Câncer de mama metastático: novos tratamentos transformam a jornada das pacientes
Terapias mais modernas vêm contribuindo para que elas possam realizar mais sonhos, viver com mais qualidade e criar memórias significativas

Houve uma época em que receber um diagnóstico de câncer de mama era o mesmo que receber uma sentença de morte. Metastático, então, era ainda pior. Mas, o avanço da medicina oncológica tem permitido um cenário bem diferente. Um cenário no qual o presente e o futuro das pacientes são mais promissores, em diferentes aspectos. Mais qualidade de vida e tempo de sobrevida, menos efeitos colaterais e outras vantagens contribuem para que essas mulheres realizem mais sonhos e vivam com mais qualidade.
Mas, o que mudou? Muitas coisas, segundo o oncologista Antônio Carlos Buzaid. “O câncer de mama é o tipo de câncer sobre o qual existe maior quantidade de informações científicas, que têm nos levado a respostas satisfatórias para grande parte das perguntas. Felizmente, muitas das mulheres com câncer localizado e que sem tratamento preventivo estavam destinadas a desenvolver a doença, podem agora ser curadas por tratamentos atualmente disponíveis. Por fim, mesmo nos casos incuráveis, importantes avanços foram feitos nos últimos anos, propiciando mais tempo e melhor qualidade de vida”.
O câncer de mama metastático e o avanço nos tratamentos
O oncologista explica que o câncer de mama nasce no órgão, mas, dependendo das suas características, como grau, tamanho e receptores, há o risco de se espalhar pelo corpo através dos canais linfáticos e do sangue.
“Quando isso acontece, ele recebe o nome de câncer de mama metastático. Na maioria dos casos, quando a mulher vai ao médico e descobre a doença, ela está localizada. Porém, caso algumas células tenham saído daquela área, anos depois poderão aparecer nos ossos, fígado, pulmão ou cérebro, caracterizando a metástase”, explica o médico, destacando que a porcentagem de câncer de mama metastático no momento do diagnóstico é pequena.
Mas, para muitos dos tipos de câncer de mama, como os Luminais, Triplo-negativos ou HER-2 positivos, sejam eles metastáticos ou não, há opções de tratamentos que permitem viver mais e melhor. “O médico irá avaliar os mais adequados para cada caso específico. A partir daí é importante apresentar as possibilidades para a paciente e discutir em conjunto qual a melhor conduta a seguir”. Entre elas estão:
– Cirurgias: indicada para remover os tumores na mama;
– Quimioterapia: remédios que atacam preferencialmente a célula cancerosa, mas que atingem, também, as normais. Por isso, causa mais efeitos colaterais.
– Radioterapia: tratamento localizado, no qual a radiação atinge as células cancerígenas e, em parte, as células normais – que têm maior capacidade de regeneração do dano causado pela radiação do que as tumorais.
– Hormonioterapia: apesar do nome sugerir um tratamento realizado com hormônios, em geral é realizado um bloqueio da via hormonal, levando à morte da célula cancerosa. Ou seja, trata-se da utilização de anti-hormônios para controlar o câncer por um longo período. “A maioria dos cânceres de mama tem receptores para estrógeno (chamado de tumores luminais) e precisam do estrógeno para sobreviver. Quando você reduz o estrógeno no sangue da paciente ou bloqueia sua ligação ao receptor que fica na célula cancerosa, ela morre”, explica o médico.
– Imunoterapia: estimula o sistema imunológico para que suas células reconheçam e combatam as células tumorais.
– Terapia alvo: também conhecida como terapia direcionada, é o uso de drogas ou outras substâncias para identificar e atacar especificamente as células cancerígenas, provocando menos danos às células normais.
– Anticorpos conjugados a drogas (ACDs): representam uma estratégia de vetorização da quimioterapia, ou seja, eles direcionam o medicamento para atacar o “bandido”. Combinam uma terapia alvo com quimioterapia ao mesmo tempo. “A intenção é reduzir os efeitos colaterais e aumentar a eficácia do tratamento”, conta Buzaid.
Eternizando momentos
As novas tecnologias estão transformando o tratamento do câncer de mama metastático, tornando a jornada mais tranquila e com novas possibilidades. Atualmente é possível ter uma vida com mais planos e intensidade, criando memórias inesquecíveis ao lado de famílias e amigos.
É o caso, por exemplo, da nutricionista Cristiane Siniscalchi, que recebeu o diagnóstico quando completava 50 anos. Casada há 26 anos, mãe de 2 adolescentes e no auge da carreira, ela descobriu a doença de forma inesperada. “Em dezembro de 2017 procurei meu ginecologista com uma dor na virilha e muito cansaço, mas imaginava serem provocados por um pelo encravado e excesso de trabalho. Eu havia realizado meu check-up em abril daquele ano, mas mesmo assim o médico decidiu repetir os exames. Durante a mamografia já houve uma suspeita de nódulo na mama esquerda”. Cristiane conta que no dia em que retornou ao médico estava acompanhada do filho e estava feliz, pois iriam almoçar juntos. Mas a notícia do câncer veio e pareceu uma sentença de morte. “Milhões de fichas caíram, principalmente em relação aos meus filhos, o tempo que passou e o futuro deles. Foi muito triste, eu não parava de chorar. Já saí dali com consulta agendada com oncologista, pedidos de exames pré-operatórios, data de cirurgia. Mas, antes fui almoçar com meu filho. Parece que a partir daquela etapa eu comecei a valorizar os momentos”, diz. “No caminho, liguei para o meu marido e dei a notícia, ele chorou discretamente, mas me deu força, disse que íamos tirar de letra. E assim, com medo, muitas orações e vibrações positivas, passamos pelo furacão. Minha família e meus amigos deram muita força, me agarrei na fé e aos poucos fui tomando mais consciência da situação. Minha rotina mudou completamente, eram consultas, exames, tratamentos, efeitos da químio e da radioterapia. Passei a respeitar o que o meu corpo suportava, a priorizar a minha saúde e as minhas necessidades e a colocar limites”.
Aos poucos, ela foi se adaptando à “nova vida”. Em 2018 recebeu o diagnóstico de câncer de mama metastático e segue em frente. “Alguns dias estou lá em cima, ativa, otimista, cheia de vida, mais presente com família e amigos, muitos planos, viagens, registrando os bons momentos em fotos e em lembranças guardadas para sempre na memória. Porém, quando menos espero, preciso lidar novamente com a doença, enfrentar o medo e a angústia. Manter o equilíbrio requer muita resiliência, paciência e fé, sem dúvida não seria possível sem o apoio do marido, filhos, pai e mãe. Por eles, me mantenho forte para continuar enfrentando tantos desafios. Minhas memórias com eles, curtindo momentos alegres e comemorando a vida, me alimentam”, conta.
Para criar boas lembranças
Hoje uma grande advocate da criação de memórias, Cristiane dá algumas dicas para quem quer viver e eternizar os bons momentos:
- Registre-os em fotos ou vídeos, da forma que for possível. “Das ocasiões mais simples, como um café com uma amiga, um passeio na cidade com os filhos, até as comemorações de datas aniversário ou Natal em família. Todos os momentos têm seu valor”.
- Escreva um diário, contando como se sente. Se está feliz, triste, preocupada, não importa. Ao reler esse conteúdo você perceberá o quanto é forte e como já superou desafios enormes.
- Faça o pote da gratidão e escreva, a cada dia, as razões pelas quais é grata. Sempre há algo a agradecer.
- Organize um caderno de planos para o próximo ano, com metas para atingir a cada mês. “Eu sempre incluo viagens, que me enchem de motivação”, conta Cristiane.
- Quando estiver se sentindo bem, programe eventos para reunir a família. “Eu chamo essas ocasiões de Laços de Família. Me sinto renovada, fortalecida para enfrentar os desafios que estão por vir”.