Conheça Txai Suruí, a indígena e única brasileira a discursar na COP26
A jovem de 24 anos, nascida em Rondônia, falou sobre a importância de incluir os povos originários no debate sobre as mudanças climáticas
Txai Suruí, indígena e única brasileira a discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26), se tornou conhecida internacionalmente desde segunda-feira (1), quando expôs o avanço da mudança climática na Amazônia.
Walelasoetxeige Suruí (ou Txai Suruí), nascida dos Povos Suruí em Rondônia, de apenas 24 anos, é filha de Almir Suruí, 47, uma das lideranças mais conhecidas na luta contra o desmatamento na Amazônia.
Txai, que está no último semestre do curso de direito, foi a primeira do povo Suruí a fazer o curso na Universidade Federal de Rondônia (Unir). Antes mesmo de se formar, ela já trabalha na parte jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), instituição que defende a causa indígena em Rondônia.
A jovem também fundou o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Liderando o grupo, Txai já ficou a frente de atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e denunciando o avanço da agropecuária na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, localizada em Rondônia.
Txai participa de diversos manifestos em defesa dos povos indígenas. Um dos mais recentes ocorreu em agosto, quando indígenas de todo país ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra o Marco Temporal, que dificulta a demarcação de terra e favorece atividades de garimpo.
Ativista indígena brasileira, Txai Suruí, de 24 anos diz aos líderes mundiais na #COP26 que eles "fecharam os olhos" para a mudança climática.
Suruí @walela15 quer ação climática global agora, e não em 2030 ou 2050. Confira: https://t.co/18mx3T8cvL pic.twitter.com/Ve3X4ZZtCb— Nações Unidas (@NacoesUnidas) November 2, 2021
“Aqui onde eu sou real ainda invadem nossas terras, atacam nossos direitos, ameaçam nossas vidas, envenenam nossa água e destroem nossa floresta”, escreveu em sua conta no Instagram em 9 de agosto. Txai utiliza suas redes sociais para denunciar as ameaças que os Povos Suruís sofrem em Rondônia.
A jovem acredita que os indígenas têm as “ideias para adiar o fim do mundo”, em alusão ao livro de Ailton Krenak. Segundo a ativista, o equilíbrio está na relação saudável de seu povo com a natureza, sem degradações.
“Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo”, disse no discurso da COP26.
A jovem falou sobre os ensinamentos de seu pai, a importância de viver em harmonia com a natureza e relembrou a morte do indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da aldeia onde morava. Para Txai, ele “foi assassinado por proteger a natureza”.
EmGlasgow, Txai ressaltou ainda a necessidade de medidas urgentes para frear as mudanças climáticas e a importância dos povos indígenas na proteção da Amazônia.
“Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui”, disse ainda no discurso.
Txai foi a única representante brasileira a discursar na abertura oficial da conferência, que acontece até o dia 12 de novembro com lideranças de todo o mundo.