Conflitos que encontramos ao optar por uma vida mais sustentável
Embora muitos digam que não, vale sim lutar para mudar alguma coisa, mesmo quando não conseguimos melhorar tudo ao nosso redor
“Não é sinal de saúde estar adaptado a uma sociedade doente”, disse alguém em alguma esquina da Internet em que passei. Realmente não é, mas como é difícil manter-se 100% coerente quando as nossas escolhas não andam de mãos dadas com o sistema.
A ideia de largar tudo e ir morar em meio à natureza, buscando a sustentabilidade, a tranquilidade e a auto-suficiência sempre me persegue como a solução definitiva para este conflito.
Nesta semana, me deparei com um excelente artigo no The Guardian, escrito por Madeleine Somerville em que ela comenta exatamente sobre este mesmo conflito. No caso dela, a inquietude é causada pelo fato de ser uma ambientalista. Madeleine se pegou questionando sua vida enquanto comprava um carro novo: “como um ambientalista pode andar de carro?”
Madeleine diz em seu artigo: “Todos nós existimos dentro do próprio sistema que desejamos mudar. […] Essa hipocrisia é um delicado ato de equilíbrio.”
Leia também: Famosos que não comem carne
Como proteger os animais, mas comer carne; como ser vegetariano, mas usar couro; como reciclar o lixo, mas usar copo plástico; como usar ecobags, mas andar de carro; como ser vegetariano, mas não ser vegano. São tantos os conflitos, as cobranças e os dedos apontados que o mundo fica um lugar cansativo.
É claro que a gente deve sempre buscar a coerência nas nossas decisões e escolhas, é assim que a vida faz sentido, mas cada um tem seu tempo e seu alcance.
Lembrei de uma amiga que se tornou vegetariana há pouco e quando precisou viajar para um lugar “hostil” com os não carnívoros e acabou “caindo em tentação”.
Lembrei também da vez em que entrevistei a blogueira Cristal Muniz, que há mais de um ano tenta reduzir sua produção de lixo. Cristal enfatiza que mudar hábitos e buscar uma maior sustentabilidade é um processo lento e que requer sempre adaptação para cada pessoa e seu dia a dia.
A existência dentro do sistema torna a mudança mais difícil. Ainda assim, o fato de não conseguirmos nos adaptar sempre completamente não deve ser um impedidor para a transformação de hábitos.
“Você pode aceitar o status quo ou você pode trabalhar por algo melhor. Fazer isso está menos ligado a mudar-se para uma cabana na floresta do que a encontrar uma forma de existir confortavelmente numa sociedade insustentável enquanto tenta mudá-la”, diz Madeleine.
Cada pequena parte feita por um mundo melhor é relevante.