Há quase 200 anos, o gastrônomo Anthelme Brillant-Savarin disse que o destino de uma nação depende da maneira como ela se alimenta. De acordo com o Instituto norte-americano de Métrica e Avaliação para a Saúde, o mundo tem hoje 2,1 bilhões de pessoas obesas ou com sobrepeso.
Açúcar, gordura, produtos fortemente industrializados e processados unidos a maus hábitos são os responsáveis por isso. Nesta semana, um alerta da OMS (Organização Mundial da Saúde) instaurou um certo pânico entre as pessoas, alertando para o fato de que carnes processadas como embutidos e bacon estão na mesma classificação de elementos cancerígenos como o cigarro e o amianto.
Segundo a OMS, 50g diárias deste tipo de produto aumentam em 18% o risco de câncer na região colorretal. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, serão mais de 30 mil casos desse tipo neste ano. A causa do pânico entre as pessoas se deve muito mais à atenção dada ao tema pela mídia em geral do que pela novidade em si. No final do ano passado, o Ministério da Saúde Brasileiro lançou o excelente Guia Alimentar para a População Brasileira onde já defendia a redução do consumo deste tipo de alimento e o favorecimento de produtos não processados, naturais e comprados direto do produtor.
Você certamente conhece carne de porco, certo? Pois há alguma parte do porco que se assemelhe à peça de presunto que você vê no mercado? Ou ainda, experimente ir a uma abatedouro e ver a cor da carne do gado. Se parece mesmo com aquela peça vermelha e brilhante do mercado? Alimentos vendidos em bandejas, latas ou caixinhas passam por um processo industrial gigantesco que adiciona a eles uma série de elementos artificiais e cancerígenos, como corantes, conservantes, e sódio, para que eles possam ter a aparência final que vemos na hora da compra.
É simples entender o processo, basta sair da zona de conforto onde enxergamos os alimentos simplesmente como as belas embalagens que vemos no mercado.
Pense na cadeia alimentar completa. Se aquilo que está no mercado não lembra o produto ao qual ele corresponde na sua origem é porque há um processo muito grande e nebuloso no meio disso tudo.
A chef Paola Carosella, recentemente em um evento em São Paulo, levou uma galinha morta para sua apresentação e uma bandeja de peito de frango vendido no mercado. Ela defendeu justamente isso, que precisamos abrir os olhos para a cadeia alimentar como um todo e entender de onde vem o nosso alimento. O cadáver de uma galinha abatida em nada lembra o peito de frango rosado e limpo do mercado. Por que não somos expostos à realidade do que consumimos?
Com relação à saúde, não somente o consumo de embutidos e processados está relacionado a casos de câncer. Um estudo da Universidade de Harvard, publicado no British Medical Journal, concluiu que há uma ligação clara entre o consumo de carne vermelha e a incidência de câncer de mama. A redução no consumo deste alimento pode representar uma queda de mais de 19% no risco de desenvolver a doença, segundo os pesquisadores. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, entre os fatores que estão envolvidos no desenvolvimento de câncer de mama estão o consumo de carne vermelha, queijos gordos, enlatados, embutidos e processados.
No livro Devagar, Carl Honoré diz o seguinte: “Em nossa pressa, nós nos alimentamos mal e sofremos as consequências. Os índices de obesidade estão disparando, em parte porque devoramos alimentos processados cheios de açúcar e gordura.” O jornalista Michael Pollan, conhecido pela sua investigação da cadeia alimentar, também explica que precisamos voltar à cozinha para entender os alimentos de verdade.
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Saiba o que você come. Respeite a sua alimentação e respeite o seu corpo. O que você coloca para dentro dele vai definir uma série de questões da sua vida e do entorno dela também.