Na última sexta-feira (17), a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca. Desde então, muito se falou sobre o escândalo de liberação de licenças e fiscalizações irregulares de funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aos frigoríficos.
A operação repercutiu no mercado financeiro e nas relações comerciais do Brasil com parceiros tradicionais da carne nacional. Outro ponto que ficou abalado, foi a confiança do mercado consumidor interno brasileiro com o produto.
Muitas pessoas ficaram inseguras de continuar consumindo carne no país, principalmente motivadas por interpretações equivocadas sobre o processo – como a hipótese de ter ocorrido a mistura de papelão às carnes. “É impossível picar papelão e misturar numa salsicha. Eles simplesmente se misturam”, esclarece Roberto Roça, professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp e especialista em Tecnologia de Produtos de Origem Animal, com ênfase em Tecnologia de Carnes.
Para esclarecer essa e outras questões e, assim, você comprar carne sem ter medo de se contaminar, CLAUDIA conversou com especialistas. Veja:
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Posso continuar consumindo carne brasileira?
De acordo com os especialistas ouvidos por CLAUDIA, não há porque sentir medo de consumir carne brasileira.
“A Carne Fraca envolve frigoríficos pontuais. A cadeia produtiva de carne no Brasil é forte e rigorosa. O consumidor pode, sim, confiar nas informações dos rótulos”, diz Fabio. “O problema, aparentemente, não é generalizado no Brasil. É seguro comer carne no país, ainda. É importante procurar carnes inspecionadas“, defende.
É melhor optar por carne fresca de açougues ao invés de embalada do supermercado?
“Mesmo no açougue, é importante que se consuma carne inspecionada. Carne clandestina ou carne sem a supervisão de um veterinário pode veicular diversos microorganismos e doenças”, diz Fabio.
“Caso opte por carne de açougue, o consumidor deve pedir que o corte da carne seja feito na hora ou dar preferência a embalagem à vácuo. Porque é difícil saber quando a carne foi embalada. Supermercados grandes tem técnicos que fazem vistorias constantes de suas geladeiras. Já os pequenos não têm uma equipe grande para isso”, explica Roberto.
Apesar de ser a ideal, a embalagem à vácuo pode oferecer riscos à população caso sejam identificadas bolhas de ar no pacote. “A carne deve estar aderida a embalagem, sem nenhum furo.” Além disso, o tipo à vácuo pode alterar a cor da carne. A alteração acontece devido à ausência do oxigênio do ar. Mas assim que você retira a carne da embalagem, volta a ficar vermelho vivo”, explica Roberto.
Existe algum selo que garante a qualidade?
A inspeção das carnes acontece em nível federal, estadual e municipal. Após ser aprovado, o lote da mercadoria recebe um selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), e dos serviços de inspeção de cada estado e município brasileiro.
São esses selos que indicam se o produto pode ser comercializado no país inteiro – e também exportado. Caso ele tenha apenas selos de aprovação em nível estadual e municipal, a venda da carne fica restrita aos estados e municípios em que ela está autorizada. Este selo também aparece nos rótulos das embalagens de carnes vendidas em supermercados.
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Toda carne das marcas envolvidas na operação é de má qualidade?
A operação montada pela PF mostrou irregularidades que permitiram a entrega de produtos adulterados e com suas reais propriedades físicas mascaradas aos consumidores.
O esquema envolveu 21 frigoríficos pertencentes a grupos importantes do setor, como BRF e JBS. Três deles foram interditados – BRF de Mineiros (MG) e unidades da Peccin Agro Industrial em Curitiba (PR) e Jaraguá do SUl (SC) e cinco tiveram sua licença suspensa, informaram a associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Ou seja, os produtos desses locais não estão mais em circulação.
Apesar das interdições e suspensões, não há recomendação por parte do governo para que nenhuma marca deixe de ser consumida pela população.
Posso pegar doenças consumindo carne brasileira?
De acordo com a PF, os frigoríficos utilizavam níveis acima do permitido de aditivos como o ácido ascórbico – também conhecido como vitamina C, que aumenta a intensidade da cor vermelha na carne . Segundo especialistas, a substância em si não traz risco à saúde. “Se a carne estiver com muita adição de conservantes ou aditivos, ela desencadeia uma desinteria ou gastrenterite em quem o consumiu”, explica Teresa de Ávila Ribeiro de Figueiredo, técnica do Laboratório de Bromatologia da Unifesp.
“O problema acontece quando eles são utilizados com a intenção de mascarar uma contaminação, uma carne antiga ou podre” – que foi o que aconteceu com os produtos suspensos –, disse Fabio Possebon, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia na Unesp e especialista em inspeção de produtos de origem animal e vegetal.
Além disso, precauções indicadas pelos especialistas ajudam a evitar a compra de carnes contaminadas. Porém, eles salientam que há agentes patogênicos que podem passar despercebidos de uma avaliação visual. É o caso da salmonella. Vale salientar, no entanto, que esse risco sempre existiu e existe no mundo inteiro.
De acordo com Fábio, uma carne que não está estragada ou com aspecto adulterado – cheirando podre – pode abrigar um microorganismo patogênico que vá fazer mal a quem ingeri-la. “A salmonella não é um patógeno que não estraga a carne, mas vai fazer mal a quem consumir.”
Para evitar a contaminação, é preciso que as carnes estejam armazenadas nas condições indicadas pelos órgãos de fiscalização. Por isso, é preciso que o consumidor tenha consciência da condições de armazenamento dos locais onde compra o alimento. Além disso, a carne crua precisa ser devidamente higienizada antes do preparo e deve-se evitar o consumo de peças cruas ou má cozidas.
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