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“Enfrentei e venci o câncer de mama duas vezes”

A consultora de investimentos Viviane Ferreira, 42 anos, viu a doença voltar mesmo após a retirada dos dois seios. No processo, pediu o divórcio, casou novamente e arrumou forças para, ao lado da filha pequena, se reinventar

Por Ana Paula Orlandi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 05h47 - Publicado em 19 out 2015, 09h13
Claus Lehmann
Claus Lehmann (/)
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“Nunca vou esquecer daquele 22 de setembro de 2008. Foi quando recebi o diagnóstico de que estava com câncer de mama. Tinha 35 anos e uma filha de 3 para criar. Havia descoberto por acaso um nódulo pequeno no meu seio direito e o médico pediu uma série de exames. Fiquei tranquila, achava que não era nada grave, apesar de ter histórico na família. Em 2004, aos 56 anos, minha mãe sofrera com um câncer de mama e outro no cérebro. Mas eu era jovem, não iria acontecer comigo. Ao menos era assim que eu pensava.

Quando recebi a notícia de que o nódulo era maligno, chorei muito, mas não fiquei paralisada. Ao sair do consultório, liguei para uma amiga que tinha enfrentado a doença. Ela foi jantar em casa e me passou todas as coordenadas. Na semana seguinte, eu já estava na mesa de operações. Tirei as duas mamas e reconstruí os seios. Em novembro, comecei a rádio e a quimioterapia – saí da primeira sessão destruída, com um enorme mal-estar. No dia seguinte, era o aniversário do meu marido, com quem estava havia 16 anos. Para minha surpresa, ele me deixou sozinha e foi para um bar com os amigos. Dias depois, durante uma discussão, reclamou que eu não tinha providenciado um bolo para o seu aniversário. No Réveillon daquele mesmo ano, alugou uma casa na praia com a turma e insistiu para que eu fosse também. Foi péssimo. Passei muito mal e precisamos voltar para São Paulo. Ele chegou mal-humoradíssimo e, de quebra, fui sozinha para o hospital.

Episódios assim me levaram a pedir o divórcio, em maio de 2009. Não sei de onde tirei forças. Estava fragilizada, sem cabelo e com a químio em curso, mas queria mostrar à minha filha, Constanza, que a gente sempre consegue achar opções para ser feliz na vida, mesmo em meio ao caos. E, naquele momento, eu vivia o caos. Além do câncer e da separação, enfrentava a dor de ver minha mãe em um estado de saúde delicado. A radioterapia que havia eliminado o tumor de seu cérebro, em 2006, causara a perda dos movimentos corporais e da capacidade neurológica. Eu e minha irmã mais velha decidimos que ela não saberia de nada sobre minha doença. Foi melhor assim, mas ao mesmo tempo não pude me refugiar em seu colo nos momentos mais difíceis do tratamento.

Dois meses após minha separação, encontrei Carlos por acaso. A gente se conhecia de vista, da época de adolescência. Ele nasceu e cresceu em Guaxupé (MG), mesma cidade dos meus pais, mas estava morando em São Paulo. Começamos a namorar e, depois de dois anos, estávamos casados.

Em 2013, um novo baque. Minha mãe morreu e, passado algum tempo, durante um exame de rotina, o médico descobriu outro nódulo no meu seio direito. A primeira pergunta que me veio à cabeça foi: ‘Mas como, se eu retirei as duas mamas?’ Ele me explicou que o tumor havia aparecido em um tecido remanescente da mama, que não tinha sido retirado. A notícia me trouxe revolta e a sensação de impotência. Vivia um momento ótimo: estava trabalhando, casada com uma pessoa maravilhosa e que se dava muito bem com minha filha. Sem contar que, após o primeiro câncer, eu tinha mudado minha visão de mundo. Passara a me cobrar muito menos e a ser mais verdadeira com meus sentimentos. Mas não havia alternativa. Conversei com a Constanza, então com 8 anos, e contei que voltaria a tomar o remedinho que fazia o cabelo cair. Viajamos aos Estados Unidos para visitar minha irmã e passamos a lidar com a doença de outra maneira. Dessa vez, eu não usaria peruca. Lá, compramos uma boneca careca, feita para crianças às voltas com o câncer, e trouxemos lenços coloridos para que eu usasse durante o tratamento. Quando comecei a perder os fios, Carlos raspou minha cabeça e a dele também. Busquei força em terapias alternativas, como reiki e radiestesia, que me ajudaram bastante ao longo do processo.

Nas noites de insônia, após as sessões de quimioterapia, comecei a colocar minha história no papel. O ponto de partida foi a morte do meu irmão caçula, aos 10 anos, em um acidente de carro, em 1988 – um trauma que só superei duas décadas depois, com muita terapia. E escrevi sobre minha luta contra a doença. Após seis meses de tratamento, recebi alta e desde então estou com a saúde ótima. No ano passado, fiz dois cursos de escrita nos Estados Unidos. O resultado é o livro Vivificar – Superando o Imponderável (editora AGWM, 28,70 reais), que fiz questão de lançar neste mês por causa da campanha do Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama. O título brinca com meu apelido, mas é também um verbo cujo significado, renascer, tem tudo a ver com minha história. Com esse relato, espero ajudar as pessoas ao compartilhar três grandes lições que aprendi. Primeiro, que a gente precisa saber se reinventar; depois, temos que entender que podemos fazer escolhas; e, por fim, precisamos acreditar que após a tempestade vem a bonança. E disso elas podem ter certeza.”

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