4 tópicos que mostram que toda mulher é feminista
"Você já é feminista!" foi escrito por 17 mulheres engajadas e com histórias de vida diferentes, representando a diversidade feminina e o desejo único de respeito e igualdade entre gêneros
Uma professora de ciências políticas, uma advogada que é diretora da Comissão de Direitos Humanos da OAB, uma gestora de moda que depois se formou como cabeleireira, uma crítica literária e prostituta trans, uma repórter que já trabalhou com finanças… Todas feministas. Assim como eu e assim como você. Sim, porque independentemente se nós nos assumimos feministas ou não, nós o somos. Porque ser feminista é acreditar que mulheres e homens devem ter os mesmos direitos e “ser mulher e não ser feminista seria um contrassenso sem tamanho”. Isso é o que defende o livro Você já é feminista! – Abra este livro e descubra o porquê, lançado no último sábado (27). Organizado pela jornalista Nana Queiroz – autora do livro Presos que Menstruam –, a obra é uma coletânea de ensaios que denunciam o machismo presente em nosso dia a dia em suas mais diversas facetas, ressaltando seus malefícios e a importância do movimento feminista para mudar a sociedade.
“O feminismo de verdade, inclusive, celebra as diferenças entre as mulheres e as acolhe – a todas”
Os ensaios foram escritos por 17 mulheres engajadas e com histórias de vida diferentes, representando a diversidade feminina e o desejo único de respeito e igualdade entre gêneros: as jornalistas Nana Queiroz, Luiza Furquim, Carolina Oms e Helena Bertho, a secretaria-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo Djamila Ribeiro, a blogueira Lola Aronovich, as psicólogas Letícia Bahia e Jaqueline de Jesus, a linguista Tamy Rodrigues, a youtuber Luísa Marilac, a cientista social Flávia Biroli, a crítica literária e prostituta Amara Moira, a consultora Carolina Vicentin, a advoagada Lívia Magalhães, a auditora fiscal Luciana Veloso e a gestora de moda Lúcia Ellen Almeida. Com ilustrações de Larissa Ribeiro e prefácio da professora de filosofia Marcia Tiburi, o título reforça como a luta feminina conjunta pode nos libertar de estereótipos e pressões sociais, nos tornando mais seguras e felizes com nossas escolhas.
Os ensaios são feitos em primeira pessoa, baseados em experiências pessoais e reforçados por dados e falas de estudiosos. Foram divididos em quatro partes:
1. Bê-a-bá do Feminismo: as autoras falam sobre o que é o feminismo, suas correntes e a relação com a religião, a importância de se assumir feminista e o papel da sororidade no movimento.
“… feminismo é sobre escolhas, não sobre proibições. Não se deixe abalar se alguém vier com uma lista de etiqueta feminista e não quiser aceitá-la no clubinho. A verdade é que não há clubinho, porque não existe hierarquia. Ninguém manda. Mas há vertentes, e inúmeras vezes essas vertentes discordam entre si. […] As opressões não desaparecem magicamente depois que você se assume. No máximo você se empodera, se torna mais forte, mais preparada para o combate, mais livre. Mas é um caminho sem volta. […] E, pra falar a verdade, nem sei se é uma escolha. Num mundo cheio de injustiças, ninguém pode se dar ao luxo de não ser feminista”, escreveu Lola no ensaio Saia do armário e se assuma feminista.
2. Identidades: as autoras são explicações sobre gêneros e orientações sexuais, o desafio das travestis em se libertarem do estereótipo ligado à prostituição, as dificuldades das lésbicas no campo social e jurídico e como o feminismo se destaca na vida de mulheres negras e no mercado de trabalho.
“O fato é que essas diferenças são construídas socialmente. Como as influências sociais não são totalmente visíveis, parece para nós que as diferenças entre homens e mulheres são ‘naturais’, totalmente biológicas, quando, na verdade, boa parte delas é influenciada pelo convívio social”, escreveu Jaqueline no ensaio Guia inclusivo dos muitos gêneros.
3. O direito ao próprio corpo: as autoras conversam com as leitoras sobre desejo, sexualidade, pornografia, prostituição, cultura do estupro, parto e aborto.
“Mas e nós? O que a cultura do estupro está ensinando às mulheres? Nós estamos aprendendo a sentir vergonha da nossa própria nudez, exceto quando ela está a serviços do prazer masculino – nas revistas, na TV, na pornografia. Estamos aprendendo que se nossos maridos querem sexo, nós devemos isso a eles, porque nossos desejo é menos importante do que o desejo deles. Estamos aprendendo que ‘homens são assim mesmo’, e que temos que nos policiar para não atiçar o desejo adormecido e incontrolável de um estuprador. Estamos aprendendo que a culpa é nossa, que cabe à mulher não ser estuprada, e não aos homens não estuprar. Estamos aprendendo a chamar a coleguinha de escola de vagabunda por causa da roupa que ela escolheu, e aprendemos que ela não tem o direito de escolher. Nós estamos aprendendo que nossos corpos não nos pertencem”, escreveu Letícia Bahia em Cultura do estupro: ela existe e está na sua casa.
4. Por uma cultura de equidade: as autoras completam a obra com reflexões sobre comportamentos e tarefas no ambiente familiar, estereótipos que passamos para as crianças, direitos e deveres, a violência de gênero no âmbito legislativo e a exploração no mundo da moda.
“Pode parecer pequeno discutir quem lava a louça quando há tantas mulheres sendo estupradas e morrendo em decorrência de abortos clandestinos e surras de parceiros, mas a verdade é que o problema atinge as mulheres de maneiras muito mais profundas do que se imagina – e, estudiosos apontam, pode ser a raiz da maioria dos empecilhos para o pleno empoderamento”, escreveram Nana Queiroz e Helena Bertho em A Revolução vai acontecer na pia.
É um livro de linguagem fácil mas de conteúdo arrebatadoramente diversificado e libertador. Feito para todas as mulheres e homens também, afinal, eles também podem – e devem – fazer parte do movimento de mudança. Se estiverem em dúvida, basta abrir o livro e descobrir o porquê.
Você já é feminista! – Abra este livro e descubra o porquê, Editora Pólen Livros e Revista AzMinas, 176 páginas, 35 reais.