Buffy Wicks, deputada da Califórnia, nos Estados Unidos, precisou levar sua filha recém-nascida para a assembleia legislativa do estado, porque foi impedida de participar remotamente de uma votação. Uma foto dela no plenário segurando a filha no colo gerou bastante repercussão nas redes.
Em entrevista ao The New York Times, ela conta que chegou a pedir permissão para o palestrante da assembleia, Anthony Rendon, para votar remotamente, por procuração, ressaltando, inclusive o risco à COVID que estava submetendo a filha. No entanto, ele teria sido aconselhado que isso causaria litígios – ação ou controvérsia judicial. Além disso, ele também teria dito que a “licença maternidade não se enquadra nos parâmetros da lei que aprovou a votação por procuração”, conforme relata a deputada.
Ao jornal, Buffy também conta que decidiu ir à assembleia, a cerca de 120 km de sua casa, pois considerou que seu voto poderia ser decisivo. “Eu me senti compelida a ir e decidi levar minha filha porque eu estou a amamentando a cada duas ou três horas – a maior parte do tempo ela está, literalmente, comigo.”
Hillary Clinton, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos e candidata às eleições presidenciais de 2016, foi uma das pessoas que exaltaram a atitude da deputada. “Buffy Wicks, membro da Assembleia da Califórnia, foi informada de que dar à luz recentemente não era desculpa o suficiente para votar remotamente. Então, ela trouxe sua filha recém-nascida ao plenário para discutir sobre um importante projeto”, escreveu.
California Assemblymember @buffywicks was told that having recently given birth wasn’t sufficient excuse to cast a vote remotely.
So she brought her newborn daughter to the floor to weigh in on an important housing bill. 💪https://t.co/elofHmIcxl pic.twitter.com/ZQf9F10qKE
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) September 1, 2020
Buffy também relata que, para reduzir a exposição da filha na Assembleia, passou a maior parte do tempo em seu escritório. Mas logo precisou votar, então subiu ao pódio junto com a filha, que estava sendo amamentada minutos antes. “Senti o momento de todos prestando atenção em mim e no que eu estava dizendo. Enquanto eu estava falando, minha máscara estava caindo, o cobertor estava caindo e ela estava chorando. E eu deixei escapar: ‘Ok, eu tenho que terminar de amamentar minha filha’. E eu ainda tinha que dirigir uma hora e quinze minutos e tinha sido um longo dia. É um longo dia com um recém-nascido”, contou ao NY Times. Ela disse que eram cerca de 23h30 quando precisou fazer seu discurso.
Na terça-feira (1), Rendon emitiu um comunicado se desculpando pelo ocorrido. “Inclusão e eleger mais mulheres para a política são elementos centrais de nossos valores democráticos. No entanto, eu falhei em garantir que nosso processo levasse em consideração as necessidades únicas de nossos integrantes. A assembleia precisa fazer o seu melhor. Eu me comprometo a fazer o melhor”, declarou.
Apesar disso, ao NY Times, Buffy disse que não culpa o palestrante. “Ele estava preocupado com a legalidade do voto por procuração”, opina. “Acho que muitas instituições estão tentando resolver essa questão de trabalhar remotamente, de quem é pai. Além disso, estamos analisando esta política: podemos fornecer parâmetros para membros que cuidam dos pais, que têm cônjuges que sobreviveram ao câncer ou estão em tratamento? Como podemos fornecer flexibilidade que ainda seja legalmente válida?”, questiona.