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Por que os estudos com corticoides contra a Covid-19 são tão promissores?

Resultado da pesquisa brasileira sobre a eficácia da dexametasona, que já é usada em alguns pacientes, deve sair em agosto

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 26 nov 2020, 14h00 - Publicado em 22 jun 2020, 17h30
Covid
Variante foi encontrada em mulher de 34 anos (Andriy Onufriyenko/Getty Images)
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Em resultados divulgados na última semana, pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirmam que encontraram a primeira droga que comprovadamente reduz as mortes por Covid-19. O uso do corticoide dexametasona como tratamento contra a doença causada pelo novo coronavírus levou a uma redução de um terço nas mortes de pacientes graves, ligados a respiradores. Um estudo com a mesma medicação está sendo feito no Brasil e deve ter resultados concretos em breve.

O medicamento é muito usado desde a década de 60 em casos de comprometimento pulmonar causado por outras bactérias e vírus e possui baixo custo. Mesmo que o estudo ainda não tenha sido publicado em nenhuma revista científica – o que é considerado o último passo para a validação de uma pesquisa – o Ministério da Saúde do Reino Unido já incluiu medicação no protocolo de tratamento da Covid-19. Os corticoides agem reduzindo inflamações, um problema causado pela doença quando ela ativa o sistema imune para lutar contra o coronavírus. A reação forte pode ser fatal e, nesses casos, esse tipo de medicamento é indicado.

“A partir do quinto ou sétimo dia da doença e até o 12º ou 13º, o vírus pode causar uma inflamação que se inicia no pulmão. É neste momento que vem a forma grave da doença, em que o paciente pode apresentar pneumonia e síndromes respiratórias graves, que vão inclusive levá-lo à necessidade de respirador. Essa segunda fase da doença, que pode ser muito grave em 20% das pessoas, está associada a uma resposta imunológica do doente, ou seja, a defesa do corpo começa a atacar o próprio organismo”, explica a Dra. Ludmila Hajjar, cardiologista e intensivista, professora da USP, coordenadora da UTI de Cardiologia Covid do Hospital das Clínicas e Diretora de Ciência Tecnologia e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Para o estudo britânico, coordenado pelo Recoveryo maior ensaio clínico controlado randomizado (pacientes escolhidos por sorteio) para testar medicamentos contra a doença – foram selecionados 2.104 pacientes graves que foram medicados com a dexametasona por via oral ou intravenosa. Estes pacientes foram comparados com outros 4.321 tratados convencionalmente – o que significa o uso de ventilação mecânica e soro. A redução de morte naqueles que precisavam de tratamento com respiradores foi de quase 35% e, nos que precisavam de suporte de oxigênio, 20%.

“Este é um resultado extremamente bem-vindo”, disse Peter Horby, da Universidade de Oxford, em comunicado reproduzido pela agência AP. “O benefício da sobrevivência é claro e amplo nestes pacientes que estavam doentes o suficiente para precisarem de tratamento com oxigênio. Então, a dexametasona pode agora se tornar padrão no cuidado destes pacientes. A dexametasona é barata nas prateleiras e pode ser usada imediatamente para salvar vidas ao redor do mundo”.

No Brasil

Um estudo com o mesmo medicamento está sendo feito no Brasil desde abril e deve ter resultados concretos em agosto. A pesquisa é coordenada pela coalizão formada por hospitais de ponta como Sírio-Libanês, Albert Einstein e Oswaldo Cruz. 

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O objetivo da pesquisa é contemplar 350 pacientes em estado grave e comparar os resultados do tratamento com a dexametasona com pacientes em estado grave que não usaram o corticoide. Até o momento, 280 pacientes usaram a medicação e, nos próximos 20 dias, os outros 80 também devem ser submetidos ao tratamento. Depois do fim dos testes, os resultados serão acompanhados por 30 dias em um banco de dados. Logo após, um comitê internacional de pesquisadores deve se reunir para analisar os resultados.

“Nós já imaginávamos que os corticoides, como a Dexametasona e a Metilprednisilona, pudessem ser úteis nessa fase. Eu e alguns outros médicos já usávamos corticosteroides nos doentes graves com Covid-19”, explica Ludmila.

Segundo os pesquisadores brasileiros, os resultados são promissores, mas a eficácia da droga ainda precisará ser confirmada com novos estudos. Apesar disso, já se sabe que é uma medicação que poderá ser usada apenas em casos graves, quando é necessário o uso de respiradores, e não em manifestações brandas da doença. Se usada na fase inicial, a dexametasona pode ser até prejudicial no combate ao novo coronavírus.

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“Não faz sentido as pessoas irem às farmácias comprarem os corticoides de maneira preventiva. Não é para ‘estou sentindo uma dor de cabeça, pode ser Covid, vou comprar e tomar’. Não é preventivo e nem para casos leves. Esse remédio tem seus efeitos colaterais, pode aumentar o risco de uma infecção bacteriana ou o quadro viral. É um anti-infamatório muito potente”, disse Luciano Cesar Pontes de Azevedo, médico do Sírio-Libanês e um dos coordenadores do estudo brasileiro, em entrevista à CNN.

O médico também afirmou que, como a droga já estava sendo usada por alguns pacientes, foi mais difícil conseguir recrutar pessoas para a pesquisa, já que é necessário que eles nunca tenham utilizado a medicação para poder ser voluntário no estudo. Para fazer parte da pesquisa, o médico responsável deve avisar ao paciente internado com a forma mais grave da doença sobre a existência desse estudo, deixando claro que não há certeza de eficácia por enquanto. Caso a pessoa queira participar do teste, ela entra em uma espécie de sorteio para ver em qual dos grupos será analisada – seja o tratado com a “nova” medicação ou o tratado de maneira convencional.

É importante lembrar que, apesar de apresentar resultados promissores, a dexametasona não faz milagres, segundo o próprio comunicado dos cientistas ingleses. Ela reduziu o risco de morte em pacientes graves, mas não o zerou.

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“Eu diria que, até o momento, esse é o maior sucesso no tratamento da doença. Pode ser que tenhamos outros, mas esses resultados hoje já nos ajudam a manejar e tratar esse doente, até que tenhamos uma outra forma de tratamento para ser associado ou eventualmente alguma forma de prevenção, como a vacina”, diz Ludmila.

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