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Como pesquisar online sobre doenças e bem-estar com segurança

A tecnologia está mudando a relação entre médicos e pacientes – para o bem e para o mal. Ao usá-la, fique atenta para não colocar seu bem-estar em perigo

Por Cristina Nabuco
Atualizado em 27 mar 2017, 18h03 - Publicado em 27 mar 2017, 18h02
 (GettyImages/Reprodução)
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Quando tem alguma dúvida sobre saúde, a professora de educação física Luamara Martin, 26 anos, do Rio de Janeiro, vai direto para a internet consultar o “Dr. Google”. “Se no laudo de um exame aparece uma palavra esquisita, faço uma pesquisa para saber o que é. Visito uns três sites apontados pelo buscador e, não havendo motivo para preocupação, às vezes nem retorno ao médico.”

Esse comportamento é cada vez mais disseminado: 94% dos que responderam à pesquisa Jornada Digital do Paciente afirmaram procurar informações sobre saúde na internet; quatro em cada cinco respondentes fazem isso antes ou depois de uma consulta médica. Divulgado em dezembro, o levantamento ouviu 3.860 internautas e foi realizado pelo grupo Minha Vida, que desenvolve produtos digitais na área da saúde. Os assuntos mais procurados são alimentação, doenças, sintomas, emagrecimento e tratamentos.

Os aplicativos para celular também têm importante papel nesse cenário. O número de pessoas que fazem uso dessa ferramenta em seus smartphones dobrou em dois anos, passando de 16% em 2013 para 32% em 2015, segundo levantamento da consultoria PwC em 153 países.

Há opções para ajudar na dieta, lembrar-se da vacinação, montar um calendário menstrual e até chamar o médico para atender em domicílio. O Diário da Cefaleia, por exemplo, registra dia, horário, local, intensidade e o que desencadeou a dor de cabeça, informações úteis para o médico fazer o diagnóstico e acompanhar o tratamento. É tão bom que recebeu a chancela da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

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Todo esse acesso à informação é importante, mas é preciso critério para saber como aplicar o que se acha. Com base nas buscas, os pacientes tomam decisões relevantes – 56,5% das mulheres de 35 a 59 anos da classe C (principal foco da pesquisa do grupo Minha Vida) já usaram a internet para diagnosticar uma doença ou condição.

A professora Luamara começou a usar uma série de suplementos: óleo de coco em cápsulas antes das refeições para controlar o peso; beta-alanina depois do treino para acelerar a recuperação muscular; e melatonina quando quer dormir melhor. “Procuro sites confiáveis, assinados por médicos e também artigos científicos no Google Acadêmico. Sempre deu certo”, avisa ela.

O mesmo não pode dizer a publicitária carioca Thaina Martin, 23 anos, que teve uma experiência negativa com uma dieta que conheceu online. “Fui jogadora de vôlei. Comia de tudo porque treinava bastante. Quando entrei na faculdade e parei os treinos, engordei muito, mais de 40 quilos em seis anos.”

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Depois de receber a indicação da avó sobre a dieta Dukan, fez uma pesquisa na internet e resolveu aderir e cortar os carboidratos por conta própria, sem orientação médica. “Nos primeiros três dias, perdi 4 quilos só comendo proteínas; daí, voltei a engordar. Meu organismo não reagiu bem. O excesso de proteínas atacou meu fígado.” Foi quando decidiu procurar uma nutricionista para fazer reeducação alimentar. Começou a comer de forma equilibrada e a praticar musculação diariamente. Em um ano, emagreceu 27 quilos e seus exames voltaram a apresentar resultados normais. “Consultas pela internet podem piorar aquilo que já está ruim. Hoje, só pesquiso online receitas de pratos light”, conta.

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O acesso via buscadores a uma infinidade de páginas, as redes sociais e os aplicativos estão impactando também a relação entre médico e paciente. “Antes a consulta era conduzida apenas pelo especialista. A tecnologia empodera o paciente. Bem informado, ele faz mais perguntas e torna-se protagonista, o que melhora a interação e traz eficiência para o tratamento”, defende a clínica geral e cardiologista Juliana Soares, uma das coordenadoras da parceria entre o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e o Google para disseminar informações médicas de qualidade (veja abaixo quadro “Qualidade testada”).

Ao saber como certas doenças evoluem, leigos podem identificar sinais de alerta, agilizar a busca de auxílio médico quando necessário, participar mais das decisões relativas a tratamentos e estimular o médico a se manter atualizado, pontua a médica Helena Garbin, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, que defendeu tese de doutorado sobre o tema.

Físico e especialista em tecnologia da informação, Adriano Mauro Cansian, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de São José do Rio Preto, destaca outros benefícios desse novo comportamento dos pacientes: ficar atento a sintomas que devem ser relatados ao médico, conhecer tratamentos que estão em fase de pesquisa e outros profissionais familiarizados com o quadro e, sobretudo, compartilhar experiências em grupos de pacientes que têm o mesmo problema, inclusive de outras partes do mundo – desde que se tenha consciência de que cada organismo responde de um jeito –, o que abranda a sensação de solidão, comum a vítimas de doenças raras.

O lado sombrio

Satisfeitas com esse tipo de suporte, as pessoas nem sempre atentam para os perigos à espreita. Informações dos usuários de aplicativos têm sido vazadas para anunciantes e outras bases de dados sem o devido consentimento, revelou um estudo publicado no ano passado na Jama, revista da Associação Americana de Medicina: 81% dos 211 aplicativos analisados não tinham políticas de privacidade definidas. Outro risco, tão ou mais grave, é assumir como confiável algo que não tem fonte segura.

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“A internet deu voz a milhões de pessoas que se tornaram especialistas em tudo, inclusive em saúde. Há legiões falando bobagens sobre coisas que não entendem. Isso é assustador”, pontua o professor Cansian. Junte-se outro complicador: ��Em geral, os internautas consultam só as primeiras páginas indicadas pelos buscadores, sem se preocupar em conferir a fonte ou checar a veracidade do que compartilham. E mais: leem algumas linhas e acham que é suficiente.

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O resultado é uma informação superficial e truncada, que jamais poderia ser utilizada para tomar decisões importantes”, alerta a advogada Adriana Cansian, especialista em direito digital.

O gastroenterologista Lavínio Camarim, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, é contundente: “Nada substitui a consulta médica presencial”.

Navegar por sites que divulgam informações equivocadas, enganosas ou sem comprovação científica é uma ameaça real à saúde. “Buscar esclarecimentos é positivo. Mas tirar conclusões precipitadas, fazer o diagnóstico por conta própria e se automedicar, não. Pode haver consequências graves. Por exemplo, anti-inflamatórios vendidos sem prescrição são causa comum de úlcera e insuficiência renal”, alerta ele.

Fora isso, as informações disponíveis podem gerar ansiedade e pessimismo e, às vezes, até prejudicar a recuperação do doente. Em estudo divulgado em 2015, cientistas da Universidade de Tecnologia Queensland, na Austrália, concluíram que as buscas tendem a conduzir a uma visão fatalista: o sujeito começa pesquisando dor de cabeça e termina achando que tem um tumor no cérebro.

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Isso pode alimentar a hipocondria – em tempos digitais chamada de cibercondria: por acreditar que tem algo muito grave e pode morrer, a pessoa tenta induzir o médico a diagnosticar e tratar aquela suposta enfermidade.

“Depois de 20 minutos escavando sites e fóruns de saúde, é grande a probabilidade de você sair sobrecarregado e confuso com termos médicos e estatísticas”, alerta o professor Cansian, que viveu essa situação.

Há dez anos, ele e a esposa tiveram uma filha com síndrome de Down. Nenhum exame pré-natal acusara o problema. “Eu não sabia nada do assunto. Comecei a vasculhar o Google… Li que ela não ia ouvir nem enxergar direito, demoraria a andar, teria baixa imunidade, problemas cardíacos e na tiroide. Ficamos desesperados! Um pediatra experiente nos acalmou. Investigaríamos uma coisa por vez. Saímos de lá decididos a seguir o protocolo clínico e esquecer o que vi na internet. Fomos nos cercando dos melhores profissionais e ela se desenvolveu de forma excelente. Nenhuma das previsões catastróficas se confirmou. Eu e minha esposa nunca mais consultamos a internet para assuntos médicos.”

Em um sistema de saúde perfeito, o paciente levaria o que encontrou nas pesquisas, o especialista avaliaria à luz de seus conhecimentos e, depois de discutirem o assunto, as decisões seriam compartilhadas.

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“O médico poderia orientar a busca de informações de seu paciente”, sugeriu a médica Helena Garbin à edição de dezembro da revista da universidade. “Mas como é possível realizar essas tarefas, além das atividades clássicas de uma consulta médica, num mundo imperfeito de consultas de dez ou 15 minutos e fila na porta?”

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Qualidade atestada

Uma parceria entre o Google e o Hospital Israelita Albert Einstein está disponibilizando informações médicas na rede desde março do ano passado. Ao procurar o nome de uma doença no buscador, no resultado aparece um quadro informativo, preparado pela equipe do hospital, que descreve a enfermidade, sintomas, prevalência e orienta sobre a necessidade de procurar tratamento.

A constatação de que a maioria das buscas é por sintomas (garganta inflamada, dor de cabeça, dor nas costas, tontura, etc.), não por doenças, inspirou a segunda fase do projeto, iniciada em fevereiro. A tela exibe um quadro com as causas mais comuns e esclarece sobre providências a tomar.

Também foram criados painéis sobre métodos contraceptivos. Os quadros com sintomas por enquanto só podem ser acessados pelos dispositivos móveis. Já os que se referem a doenças e contraceptivos também são visualizados no desktop.


Busque com cuidado

Dicas para fazer uma pesquisa virtual o mais confiável possível

  1. Verifique quem escreve o texto e quem hospeda a página visitada. Cheque se o autor tem experiência no assunto. Desconfie de páginas não assinadas ou blogs mantidos por curiosos.
  2. Dê preferência a fontes confiáveis, como instituições públicas, universidades, sociedades médicas, hospitais e profissionais reconhecidos.
  3. Suspeite quando o site não identifica claramente o que é publicidade ou induz ao uso de remédios ou tratamentos específicos.
    Fuja de endereços que promovem consultas online, o que não é permitido pelo Conselho Federal de Medicina. Só se admitem orientações por telefone ou mensagem de texto em casos de extrema necessidade.
  4. Use a pesquisa para ampliar conhecimentos, jamais para diagnosticar doenças e iniciar tratamentos por conta própria. Para saber se a mensagem que circula pelas redes sociais merece crédito, procure aquele assunto e do lado escreva boato.
  5. Antes de instalar um aplicativo de saúde, leia comentários dos usuários.
  6. Confronte as informações com um profissional de saúde de sua confiança.
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