Entre em forma e fique longe do consultório médico

Nesta terça-feira, Marcio Atalla, professor de Educação Física com mestrado em nutrição, lança em São Paulo o projeto Vida de Saúde. A ideia é contagiar toda uma cidade – Jaguariúna, no interior do estado – com a proposta de sair do sedentarismo e manter, assim, a saúde em dia. Ao longo de oito meses, os habitantes vão fazer parte de uma verdadeira imersão que incluirá não só exames laboratoriais, caminhadas coletivas e palestras, mas um cronograma individual de atividades. Com o auxílio de um aplicativo, os moradores, incluindo as crianças, vão definir suas próprias metas para sair do sedentarismo – a pessoa pode escolher subir dezenas de andares de escada por dia ou dançar, por exemplo. Esse é o coração do projeto de Atalla: disseminar a ideia de que entrar em forma não precisa ser sinônimo de malhar na academia nem de entrar na neura da barriga tanquinho, mas é garantia de baixar o colesterol, ficar longe da depressão, de problemas cardíacos… “Uma boa alimentação é importante, mas a melhor e mais barata medicina preventiva que existe no mundo é se mexer”, explicou Atalla para CLAUDIA. Na entrevista a seguir, ele incentiva a entrar no clima e sugere mudanças simples no estilo de vida para melhorar a saúde:

Pequenos ajustes na rotina podem mesmo ser úteis para entrar em forma?
Com certeza. No final dos anos 80, o brasileiro tinha um estilo de vida que incluía mais atividade física e dava dez mil passos por dia. Hoje, subindo menos escada, usando o controle remoto e passando muito tempo no computador ou celular, a média nacional são 2200 passos por dia. Não à toa, cada vez mais pessoas estão acima do peso. Isso aqui e no mundo. Por isso, é urgente mudar os hábitos e se mexer mais. Em vários países, o governo está percebendo que se mexer é a medicina preventiva mais barata que existe.

Que boas experiências você tem visto?
Nos Estados Unidos, há escritórios cujas mesas dos funcionários são altas e sem cadeiras. Isso porque se você substituir duas horas do seu dia sentado pela posição em pé, mesmo parado, vai diminuir as chances de pressão alta, diabetes, problemas cardíacos… No Japão, vi a iniciativa de estimular os funcionários das empresas a usar as escadas, a dar 10 mil passos por dia. Tem plano de saúde nos Estados Unidos que dá desconto se você se movimentar mais. Porque é comprovado: fazer atividade física é cuidar da saúde, é diminuir radicalmente as chances de ter até mesmo problemas hereditários como colesterol alto “de família”. Se você procurar cinco especialistas das doenças que mais matam atualmente, doenças cardíacas, diabetes, câncer, depressão/ansiedade… Todos vão te dizer como é importante fazer atividade física.

Com tantos benefícios comprovados, por que tantas pessoas ainda são sedentárias?
Quanto tempo você passa no escritório? O tempo diário de inatividade é muito alto. Além disso, o ser humano é, por natureza, poupador de energia. Você pode pegar o maior atleta que você conhece: se ele for ao shopping, vai parar na vaga mais próxima. Se só achar uma vaga distante, vai ficar triste. O ser humano sempre vai buscar uma situação de menor esforço, só vai procurar o movimento quando não tiver opção ou quando sair do automático e refletir sobre os benefícios. A ideia do projeto é tirar as pessoas do automático. É uma decisão racional se movimentar mais. Claro que, quando a atividade já faz parte do seu estilo de vida e você colhe os benefícios, haverá fatores fisiológicos e emocionais que vão te levar a continuar fazendo aquilo.

Que sugestões você dá para entrar em forma sem ir à academia?
Primeiro, dê uma olhada no seu ambiente. Tem uma praça ou parque em frente ao prédio onde mora? Esse prédio tem muitos degraus de escada? Ou será melhor subir e descer escadas na empresa onde você trabalha? Quebrar períodos de inatividade no escritório, aliás, é uma ótima medida. A cada hora, você pode sair da sua mesa e subir e descer três andares. Só isso vai aumentar seu gasto calórico em 15 ou 20%. Mas, para funcionar, precisa ser um hábito.

Um hábito diário?
Pode ser cinco vezes por semana. Mas cinco vezes por semana, e não “quando dá”. Tente isto: meia hora por dia, cinco vezes por semana. É a regularidade que faz a diferença. Quando o Medida Certa, no Fantástico, atuou em um condomínio, conheci uma mulher que entrou em forma subindo e descendo escadas. Na primeira vez que subiu 12 andares, ela pensou que ia morrer (risos). Então passou a subir 60 andares todo dia, depois 120. Parece muito, e no começo ela subia devagar, mas depois, subindo de dois em dois degraus e com mais fôlego, ela passou a fazer isso cinco vezes por dia, cada vez de cinco minutos. Não é tanto, é?

Quais serão os benefícios dessa meia hora diária, cinco vezes por semana?
Conheci uma mulher que perdeu nove quilos só usando as escadas. As diferenças são individuais, mas em duas semanas você vai perceber uma facilidade absurda para executar as tarefas. Em três meses, vai sentir a calça folgada e perceber ganho de massa muscular. Prefere caminhada, ou mesmo academia? Ou dançar em casa em vez de comer em frente à TV? Não tem problema, você escolhe.

Como incluir as crianças nessa rotina?   
Criança precisa brincar. Antigamente, brincadeira era ir para a rua, tocar campainha no vizinho, jogar futebol. Hoje é ficar no tablet, no videogame. Não pode ocupar os momentos de lazer só com isso: tem que incentivar a brincar, correr, praticar esporte. É muito mais fácil se elas virem os pais fazendo isso, porque irão querer imitá-los. É muito melhor para todos se for um projeto em família.

E quanto às mudanças na alimentação?
O corpo em movimento é o principal. Mas mudanças simples na alimentação vão ajudar. Não precisa cortar glúten nem nenhum alimento. Pense assim: vou deixar 70% da minha alimentação diária com alimentos in natura: leite, ovos, frutas, salada, feijão, arroz, carne… Comer comida de vó, sabe? Só essa medida já vai fazer diferença.

O que você gostaria que todo mundo soubesse sobre vida saudável?
Que dá para entrar em forma sem ir à academia e que nós somos muito mais responsáveis pela nossa saúde do qualquer coisa: estudos mostram que a genética representa no máximo 15% da nossa saúde. O resto, ou seja, 85%, está nas mãos nas escolhas que a gente faz.