Em carta escrita na prisão, princesa Latifa pede ajuda para libertar irmã
Como Latifa, Shamsa tentou fugir de casa, mas foi capturada e mantida em confinamento por ordens do pai
Uma carta escrita pela princesa Latifa bint Mohammed Al Maktoum pede que a polícia britânica faça uma nova investigação sobre sua irmã mais velha, Shamsa bint Mohammed bin Rashid Al Maktoum, sequestrada há mais de 20 anos em Cambridge, na Inglaterra.
Escrita em 2019, enquanto Latifa estava sendo mantida em confinamento pelo pai em uma mansão, a correspondência foi entregue à força policial do condado de Cambridge pelos amigos da princesa na quarta-feira (25), segundo informações da BBC.
Na carta, ela diz que a polícia poderia ajudar a libertar a princesa Shamsa, que também foi capturada por ordens de seu pai, o xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos.
“Tudo que peço a vocês”, escreveu Latifa, “é que, por favor, deem atenção ao caso dela, porque isso poderá dar a ela sua liberdade… sua ajuda e atenção ao caso podem libertá-la.”
“Ela queria fazer a diferença”
Em entrevista a BBC, Marcus Essabri, primo de Shamsa, contou que a jovem não se adequava aos padrões esperados para uma princesa. “Ela era atrevida. Cheia de vida e aventureira”, disse. “Ela queria fazer a diferença para as mulheres, especialmente no mundo árabe. Queria romper os limites… foi quando os problemas começaram.”
Tendo parcialmente crescido no Reino Unido, Shamsa recebeu uma educação ocidental. Mas, em 1999, seu pai a proibiu de dar continuidade aos seus estudos, a impedindo de cursar uma universidade. Foi quando ela enviou uma carta para Marcus.
“Eu não tenho autorização para continuar. Sabia que ele sequer perguntou no que eu estava interessada? Ele apenas disse não”, dizia a carta. Em outro trecho, Shamsa revelou ao primo que estava pensando em fugir. “A única coisa que me apavora é me imaginar velha e arrependida por não ter tentado quando eu tinha 18 anos. Tentado o quê? Eu não sei. Apenas aproveitar essa chance.”
Então, meses depois, ela deixou a propriedade do pai, no condado de Surrey, dirigindo um Range Rover preto, sem planos de voltar. Assim que percebeu que a filha havia fugido, o xeique enviou uma equipe de agentes para rastreá-la.
Em 19 de agosto de 2000, Shamsa foi capturada em Cambridge. Por meio de uma pessoa com quem ela mantinha contato, os homens contratados por seu pai conseguiram localizá-la.
De lá, a jovem foi levada para outra propriedade do pai, em Newmarket, onde foi forçada a tomar duas injeções e várias pílulas. No dia seguinte, um helicóptero a levou para a França, onde foi colocada em um jatinho para Dubai. Desde então, Shamsa nunca mais foi vista em público.
Segundo Latifa, Shamsa passou oito anos presa e as duas só se encontraram em 2008. Na ocasião, a mais velha precisava ser guiada pela mão. “Ela não conseguia abrir os olhos… Deram a ela um monte pílulas para controlá-la. Esses remédios a deixavam como um zumbi.”
Uma outra pessoa que teve contato com Shamsa após ela ser libertada da prisão disse que a moça estava muito quieta. “Tudo que ela fazia era controlado. Não havia mais um brilho nela. Não havia mais bravura. Não havia nada. Ela era como uma concha. Eu acho que ela apenas aceitou o fato de aquela seria sua vida. É desesperadamente triste.”
Uma investigação para averiguar o desaparecimento da princesa foi aberta pela polícia de Cambridge em 2001, após ela ter feito contato com um advogado de imigração que havia conhecido quando estava na Inglaterra.
“Eu não tenho tempo para escrever em detalhes. Estou sendo vigiada o tempo todo, então irei direto ao assunto”, dizia a carta de Shamsa ao advogado. “Fui pega pelo meu pai, ele conseguiu me rastrear. Estou presa até hoje… não peço a você que apenas divulgue isso imediatamente. Estou pedido por sua ajuda e que envolva as autoridades.”
Contudo, como os policiais foram proibidos de ir até Dubai, a investigação foi arquivada e duas revisões do caso foram feitas em 2018 e 2020. Em nota a BBC, a polícia de Cambridge informou que a carta de Latifa “será analisada como parte da revisão em andamento.”
Por parte do xeique, a única declaração sobre o caso foi feita para a Suprema Corte em 2018. Na ocasião, ele descreveu Shamsa como “mais vulnerável que outras mulheres de sua idade”, porque seu status trazia riscos de que fosse sequestrada. O xeique também disse estar “aliviado” por tê-la encontrado após seu desaparecimento.