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Visibilidade Trans: SP é o estado que mais mata transexuais no Brasil

Dossiê lançado nesta quarta (29) aponta que houve um aumento de 66,7% do número de casos na capital paulista em relação a 2018.

Por Colaboraram: Gabriela Maraccini e Gabriela Teixeira
Atualizado em 29 jan 2020, 18h11 - Publicado em 29 jan 2020, 17h45
 (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
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Um dossiê lançado nesta quarta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, aponta que 124 pessoas transexuais foram assassinadas no Brasil no ano passado. A pesquisa intitulada “Assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019” foi feita pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), em parceria com o IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação) e mostra que São Paulo é o estado com o maior índice de mortes motivadas por transfobia.

Monitorando notícias relatadas na mídia e alertas recebidos sobre casos que não chegaram a ser reportados nos veículos, a Antra produziu o “Mapa de assassinato de pessoas trans”, alimentado e disponível online ao longo de todo o ano. “Em novembro, tiramos o mapa do ar para comparar as informações que temos, buscar dados complementares para certificar as mortes reportadas e, a partir daí, contabilizar os assassinatos dentro dos nossos estudos”, explica Keila Simpson Sousa, presidente da associação.

São Paulo lidera o ranking com 21 casos; um aumento de 66,7% em 2019. Em seguida está o Ceará, com 11 vítimas, seguido por Bahia e Pernambuco, com 8 cada um. Por outro lado, o Rio de Janeiro, que em 2018 ocupava o primeiro lugar, reduziu o número de vítimas para 7, empatando com Rio Grande do Sul e Paraná.

De modo geral, o número de assassinatos de transexuais no Brasil apresentou uma queda em relação a 2018, quando foram registradas 163 mortes. No entanto, para Keila, a redução não pode ser vista como algo positivo. “A queda não é positiva porque não é real. Ela nos coloca em alerta, porque também temos que levar em conta a grande sub notificação que existe, dada a dimensão do Brasil, e que temos observado todos os anos. Não comemoramos e não achamos que é algo positivo porque só será bom quando não tiver mais assassinatos. Enquanto houve mortes, para nós será um dado negativo“, afirma.

Já em São Paulo, o aumento no número de transexuais mortas, na opinião de Keila, está mais ligada ao crescimento de discursos agressivos, endossados inclusive pelo governo, do que a melhor reportação dos casos. “Por exemplo, um deputado na Assembleia Legislativa falou que ia arrancar uma travesti a tapas do banheiro, para ela não encontrar com outras mulheres. Isso é uma violência tremenda”, diz. “E São Paulo, como a maior cidade do país e como o estado que mais tem pessoas trans, obviamente vai ter um apontamento maior. E esses dados tendem a crescer pela falta de ações efetivas e de políticas que vão trabalhar diretamente para erradicar de vez essa violência”, finaliza. 

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Mulheres trans são as maiores vítimas

Do total de assassinatos de pessoas transexuais, as mulheres são maioria absoluta, totalizando 97,7% dos casos. Para Bruna Benevides, uma das organizadoras do dossiê e sargenta da Marinha do Brasil, o que explica essa disparidade é a questão de gênero. “Em 2019, vimos aumentar o número de feminicídios. O Brasil, que era o 5º em casos de feminicídio, muito provavelmente vai estar subindo posições nesse ranking exatamente por conta dessa agenda anti-gênero”, explica ela, se referindo a perseguição de programas que visam enfrentar a violência de gênero. “Portanto, as pessoas trans que reivindicam e expressam o gênero feminino acabam também sendo diretamente alvos desta violência.”

Por outro lado, os homens trans, ainda que passem por um processo de invisibilização, estão, de certa forma, em um lugar menos vulnerável em relação a todas as demais mulheres. “Eles são homens e sabemos que a estrutura patriarcal é pensada para os homens, inclusive o acesso às políticas públicas”, opina Bruna.

Luta contra transfobia

Por outro lado, em 2018 houve grande aumento no número de candidaturas LGBT+, tendo um aumento de cerca de 386% em relação a 2016. Na opinião de Bruna, a maior presença de representantes dessa parcela da população nos cargos públicos ajuda no fortalecimento da luta contra homofobia e transfobia. 

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“Estamos nos reorganizando e intensificando campanhas de empoderamento para que possamos disputar os espaços de poder”, afirma. “Tentamos cercar por todos os lados, porque precisamos fazer uma ruptura muito forte frente a essa estrutura que está posta para nos excluir. Precisamos impactar e fazer o governo e as pessoas enxergarem a população trans como capaz de ser e de ocupar cargos de destaque, inclusive cargos políticos com poder de decisão.”

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