Depoimento de professora sobre racismo emociona Lázaro Ramos
"Esse país só vive hoje porque meus antepassadas deram toda a condição", disse Diva Guimarães durante relato comovente. Prepare para se arrepiar!
Professora de educação física, 77 anos, negra, neta de escravos. Diva Guimarães comoveu o público com seu emocionante relato durante uma das atrações de ontem (28) da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Após um bate papo entre Lázaro Ramos e a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques sobre o processo de colonização no Brasil, o ator convidou Diva, que estava na platéia, para contar sua história ao público. Diva contou, bastante comovida, sobre situações de preconceito que sofreu ao longo da vida e se diz ser uma sobrevivente pela educação – e por uma mãe que fez de tudo para que ela e seus irmãos estudassem. A professora foi aplaudida de pé pelo público presente e levou Lázaro às lágrimas.
“Eu fiquei muito emocionada que você chamou atenção de que estamos em uma plateia de maioria branca. Sou do sul do Paraná, você já pode imaginar… Só sobrevivi porque tive uma mãe que passou por toda humilhação para que os filhos pudessem estudar. Fui para um colégio interno aos cinco anos. Passavam as freiras, as missões pelas cidades recolhendo as crianças como se fosse assim… Em troca de você ir para essa escola estudar, na verdade você ia para trabalhar. Eu trabalhei duro desde os cinco anos. Sou neta de escravos. Aparentemente a gente teve uma libertação que não existe até hoje.”
Um dos momentos mais emocionantes de seu depoimento foi quando ela contou que, quando pequena, escutava uma história das freiras de sua escola para “mostrar aos brancos como nós (negros) éramos preguiçosos”, em suas próprias palavras.
“As freiras contavam que Jesus – eu demorei muito para aceitar o tal de Jesus -, Deus, criou um rio e mandou todos tomar banho na água abençoada daquele maldito rio. Ai, as pessoas que são brancas é porque eram trabalhadoras e inteligentes. Nós, como negros, somos preguiçosos. E não é verdade. Esse país só vive hoje porque meus antepassadas deram toda a condição. Então, nós, como negros preguiçosos, chegamos no final dos banhos e no rio só tinha lama. E é por isso que só nossas palmas da mãos e pés são claras. Nós só conseguimos tocar isso.”
“Eu sou uma sobrevivente pela educação. E pela minha mãe. Ela me pedia: ‘Olha bem pra mãe. Se você quiser ser como a mãe, não vá para a escola’. E eu dizia: Não vou ser igual a senhora. Então ela me mandava ir estudar. Eu ia correndo para a aula.”
Ao final do discurso o ator Lázaro Ramos, emocionado, exclamou: “Meu coração ficou pequenininho”.
Assista o vídeo com o depoimento na íntegra: