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“Muitos homens não foram preparados para ter filhos”

Há 11 anos, o catarinense Marcos Piangers descobriu o significado de paternidade e mergulhou na experiência, escrevendo livros sobre o assunto.

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 abr 2017, 09h17 - Publicado em 2 abr 2017, 09h17
Marcos Piangers entre as duas filhas, aurora e Anita
Marcos Piangers entre as duas filhas, aurora e Anita (Claudio Fonseca/Divulgação)
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Sei bem como é crescer sem a presença de um pai. Só fui saber o nome do meu no ano passado. Ele abandonou minha mãe grávida e passei a infância imaginando quem ele era: um milionário misterioso? Um astronauta? No fim, era um cara comum. E acabei preferindo não ir atrás dele: não tive vontade de cultivar artificialmente um laço com quem não participara da minha criação.

Na maioria das vezes, as pessoas que cresceram sem a presença do pai biológico se decepcionam ao conhecê-lo porque, no fim, ele é um estranho. Não estava lá quando você deu os primeiros passos, não brincou com você nem contou histórias.

Não guardo nenhum ressentimento. Depois de muito pensar sobre o assunto e discuti-lo, percebi que, assim como ele, muitos homens não foram preparados para ter filhos. Somos criados, desde pequenos, para viver de aventura e liberdade. E, tanto para a mulher como para o homem, esse é um discurso muito limitante. Seríamos mais felizes se todos nós pudéssemos expressar nossos sentimentos e vivenciar a paternidade em toda a sua profundidade.

Talvez seja esse o motivo de meu primeiro livro ter feito sucesso – há cada vez mais homens buscando essa via. Fiquei muito surpreso quando o vi nas listas dos mais vendidos.

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O Papai É Pop (Belas Letras, 29,90 reais) é resultado de crônicas que escrevi ao longo de nove anos contando minhas percepções sobre a minha vez de ser pai. Quando uma amiga, em 2013, disse que eu precisava publicar aquilo, relutei, achei que era tudo íntimo demais. Mas foi muito bom ter tirado os textos da gaveta. Tem sido uma experiência e tanto na minha vida.

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Eu me encantei pela paternidade quando nasceram minhas filhas. Anita está com 11 anos e Aurora com 4. Com as meninas, aprendi que, se optasse por renunciar à criação delas ou simplesmente por não participar ativamente, todos nós sairíamos perdendo: não só a mãe e as pequenas, mas, principalmente, eu – como me faz bem cuidar delas, brincar e conversar!

Entre nossos programas preferidos está confeccionar os próprios jogos de tabuleiro. Em vez de peões, desenhamos bonequinhos com a cara da professora, da tia… Gosto de andar de bicicleta com elas, pintar, montar quebra-cabeças. À noite, faço questão de me desconectar para estar com elas de verdade. Acredito que é importante moderar o uso do celular – o meu e o delas. Se brincam muito com telas, outras atividades perdem a graça.

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Acima de tudo, ter filhas me fez rever uma série de conceitos que tinha arraigados. As mulheres nascem em um mundo que as diminui, não explora suas potencialidades. São, desde pequenas, elogiadas por ser bonitas e não por ser inteligentes, fortes, interessantes. Eu nunca tinha me dado conta disso. Procuro desconstruir esse discurso em casa e estimular a confiança delas.

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Quando os livros foram publicados, comecei a ouvir muitas histórias de homens que não tiveram um pai presente, mas que, como eu, queriam fazer diferente. O problema é que não sabem nem como começar, já que não tiveram referência alguma. É preciso que, cada vez mais, pais fiquem à vontade com seus filhos, trocando fraldas em casa, frequentando as reuniões escolares… Assim como a mulher entrou no mercado de trabalho, precisamos fazer o caminho inverso, entrar nas relações familiares (e domésticas) de forma efetiva.

Não ganho dinheiro com o que escrevo – depois do primeiro, vieram mais três livros com temáticas similares. Decidi doar os direitos autorais para instituições que cuidam de crianças em situação de vulnerabilidade social.

Visito os lugares com minha mulher e as meninas, e essa experiência só nos faz bem. Hoje, mantenho minha carreira de jornalista, dou palestras e respondo a e-mails de pais desesperados (risos).

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Não me coloco como autoridade ou especialista de nada, mas como um cara que acha que as coisas fazem muito mais sentido quando nós, homens, não sobrecarregamos as mães de nossos filhos e, ao mesmo tempo, não nos privamos de ser pais de verdade.”

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