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Tudo sobre laqueadura: saiba como é a cirurgia e quem pode (ou não) fazer

Procedimento tem eficácia anticoncepcional próxima à do DIU e à do implante hormonal – isso mesmo, não é 100% seguro.

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 15 jan 2020, 11h48 - Publicado em 9 ago 2019, 08h00
Laqueadura
Senado aprovou um projeto de lei que dispensa o aval do cônjuge para procedimentos de esterilização voluntária. (Darunechka/Getty Images)
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Cerca de 67 mil mulheres fazem laqueadura no Brasil a cada ano – foram 67.056 em 2018 e 67.525 em 2017, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O direito de realizar o procedimento é garantido pela Lei 9.263/96 para mulheres acima de 25 anos (independentemente de serem mães) OU com pelo menos dois filhos vivos no momento da cirurgia (independentemente da idade).

Mas não pense que basta querer fazer e pronto. Para ter uma laqueadura autorizada, seja pelo SUS (Sistema Único de Saúde, em unidade que tenha serviço de ginecologia, obstetrícia e/ou maternidade), pelo plano de saúde ou no particular, é necessário passar por 60 dias de atendimento multidisciplinar – com ginecologistas e psicólogos, entre outros especialistas – para entender o procedimento, suas consequências e alternativas contraceptivas. Se no final disso tudo a mulher não tiver mudado de ideia e o corpo médico considerar que ela está ok, é dada a autorização e a cirurgia é agendada.

“É papel da equipe médica apresentar todos os lados da laqueadura para a paciente. Estamos falando de uma cirurgia que, como qualquer outra, implica em internação, anestesia, período de recuperação, riscos”, diz Yuri Nehrer, ginecologista e obstetra da Cia da Consulta e ginecologista da Esterilização Cirúrgica Feminina do Hospital Geral de Itapevi (SP).

Ele conta que a vontade da mulher sempre é a palavra final, mas ressalta que os esclarecimentos são necessários principalmente porque a maioria não entende a laqueadura em sua totalidade. Por exemplo: é muito comum as pacientes acharem que se trata de um método anticoncepcional 100% seguro, e isso não é verdade. “O índice de falha é de 0,4%, ou seja, a cada 250 mulheres que tenham feito laqueadura, uma acaba engravidando”, explica.

Essa falha se dá por uma questão física, como esclarece Patricia Bretz, ginecologista da Clínica Mais Vitta e mestre em Bioética: “A laqueadura pode ter uma reversão espontânea por um problema anatômico, quando o lugar que foi ligado abre novamente, assim como pode ocorrer com o homem após a vasectomia.”

O índice de falha é próximo aos do DIU (0,7%) e do implante hormonal subcutâneo (0,5%), o que leva à ponderação a partir da apresentação dos riscos e alternativas nesses 60 dias anteriores à cirurgia. “Se é uma mulher de 35 anos, por exemplo, será que não é melhor ela optar por dois ou três DIUs, com duração de cinco anos cada, até entrar na menopausa? Não precisa operar e ela estará em um nível excelente de segurança”, analisa Yuri.

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Como é feita a laqueadura?

Yuri Nehrer e o também ginecologista e obstetra Ricardo Luba (membro da SBRH – Sociedade Brasileira de Reprodução Humana) explicaram para o MdeMulher como é o procedimento da laqueadura. Vamos lá!

Para entender a laqueadura em si, é importante primeiro saber como é o processo de fecundação do óvulo que resulta em gravidez: uma vez por mês, a mulher libera um óvulo maduro que sobrevive por 12 horas até ser encontrado e fecundado por um espermatozoide; se isso não acontecer, o ciclo menstrual segue seu caminho normal e elimina esse óvulo “não utilizado”.

Pois bem: o encontro do espermatozoide com o óvulo não ocorre no útero, como muitos pensam, mas no terço final de uma das tubas uterinas (popularmente conhecidas como trompas de Falópio). E aqui já dá para explicar a técnica da laqueadura.

A cirurgia consiste em impedir a passagem dos óvulos para o terço final das tubas uterinas. Isso pode ser feito por meio de corte da metade de cada trompa, pela colocação de anéis ou de clipes bloqueadores e também pela sutura ou pela cauterização nessa mesma posição. Nestes casos, a ovulação continua rolando todo mês, mas não se concretiza a fecundação, e existe a possibilidade de reversão. Embora não haja garantia de que a função volte plenamente ao normal, dá para a mulher pensar em engravidar naturalmente depois disso.

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Biomedical illustration of a tubectomy.
(Stocktrek Images/Getty Images)

Em casos mais radicais, é feita a retirada total das tubas uterinas, e daí não existe possibilidade de reversão. Caso a mulher deseje engravidar, terá de recorrer a uma fertilização in vitro.

Tudo isso pode ser feito por laparoscopia (microcâmeras inseridas por cabos de fibra ótica na paciente) via vaginal ou abdominal (neste caso, são feitas incisões no abdome) ou, ainda, via abdominal aberta (com um corte como o de uma cesariana, por exemplo).

A recuperação é de cerca de 7 dias quando a cirurgia é feita por laparoscopia e de 14 dias quando é em abdome aberto.

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Quem não pode fazer laqueadura?

Além dos casos que não se adequem à Lei 9.263/96 – ou seja, mulheres com menos de 25 anos OU que não tenham dois filhos vivos –, há algumas situações em que a mulher não deve se submeter a uma laqueadura. Yuri lista as contraindicações:

– cardiopatias graves (como arritmias);

– doenças crônicas não controladas (hipertensão, diabetes e doenças autoimunes em geral);

– cânceres; e

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– problemas gerais de saúde em tratamento.

A verdade sobre a condição de saúde SEMPRE deve ser contada ao médico, para garantir a segurança do procedimento e da própria vida da mulher. Se for necessário, é melhor adiar a laqueadura a correr o risco de ter complicações graves e até fatais no pós-operatório. “É uma cirurgia para ser feita apenas por quem está muito bem de saúde”, finaliza o ginecologista.

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