Ou fugir em um fim de semana para uma pousada, experimentar brinquedos juntos e testar posições até descobrir as mais prazerosas para ambos.”

Resgate do toque

Casais devem se esforçar para manter a amizade e a intimidade. Para tanto, tocar a pessoa que se ama no dia a dia é poderoso. “Abraçar, beijar, fazer carinho, massagem… Isso libera o que chamamos de hormônio da afeição”, diz Gottman. A ideia é ser como os recém-casados, que falam e fazem sempre coisas deliciosas um para o outro e não conseguem desgrudar.

Sintonia fina

O empenho é dos dois. “Outro dia, minha esposa me ligou dizendo que havia comprado um vestido sexy. Eu a convidei para ver um filme e jantar usando a roupa nova. Saímos, andamos de mãos dadas, sentamos juntinhos no cinema, trocamos olhares à mesa”, conta Gottman. Para Carmita, é natural que, com o tempo, a frequência do sexo diminua e o repertório perca exuberância. Também ocorrem divergências de gênero. Para o homem, querer mais sexo, em geral, é simples. Para a mulher, exige empenho, dedicação. “É preciso entender os limites e a vontade do outro”, diz. Assim, os dois entram em sintonia e começa um círculo virtuoso: a lembrança de um bom momento leva o casal a querer repeti-lo, propiciando uma vida sexual mais ativa.
 

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