Fernanda Takai e a filha, Nina, com os cães Branquinha, Plug e Tatá, no jardim de sua casa em Belo Horizonte
Foto: Tomás Arthuzzi
No recente CD solo Na Medida do Impossível, a mineira Fernanda Takai, 43 anos, canta You and Me and the Bright Blue Sky, que descreve, do ponto de vista de um cão, a amizade por sua dona. A música é tema de um clipe gravado no deserto de Salta, Argentina, e acessado no YouTube. Se, como diz a cantora, o novo álbum representa profundamente seus gostos e inspirações, essa canção ressalta ainda mais uma de suas grandes paixões. “A música é de autoria de Charles ‘Cholli’ di Pinto, um americano que mora há muito tempo no Brasil”, diz Fernanda sobre o clipe, em que a atriz Andrea Lombardi, 29, contracena com o cão Goro, 3.
Na “trama”, o cachorro – que curiosamente não é um “ator contratado”, a produção o encontrou sentado à beira da estrada à espera de seu dono – “interpreta” o afeto de um vira-lata por sua dona. “Tudo é importante quando eles estão juntos e qualquer momento distante é pior. Ele pensa que não vai mais vê-la, mas ela sempre volta”, descreve Fernanda. Um tipo da sensação que seus cachorros – Branquinha, 8, Tatá, 5, e o dálmata Plug, 2 – devem experimentar, já que a cantora tem viajado muito, cumprindo uma série de apresentações com o Pato Fu, banda da qual é vocalista, e da turnê do show Na Medida do Impossível.
O bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, onde mora com o marido, John Ulhoa, 44, músico do Pato Fu e produtor, com quem está casada há 19 anos, e a filha, Nina, 11, é o ponto de reencontro com os cães que, segundo ela, “sorriem apenas com o olhar” ao revê-la. O amplo quintal da casa é território livre para os animais. “Eles vivem no jardim, têm bastante espaço para correr, insetos para perseguir. Ao mesmo tempo, são muito obedientes, fazem tudo para nos agradar.”
A percepção dos cães é coisa que sempre impressiona a cantora ao voltar das viagens exaustivas e das horas passadas em aeroportos e hotéis. “Acho que eles tentam ficar mais perto quando percebem que o nosso reservatório de energia está baixo. Meio que dizem: ‘Ei, estou aqui. Faço de tudo para você ficar bem! Quer coçar minha barriga? Posso sentar no seu colo?'”, brinca. “Quando criança, sempre tive animais de estimação. Lembro-me que era um exercício diário de amor e humor. Quantas vezes não me sentia melhor por ser importante na vida de um bichinho?”, pergunta-se.
Os cães da família têm muito espaço para brincar, pular e caçar insetos
Foto: Tomás Arthuzzi
Equilíbrio saudável
Foram tais lembranças que, tão logo Nina cresceu, Fernanda quis proporcionar à filha. “Cuidar de outro ser nos faz melhor, mesmo que seja uma plantinha”, comenta ao explicar que ter um cachorro na infância lhe deu importantes noções de comunicação, afetividade e até de responsabilidade. “Espero que Nina seja uma garota feliz e faça suas escolhas genuinamente, pelo coração. Meus pais me ensinaram a ser uma boa companhia, ter educação, saber ouvir, falar com clareza. Sou uma mãe que preza a disciplina e os limites, mas também sou do tempo em que criança tinha de ser criança, com tempo para brincar, para errar, para aprender. Hoje elas são cobradas demais”, diz.
Apesar de conviver há muito tempo com a rotina de viagens, Fernanda diz que tenta manter um equilíbrio saudável entre a casa e a estrada. “Quando estou em BH, as manhãs são dedicadas a Nina, que estuda à tarde, e ao gerenciamento da casa, à supervisão de tarefas escolares, ao almoço, à arrumação. A parte da tarde deixo para cuidar de entrevistas, reuniões, gravações, consultas, compras, supermercado. Quando estou em turnê é plantão 24 horas: aeroporto, hotel, entrevistas, passagem de som, encontro com fãs. Tudo muito corrido.”
Por causa da correria, um dia de lazer em família sempre é muito bem aproveitado. “Tem de ter algum momento gastronômico especial, um filme ou uma bela vista e muito conforto”, diz rindo. Mas Fernanda também guarda um tempo para ficar quieta em seu canto. Quando precisa desenvolver uma ideia musical, o silêncio é seu melhor companheiro. “Gosto de compor em casa, com meu violão dos tempos de criança, papel e caneta. Engraçado que eu tive uma coluna em dois jornais durante seis anos e escrevia em aeroporto, táxi, hotel… Mas música eu prefiro fazer no meu cantinho. Olhar para o cotidiano com menos pressa me inspira. Faz me sentir feliz à toa por causa de uma paisagem ou um abraço da filha.”
Plateia especial
Foi nesse clima intimista que nasceu o CD Na Medida do Impossível, em que Fernanda canta músicas próprias e regrava sucessos como A Pobreza, de Renato Barros, 71. “Gosto de misturar os mundos, mas sempre de forma delicada. Ter mais canções minhas requer colocar um filtro de qualidade à altura das outras músicas que já são comprovadamente boas e consagradas. Tentei fazer isso”, diz a cantora, que teve o marido como produtor. “John me conhece muito bem e é extremamente versátil. Ele sabe criar a atmosfera ideal para cada canção, ouvindo minhas considerações. Temos mais convergências do que divergências na vida, por isso nosso casamento dá tão certo, fala sobre o parceiro que conheceu em uma loja de acessórios musicais que ele tinha no começo dos anos 1990. Das conversas entre os dois, surgiu o convite para Fernanda participar do Pato Fu.
Determinados a ficar mais próximos de Nina e aproveitar melhor as horas em família, Fernanda e Ulhoa montaram um estúdio em casa. Ela diz que, quando está gravando fora, é muito fácil perder a noção da hora. Trabalhar na sala ao lado ajuda a controlar o tempo e a manter o foco. Melhor para Nina, que pode desfrutar da companhia dos pais. E, de quebra, para Branquinha,Tatá e Plug.
O trio ganhou um privilégio que causa inveja a muitos fãs da cantora: têm direito a audiências em primeira mão e nem precisam de pulseirinhas VIPs. Fernanda Takai entrega: “Eles gostam de ficar na porta do estúdio me ouvindo cantar durante as gravações e ensaios. Acho bonitinho”.
Fernanda com os cães Totó e Pipa (deitada), ambos já falecidos
Foto: Nelio Rodrigues