Obesos apontam o estresse, o trabalho e fator hereditário como causas da obesidade
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Uma pesquisa realizada em cinco capitais brasileiras mostrou que a maior parte das pessoas obesas e com sobrepeso sabe quais são os tratamentos eficazes para emagrecer, mas não consegue aderir a nenhum deles no longo prazo. Os tratamentos mais citadas foram os exercícios físicos (70%) e as dietas (56%), mas foram realizados somente num prazo curto, em média, 11 meses.
Para o endocrinologista Mário Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), as pessoas partem para situações radicais, como dietas muito restritivas, e se cansam muito rapidamente. Por isso, desistem e engordam de novo. A forma mais duradoura de emagrecer, segundo ele, é com tratamento lento e contínuo. A psicóloga Marilice Rubbo Carvalho acrescenta que o mais difícil na obesidade é a dificuldade de encontrar prazer. Quando o obeso entra numa dieta restritiva, ele perde uma das poucas coisas que lhe dá prazer.
A pesquisa também mostrou que 48% dos entrevistados têm outro problema de saúde, como hipertensão (60%), colesterol alto (33,4%) e diabetes (21,1%). Contudo, 55% acreditam que a obesidade é consequência de outras doenças, e não o contrário.
A obesidade é uma doença crônica que tem um componente degenerativo metabólico e psíquico e proporciona o aparecimento de outras doenças crônicas, explica o Dr. Carra. Altos níveis de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol e pré-diabetes são algumas das condições relacionadas à obesidade, assim como a maior chance de sofrer doenças cardiovasculares, principalmente infarto, trombose, embolia e arteriosclerose, problemas ortopédicos, asma, apneia do sono e alguns tipos de câncer.
Outro dado da pesquisa mostra que os obesos têm problemas com a própria aparência, já que, dos entrevistados, mais da metade afirmou ter desejo de emagrecer para melhorar a autoestima e por razões estéticas. A proporção é maior entre as mulheres enquanto 57,7% delas citam a autoestima e 53,6%, a estética, entre os homens as porcentagens são 48% e 37,8%, respectivamente.
Fator hereditário
Quando perguntadas sobre as razões que as levaram a engordar, 36% das pessoas citaram o estresse e 25%, o trabalho. Dentre as mulheres, a gravidez foi mencionada por 32%. Um dado de destaque foi a importância que os entrevistados atribuíram ao fator hereditário. Dos 49,9% dos entrevistados que afirmaram ter um parente obeso, 38,5% afirmaram que esse parente é a mãe. O Dr. Carra concorda que a hereditariedade seja um fator relevante. Existem dois tipos de obesidade: a monogênica, quando o padrão não se repete na família, e a poligênica, quando há casos na família. Frequentemente, o indivíduo gordo tem carga genética para isso, afirma.
Porém, se uma família tem vários membros obesos não significa necessariamente que exista um fator genético envolvido. O problema pode ser a existência de um ambiente de convivência obeso, no qual a família toda cultiva hábitos alimentares desequilibrados, com pratos muito calóricos. Nossas famílias são uma mescla de populações da Europa, onde a temperatura é muito mais baixa do que aqui. Essas populações trouxeram de lá os costumes, incluindo os hábitos alimentares, que não são adequados para um país tropical, diz o endocrinologista Fadlo Fraige, presidente da Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad).
A proporção de pessoas com sobrepeso e obesos na população brasileira aumentou nos últimos anos, de acordo com levantamento realizado pelo Ministério da Saúde. Em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam acima do peso ideal. Seis anos depois, em 2012, os números passaram para 52,6%, entre os homens, e 44,7% entre as mulheres.
São considerados com sobrepeso os indivíduos cujo IMC (Índice de Massa Corpórea = peso, em quilogramas, dividido pela altura, em metros, ao quadrado) está entre 26 e 29. Os obesos têm IMC acima de 30.
A pesquisa foi encomendada pela Abeso, pela Anad e pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed), em parceria com a farmacêutica Allergan.