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#TemQueFalar: “Senti algo quente em minha perna, sabia o que era, mas não tive reação”

Leia o depoimento da leitora Silvia*, de 35 anos*

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 11 abr 2024, 18h01 - Publicado em 8 nov 2015, 09h00
Divulgação/CLAUDIA
Divulgação/CLAUDIA (/)
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Nas últimas semanas, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem: Gabriela*, Marcela*, Mariana*. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres. 

 

Leia o depoimento da leitora Silvia*:

“Confesso que não pensei duas vezes, sobre relatar meu caso de abuso, quando vi que poderia esconder minha identidade.
Sou filha única. Minha mãe era doméstica e meu pai, operário. Sempre fiquei o dia todo sozinha. Desde os meus 7 anos, meus pais me ensinaram como ser independente, pois não havia outra solução…

Meus tios paternos sempre estavam lá em casa, pois meu pai sempre foi um homem que deu suporte aos irmãos e sobrinhos. Ele deixava claro o quanto eles eram bem-vindos em nossa casa, a qualquer dia ou hora, mesmo sabendo que minha mãe não aprovava.

Tudo começou quando um tio meu dormiu em nossa casa e, no dia seguinte, meus pais saíram para trabalhar. Meu tio dormia na sala e eu, no quarto. À tarde iria para a escola.

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Me lembro de ter sentido que alguém deitou ao meu lado e disse em meu ouvido: ‘Vou deitar um pouco aqui com você, estou cansado, fique quieta’.  Depois disso, senti algo quente em minha perna, eu sabia do que se tratava, mas não tive reação. Meu Deus, eu não podia acreditar que aquele tio que eu tanto adorava estava fazendo aquilo, como eu diria ao meu pai? Meu pai era muito carinhoso e cuidadoso comigo, eu pensava em todas as consequências que isso poderia causar… E a minha tia, meus primos, o que seria deles? Confesso que não me lembro quanto tempo essa tortura durou nesse dia. 05 minutos? 10? 01 hora? Não sei. Me lembro do quanto meu medo, a minha angústia, a minha vergonha duraram e o quanto isso me afligiu por não conseguir contar a ninguém.  

Mal sabia que todo aquele tormento estava apenas começando. Alguns meses depois, outro irmão do meu pai apareceu em nossa casa sem avisar, dizendo que estava trabalhando ali perto.

Eu estava de férias, assistindo à TV, sentada no sofá. Ele não sentou ao meu lado e nem no outro sofá; ele se agachou ao lado do descanso de braço e, eu não olhava, mas sabia que ele estava com o seu membro nas mãos se tocando.
Ainda me lembro do medo, do cheiro, do horror e, pior ainda, do nojo que eu senti quando ele se levantou, disse que ia voltar ao trabalho e me abraçou sem eu sequer esperar.

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A conclusão que tenho desses momentos é que não se deve confiar em ninguém. Por mais que eu fosse comunicativa e amiga de meus pais, nunca tive coragem de denunciar ou contar para alguém.

Hoje percebo que a vida se encarregou de dar-lhes o que era merecido, meu coração não guarda rancor, ódio ou qualquer outro sentimento negativo. Não permiti que isso me impedisse de viver e ser feliz, eu não trago comigo traumas, trago disso um aprendizado que o abuso pode vir de qualquer um.

Sejamos alertas, mas não deixemos de viver por medo. Sei que não tive culpa, não causei esses abusos, fui a vítima. Nada, nenhum comportamento nosso deve ser justificativa para esse tipo de atitude desses monstros que vivem aí fora e, no meu caso, dentro de nossas famílias.

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Confesso que estou aliviada, por compartilhar… Obrigada!”

*Nome e idade fictícios.

Se você também quiser dividir o seu relato com outras leitoras, envie para redacaoclaudia@gmail.com. A sua identidade será preservada.

 

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