5 habilidades que crianças e adolescentes precisam desenvolver
Eles devem ser estimuladas desde já, em casa e na escola, para melhor se adaptarem a um mundo cada vez mais complexo
Chamados de nativos digitais, os jovens que nasceram no século 21 já rodeados pelas novas tecnologias (internet, celular, redes sociais) não são famosos pela paciência, pelo foco e pela resiliência. Com frequência, não gostam de esperar, são multitarefas, hiperconectados e dependentes de “likes” a cada tarefa realizada. Mesmo sem uma bola de cristal, parece fácil prever as dificuldades que terão ao chegar à fase adulta. Afinal, o mercado de trabalho e a vida não costumam oferecer muito espaço a profissionais impacientes, ávidos por atenção, que desistem à primeira adversidade. Dá-se preferência aos criativos, com capacidade de liderança, adaptáveis ao cenário em constante mutação.
Para melhor encaixar os filhos nesse futuro cada vez menos distante, há uma série de capacidades que podem ser estimuladas desde já, em casa e na escola. “É fundamental oferecer aos jovens o necessário para viver no mundo de hoje e para construir o seguinte”, diz Fernando Reimers, professor da faculdade de educação de Harvard, nos Estados Unidos.
CLAUDIA consultou especialistas e pesquisas e chegou a uma lista de habilidades cognitivas e não cognitivas. “São atributos e valores fundamentais para uma vida feliz”, afirma Cesar Amaral Nunes, pesquisador da faculdade de educação da Unicamp e consultor de um projeto de fomento à criatividade na educação que envolve 15 países. São eles:
1. Resolução de problemas
Nesse novo modelo de escola, questões do cotidiano funcionam como norte das disciplinas, organizadas em projetos com propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que vai ser apreciado por alguém). “Esse tipo de educação empodera os jovens, tornando-os responsáveis pela própria aprendizagem”, diz Reimers. Assim, eles se desenvolvem de modo a atuar como agentes de inovação social e de empreendedorismo, buscando soluções em favor da coletividade. “Essa organização do currículo pressupõe alguns valores, como a defesa de uma sociedade mais justa e democrática, onde as pessoas, na medida do possível, são mais felizes, vivem com dignidade e mantêm relações mais respeitosas”, explica Nunes. Em casa, traga o noticiário para discussão, sem fugir de notícias tristes ou difíceis. Você não precisa ter resposta para tudo, mas deve ajudar seus filhos a problematizar as questões, lidando com o mundo tal qual ele é.
2. Pensamento crítico
O conhecimento acumulado pela humanidade, que a escola se dedicou a transmitir por séculos, hoje está a um clique. Assim, as verdades absolutas vindas dos professores e dos pais estão em cheque: o “eu mando, você obedece” foi substituído pela aceitação de que o saber não é algo pronto, acabado, mas em constante elaboração. “Ganham espaço habilidades como se posicionar criticamente, buscar fontes de informação diversas, elegendo as prioritárias, identificar o contexto em que foram produzidas e relacionar conhecimentos”, explica a psicóloga Anita Abed, consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco). Isso não significa negligenciar conteúdos tradicionais. Pelo contrário, a escola deve garantir o contato com o conhecimento existente, oferecendo oportunidades de produção de novos saberes.
Por exemplo: a história local pode ser estudada por meio da comparação entre fontes oficiais, notícias de jornais antigos e entrevistas com pessoas mais velhas e, por fim, compilada pela turma e transformada em livro digital ou videodocumentário – formatos que despertam o interesse dos jovens. A postura crítica vale também para análise, interpretação e compartilhamento de conteúdos da internet, incluindo posts nas redes sociais.
3. Criatividade
Hoje, os especialistas defendem que a imaginação, associada à formulação de ideias e à imprevisibilidade, deve estar no centro da aprendizagem em todas as faixas etárias para que se possa navegar em um mundo cada vez mais incerto e complexo – basta pensar nas informações mais velozes ou na instabilidade do emprego, nas novas configurações familiares… Estimular o uso diverso dos materiais durante as brincadeiras, abrir espaço para a contação e criação de histórias, personagens e cenários estão entre as práticas possíveis dentro de casa desde a primeira infância.
“A criatividade é fundamental para uma educação em múltiplas carreiras, para que possamos nos reinventar mais de uma vez ao longo da vida”, atenta Reimers. “O mais importante que a escola pode ensinar é enfrentar riscos. Não se pode preparar as pessoas só para o sucesso.” Tirar alunos e professores da zona de conforto é o papel do pesquisador Nunes, que desenvolve um trabalho de valorização da criatividade como parte do projeto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “É preciso dar espaço à experimentação e à busca de respostas, que vão além do sim ou não”, afirma.
4. Comunicação e colaboração
Nosso tempo exige uma gama mais vasta de alfabetizações. À habilidade de se comunicar na língua nativa e na estrangeira soma-se o chamado letramento digital: quem souber manejar bem as tecnologias de informação e comunicação, extrapolando a posição de usuário consumidor e assumindo uma postura de autoria, terá mais condições de se adaptar. Seu filho acha que sabe tudo de internet, mas, além de descobrir novos joguinhos e postar nas redes sociais, ele consegue moldar as ferramentas para satisfazer um desejo dele ou da comunidade – por exemplo, criando um aplicativo para denunciar e exigir conserto dos buracos na ciclovia do bairro?
O interesse por questões dessa natureza, aliás, passa pela prática da empatia, da tolerância e do respeito a outros códigos culturais. “Todo desenvolvimento humano deve compreender o avanço das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana”, escreve Edgar Morin em Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Mais do que nunca, é fundamental conviver com o diferente – e é possível estimular isso com viagens, visitas a exposições, idas ao cinema e até mergulhos na literatura. Na escola, conferências internacionais pela internet com intermédio do professor são um exemplo de atividade que propicia o intercâmbio cultural.
5. Gestão das emoções
Essa habilidade diz respeito à gama de competências associadas à chamada função executiva, que, no cérebro, é responsável pela capacidade de planejamento, organização, execução de tarefas e atenção, entre outras. Começa a se desenvolver no primeiro ano de vida, resultando em pessoas estáveis emocionalmente, que demonstram previsibilidade e consistência em suas reações. “Discutir situações polêmicas em classe, com a mediação do professor, pode aprimorar essas habilidades”, diz Nunes. Autoavaliações auxiliam na formação de jovens mais reflexivos e responsáveis. Em casa, é fundamental estimular o exercício de autocontrole e administração dos desejos e das frustrações. Por isso, nada de se curvar a birras e chantagens emocionais, se desesperar para compensar os acertos com recompensas imediatas: em tempos velozes, um grande presente que os pais dão é ensinar a reduzir a ansiedade e saber esperar.