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É preciso apoio para fome não ser vilã no isolamento, diz líder quilombola

Dominga Natalia, vice-presidente da Associação Quilombo Kalunga, fala da situação da maior comunidade de remanescentes de quilombolas do país na pandemia

Por Dominga Natalia
Atualizado em 16 set 2020, 11h43 - Publicado em 16 Maio 2020, 19h25
 (Reprodução/)
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“Com essa pandemia a dinâmica dos moradores aqui do Quilombo Kalunga, em Goiás, mudou muito em todos os sentidos. A nossa principal fonte é o turismo e foi umas das primeiras coisas que parou de funcionar. O quilombo também é muito carente de políticas públicas em saúde, transporte, estradas, entre outros. Por isso, nas redes sociais, a Associação do Quilombo Kalunga está com uma campanha de arrecadação de doação para os moradores.

Aqui, moram mais de 8.000 pessoas espalhadas em 39 comunidades, então a comunicação e a falta de infraestrutura têm sido um desafio para identificar quais são as famílias que estão passando por mais dificuldade. Não temos um carro apropriado para levar alimentos, itens de higiene e produtos de limpeza direito, além das precariedades das estradas que nos unem.

Algumas instituições, como a Palmares OVG e SEPIR, já conseguiram algumas cestas para nós, mas que por questões políticas atenderam apenas alguns moradores. Já o auxílio emergencial, que seria uma outra forma de ajudar neste momento, não atende aos quilombolas, pois a maioria não tem sinal de internet e nem de telefone. Quando tem sinal no celular, o cadastro só pode ser feito uma vez em cada aparelho.

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(Ministério do Meio Ambiente/Reprodução)

As residências têm um bom espaço, que possibilita fazer o distanciamento social, mas tem aquelas pessoas que não acreditam muito na importância do isolamento. Temos bastante dificuldade para conseguir essa conscientização, principalmente com os Kalungas que frequentam as cidades. Além disso, tem os visitantes que desrespeitam as orientações, causando medo em todos nós, já que temos muitos idosos. O melhor neste momento é ficar no quilombo, afinal, quem garante que essas pessoas não tenham sido ou sejam contaminadas ao saírem daqui. Uma vez que esse vírus entra no quilombo, sabemos que podemos perder as esperanças entenderem a importância, observando as condições de atendimento oferecidas nas cidades vizinhas.

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Ainda não tivemos ninguém com sintomas ou suspeita e o hospital mais próximo que nos atende é em Goiânia e a outra opção é em Brasília. O quilombo tem poucos agentes de saúde, mas tem. As orientações que recebemos são dos moradores do Engenho, comunidade próxima ao quilombo, que também montaram uma barreira de higienização e orientação na entrada do quilombo.

É um sentimento muito forte de que já passamos por muitos momentos sombrios, claro que não desse jeito, mas que conseguimos passar. Acreditamos muito na força da solidariedade e é assim que sobrevivemos há muitos anos. No quilombo, sabemos também que de modo geral tem pessoas com muita fé e devoção para encontrar forças e equilíbrio espiritual. Porém, nesse momento mais do que nunca, precisamos do apoio dos nossos representantes municipais, estaduais e federais para garantir um distanciamento social sem que a fome passe a ser a principal vilã. Vale lembrar que, antes da pandemia, na verdade em seus mais de 200 anos de história, o Quilombo Kalunga sobrevive do que produz, mas com muito sofrimento. Contamos com o apoio dos nossos líderes públicos e amigos para que possamos superar essa pandemia mantendo nossas riquezas culturais, que são os nossos idosos, além dos quilombolas como um todo.”

Dominga Natalia, vice-presidente da Associação Quilombo Kalunga, em Goiás

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