Esta nova moda que viralizou no TikTok é perigosa
Com objetivo puramente estético, prática de lixar os dentes pode causar danos irreversíveis, alertam dentistas
O TikTok é o maior berço virtual de modismos que temos atualmente. É de lá que saem a maioria dos desafios que logo tomam conta das outras redes sociais, reproduzidos de modo exaustivo até que outro venha e tome seu lugar. Mas no meio de dancinhas e dublagens inofensivas, algumas tendências nascidas na plataforma podem esconder perigos.
Recentemente, vídeos de pessoas usando lixas de unhas para limar os próprios dentes e, supostamente, uniformizá-los, se tornaram virais no aplicativo, levando dentistas a se manifestarem sobre os riscos e danos irreversíveis que a prática pode causar. “Tudo que existe na natureza possui uma razão de ser e com nossos dentes não é diferente. Eles possuem formatos e funções específicas”, diz Eduardo Saltori, odontopediatra e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
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Os caninos, por exemplo, além de triturar alimentos, sevem para proteger os outros dentes. Ao lixar suas pontas para que eles fiquem do mesmo tamanho dos outros dentes, a pessoa estará “interferindo nos movimentos de mastigação e articulação, o que, a médio prazo, pode levá-la a sofrer com dores de cabeça”, exemplifica o professor.
Edmilson Pelarigo, diretor clínico da OrthoDontic, aponta também a questão da sensibilidade. “Existe um limite de desgaste do esmalte dentário sem que isso implique em danos na superfície e sensibilidade dos dentes. Mas, a depender do nível do lixamento, esse desgaste começa a alcançar estruturas mais profundas, tornando os dentes mais sensíveis.”
Além disso, questionam os especialistas, de onde vem o conhecimento para determinar por conta própria qual dente deve ser limado e o quanto e como limá-lo? “Qualquer tipo de intervenção bucal deve ser orientada por um profissional para que não cause nenhum dano, seja estético ou na saúde. Se, esteticamente, a pessoa não está satisfeita, existe a área de estética odontológica”, continua Edmilson.
Já Eduardo chama atenção para um possível problema secundário da tendência criada pelos tiktokers. “Extrapolando um pouco, vamos imaginar que uma criança pegue uma lixa de unha que não sabe a procedência, se está contaminada ou não. Quantos tipos de microrganismos podem existir nessa lixa? E ela estará levando isso para dentro da boca!”
Em caso de arrependimento, é possível apenas minimizar os danos. Se o paciente estiver sofrendo de sensibilidade, Edmilson explica que pode se usar resina para substituir o que foi desgastado. Porém, a depender da profundidade do desgaste e da estrutura atingida, pode ser necessário fazer um tratamento de canal antes.
“O dente é um órgão do nosso corpo, e como todo órgão, ele deve ser preservado”, afirma Eduardo. “Para retirar uma parte do corpo é preciso ter um motivo, como uma doença. Mas tirar porque é moda? É muito provável que a pessoa se arrependa depois e não terá mais o que fazer. No máximo, uma restauração, uma prótese. E aí, além da questão dos custos, nunca mais será como o próprio dente.”