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Quem é a cientista que está na dianteira da vacina contra o coronavírus

A professora Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford, lidera a equipe que deu um dos maiores saltos em direção à imunização contra a covid-19

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 abr 2020, 22h08 - Publicado em 30 abr 2020, 18h46
 (Divulgação/CLAUDIA)
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Enquanto o mundo chora as mortes pela covid-19 (no Brasil, elas já passam de 5 mil), é nos laboratórios do Jenner Institute e do Oxford Vaccine Group que a professora de vacinologia  Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, dedica seu tempo. Ela é a coordenadora do grupo de cientistas que está testando uma das mais promissoras vacinas contra o novo coronavírus.

A inglesa chegou à área da saúde quando era jovem. Ela se formou em ciências biológicas pela Universidade de East Anglia, antes de se mudar para a Universidade de Hull, ambas no Reino Unido, para obter seu doutorado. Ela ainda trabalhou no centro de Biologia da Universidade de Leicester por dois anos antes de assumir um cargo na empresa de biotecnologia Delta, onde se aprofundou na fabricação de medicamentos.

Em meados de 1994, se mudou para a Universidade de Oxford e se especializou em vacinologia em 2004, antes de ingressar no Jenner Institute em 2010. Entre 2010 e 2015, também foi Pesquisadora Principal no Programa Oxford Martin de Vacinas, que fazia parte da Oxford Martin School.

O principal interesse de pesquisa de Sarah Gilbert, bem como a sua trajetória, tem muito a ver com os resultados. Ele dedicou anos de estudo ao desenvolvimento e aos testes pré-clínicos de vacinas virais, que incorporam uma proteína patogênica dentro de um vírus seguro. Esse tipo de imunização induz uma resposta das células do sistema imunológico (do tipo T), que pode ser usada contra doenças virais, malária e câncer.

Em uma entrevista à emissora CBS, Sarah disse que se sente segura com os achados atuais. “Pessoalmente, tenho um alto grau de confiança sobre esta vacina, porque é a tecnologia que eu já usei antes”, afirmou. Nos trabalhos anteriores, somados ao conhecimento da equipe de pesquisadores, mora o trunfo dos ingleses. Eles estão na dianteira, porque já haviam desenvolvido a tecnologia em experiências prévias, incluindo aquela que abordou o tipo de coronavírus responsável pela Mers.

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O PROCESSO
Ela decidiu, então, testar a abordagem antiga a partir do código genético sequenciado por pesquisadores de Wuhan, da China. O objetivo era que rendesse ao menos um estudo para publicação.

Foi uma injeção de ânimo quando os cientistas do Instituto Nacional de Saúde de Montana, Rocky Mountain, nos Estados Unidos, viram resultados satisfatórios nos seis macacos rhesus, o animal mais próximo que tinham dos seres humanos, inoculados com doses únicas da vacina de Oxford. Ainda que expostos a grandes quantidades do Sars-CoV-2, eles se mostraram protegidos, mesmo 28 dias depois do teste.

O próximo passo era experimentar em humanos. Até agora, 550 participantes receberam a vacina e outros 550 receberam um placebo. Mais de 320 pessoas vacinadas se mostraram seguras e com uma boa tolerância, embora tenham reportado mudanças transitórias na temperatura do corpo, além de dor de cabeça ou dor no braço.

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Logo mais, em maio, os cientistas de Oxford iniciarão o estudo combinado de Fase II e Fase III, envolvendo outras 5.000 pessoas para comprovar a eficácia e a segurança a partir da comparação entre o número de infecções no grupo controle e o número de infecções no grupo vacinado. A agilidade dependerá dos níveis de transmissão de vírus na comunidade —quanto mais gente infectada, mais rápido conseguirão um número suficiente de participantes, já que não se trabalha infectando pessoas propositalmente.

Se comprovada a eficácia e autorizada pelas agências regulatórias, estima-se que as doses necessárias poderiam ser fabricadas e distribuídas ainda neste ano. “O que podemos fazer é fabricar uma vacina, e é isso que estamos fazendo”, disse Sarah, com serenidade diante do otimismo, a um jornal londrino.

EXCEÇÃO À REGRA
A corrida contra o tempo envolve até a família de Sarah. Ela é mãe de trigêmeos de 21 anos, formados em biomedicina, que se ofereceram para participar do estudo. Não é a primeira vez que vida profissional se mistura às estruturas da família. Em 98, seu  companheiro suspendera a carreira para cuidar dos bebês para que ela pudesse concluir o pós-doutorado, pois as creches eram muito caras. No caminho, muitas revisões na agenda, cenário conhecido das mães, fizeram parte da ordem do dia no laboratório.

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“Uma das coisas boas de ser cientista é que as horas não são fixas, então há flexibilidade para quem tem filhos. Mas também existem os momentos em que surgem compromissos importantes e você precisa fazer sacrifícios”, disse a uma publicação interna da universidade. Nem todas, entretanto, contam com a mesma estrutura.

Não é incomum que mulheres precisem abandonar seus projetos científicos por falta de uma rede de apoio que permita concessões. Uma ilustração recente do contexto é a tendência notada por editores de periódicos acadêmicos, que relataram ao The Lily. Ainda não se pode falar em números exatos, mas semanas após a quarentena em que o mundo mergulhou, eles já notam uma queda considerável no número de artigos científicos submetidos por mulheres. A explicação é clara: cabe a elas, ainda num momento em que todos estão em casa, arcar com as responsabilidades domésticas e das crianças.

Caso fosse a regra, não a exceção, talvez os meandros da história de Sarah fossem outros – e nós estaríamos ainda mais distantes da esperança de uma vacina em meio à pandemia. Uma das mulheres mais importantes do momento atual da ciência exemplifica, a partir de sua própria trajetória, que a questão de gênero pode ser um motor ou um obstáculo na história. Prova de que é óbvio o lugar em que deveríamos estar.

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