Fundador da Casas Bahia e filho são acusados de crimes sexuais
Reportagem de agência de jornalismo investigativo traz mais de 30 acusações de aliciamento, estupro e exploração de menores por membros da família Klein
Uma reportagem veiculada pela Pública, agência de jornalismo investigativo, na última quinta-feira, traz uma série de revelações em que Samuel Klein, fundador da Casas e Bahia, e seu filho, Saul Klein, são acusados de diversos crimes sexuais, entre eles aliciamento de crianças e adolescentes, exploração sexual e estupro.
O artigo, que integra o especial do site nomeado de “Caso K”, reúne relatos que expõem o esquema de exploração sexual de meninas entre 9 e 17 anos por parte de Samuel dentro da sede das Casas Bahia, em São Caetano do Sul, e em seus imóveis particulares no litoral paulista e carioca e na Grande São Paulo.
De acordo com as informações levantadas, as meninas eram transportadas de helicóptero até as residências do “rei do varejo”, como é conhecido, onde geralmente aconteciam festas e orgias. O silêncio era comprado com o fornecimento de dinheiro, produtos e em alguns casos “presentes” de maior valor, aceitos pelas vítimas que, em geral, eram de situação socieconômica vulnerável.
Ao que as apurações e relatos indicam, para o sucesso das operações, o empresário contava com funcionários e com staffs, que lidavam com o recrutamento e organização de viagem dessas mulheres. Tudo era feito com base em um sistema.
A ideia de investigar o patriarca da família Klein surgiu após seu filho, Saul, ser acusado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) de aliciar e estuprar dezenas de mulheres. Como resultado, mais de 35 pessoas relataram os crimes, inclusive 26 mulheres que, quando menores, foram vítimas, e foi observado uma semelhança na forma como pai e filho agiam.
O caso veio a público apenas após a morte do varejista, que faleceu em 2014.
As vítimas
A reportagem conta com os chocantes depoimentos de algumas mulheres, que ocultaram suas identidades em alguns casos. Neles são dados detalhes da forma como o empresário agia.
Dentre as vítimas, Karina Lopes, hoje com 40 anos, e a irmã Vanessa Carvalhal, relataram como foram atraídas pelo esquema de Klein, e dividiram que não foram as únicas da família, já que, na inocência, elas mesmas atraíam outras meninas com as quais tinham parentesco com a promessa de ganharem agrados.
“A gente ficava contente que tinha ganhado um tênis. Não tínhamos noção dessa situação de violência”, disse Karina.
A relação abusiva gerou dependência financeira e psicológica. “Parece que a gente tinha a obrigação de fazer [atos sexuais] porque ele tinha dado dinheiro no dia anterior”, disse Vanessa Carvalhal à agência.
Outros relatos também explicitaram que, geralmente durante as festas, um grupo era recrutado e as meninas tinham de praticar sexo vaginal ou oral, muitas vezes sem preservativo.
Houve ainda quem contasse que, após o abuso sofrido, foi acometida de um grave sangramento e ainda assim lhe foi negado atendimento médico, sendo obrigada a após dois dias, ser exposta novamente ao abuso.
Outras relatam como o perfil que ele construía de si próprio de uma pessoa boa era um empecilho para que outras pessoas acreditassem que houvesse algo de errado.
Todas as entrevistadas sustentam que Samuel preferia meninas menores de 18 anos.
As testemunhas
A agência teve ainda acesso a 18 fontes, entre eles seguranças, ex-funcionários, motoristas de táxi, assistentes pessoais de Samuel, advogados de mulheres que citam acordos extrajudiciais, vizinhos de prédio e lojistas que confirmaram o esquema de aliciamento e abusos. Alguns ainda afirmam que não era apenas a matriz que forneciam as “recompensas”, algumas filiais também.
Ex-colaboradores confirmaram os frequentes pagamentos em dinheiro, que às vezes chegavam a 3 mil reais ou mais, e produtos às chamadas “samuquetes”, como eram apelidadas as “meninas do Samuel”. Tanto o pai quanto o filho usavam o caixa das lojas para financiar seus trabalhos sujos e cabia aos funcionários apenas seguir as ordens de pagamento, que geralmente vinham em um papel assinado pelo empresário.
Por estarem expostos como cúmplices a esses atos, muitos moveram processos contra a varejista alegando danos morais.
“Parece que ele vivia para isso. Ele recebia meninas várias vezes por semana, o mês inteiro”, apontou um segurança.
Saul Klein
“Algumas dessas pessoas também forneciam mulheres para o filho dele, Saul”, comenta Cláudia, uma das fontes da Pública.
Saul Klein, um dos herdeiros e filho de Samuel Klein, chegou a ser tema de uma reportagem especial do Fantástico, que explorava a história de 30 mulheres que o acusaram de crimes sexuais.
Algumas das vítimas de Saul, ouvidas pela agência, contam como a forma de agir do filho era semelhante a do pai. Era o mesmo esquema de aliciamento e o mesmo perfil de abusador, que caso não tivesse suas vontades saciadas, submetia, através do seu staff, as vítimas a uma punição.
Uma delas conta que, certa vez enquanto passava mal por causa de uma bebida, foi questionada se estava grávida, pois, caso estivesse, teria que abortar imediatamente, de forma forçada.
“Saul Klein recebeu uma educação baseada na exploração sexual das mulheres, com o pior exemplo em casa. E, usando o poder social que o dinheiro lhe beneficia, replicou e especializou o modus operandi paterno para cometer as mais diversas atrocidades”, disse Gabriela, advogada de uma das moças submetidas às atrocidades de Saul Klein.
O posicionamento da família
Após a reportagem ser publicada, a assessoria da família Klein se manifestou através de nota sobre as acusações contra Samuel Klein.
“É com enorme tristeza que a família Klein tomou conhecimento da publicação de matéria sobre Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, falecido em 2014. É uma pena que ele não esteja vivo para se defender das acusações mencionadas.”
Tenha acesso à reportagem na íntegra aqui.