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Conheça o projeto “Meu Doce Dia” que organiza festas de aniversário em abrigos

Criada pelas amigas Victoria Villela, Gabriela Kimura e Fernanda Thomazella, a ação voluntária dá a oportunidade de jovens celebrarem a própria existência, por vezes, apagada pelos traumas da rejeição

Por Débora Stevaux (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 14h54 - Publicado em 23 ago 2016, 23h23
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  • Segundo dados da Unicef, há mais de 8 milhões de crianças abandonadas em todo o território brasileiro. Pequenos que, devido às marcas da rejeição, contestam, diariamente, a importância de seu papel como pessoa no mundo. Pode parecer exagero para a maioria de nós, mas já imaginou o sentimento de vazio por não ter tido a oportunidade de celebrar, em nenhum aniversário, a própria existência?

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    Foi pensando em todas as oportunidades e privilégios que dispõem, que a advogada Victoria Villela e a jornalista Gabriela Kimura, amigas desde os tempos de colégio, criaram, no começo de 2016, o projeto “Meu Doce Dia“, e logo chamaram Fernanda Thomazella, que também advoga para colaborar com a ação voluntária.

    Gabriela Kimura
    Gabriela Kimura ()

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    “Numa conversa tranquila, na praia, percebemos que compartilhávamos da mesma vontade de fazer algo que ajudasse crianças abandonadas, mas que ultrapassasse as barreiras dos bens materiais.” Explica Victoria, uma das co-fundadoras: “Foi então que pensamos no conceito de exaltar a individualidade desses pequenos e mostrar o quanto são especiais, isto é, comemorar o aniversário de cada um deles – que nada mais é do que celebrar a própria existência, um dia que é só deles.”

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    Depois de pesquisas na Internet, o trio que encabeça o trabalho voluntário visitou o abrigo Casa Vovó Ilza, que pertence à Associação Santa Fé, e oferece acolhimento para 22 meninas de 11 a 18 anos, grávidas ou acompanhadas de seus filhos. As três buscam brechas em suas rotinas, por vezes exaustivas, para preparar de docinhos, bolo, garimpar artigos específicos de festas e presentes especiais para cada uma das aniversariantes.  

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    “Todas sabem as datas de nascimento dos suas crianças. Temos, porém, casos de meninas de 13 anos abusadas sexualmente por membros da família e que, por passarem por grandes traumas, não sabem dizer a data exata do seu aniversário. Como fazemos uma comemoração mensal, só de saberem a data aproximada já é o suficiente!” Conta Fernanda sobre as 8 festinhas realizadas desde o mês de fevereiro com doações do próprio trio, da família e de amigos próximos.

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    Gabriela Kimura
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    Com um passado marcado pela hostilidade de morarem na rua, prostituição, uso de drogas  ou pelos maus tratos e violência sexual sofrida por companheiros e até familiares, as garotas perceberam, pela primeira vez que a opinião delas importa. Foram feitas entrevistas com cada uma das jovens mães para saber o nome, quando fazem aniversário, qual sua cor, filmes, personagens e doces favoritos. 

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    A cumplicidade e o contato com uma realidade que parece tão distante vai além da doçura das atitudes das três jovens de 24 anos: “Procuramos apoiá-las de outras formas, como na busca de emprego e estabilidade econômica. E também comemoramos os aniversários de todas as funcionárias da instituição, que fazem um trabalho lindo, se dedicam, ajudam, escutam e são amigas das adolescentes”, completa Gabriela.

    Arquivo Pessoal
    Arquivo Pessoal ()

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    Para além dos pequenos mimos, como é o caso de uma das meninas do orfanato, de 15 anos, mãe de uma bebê de 1 ano, que abre sorrisos por se sentir querida e lembrada ao receber marshmallows cada vez que o trio visita a Casa Vovó Ilza, o projeto têm planos de expansão. Serão feitas arrecadação de doações financeiras e de itens fundamentais como roupas, alimentos, produtos de higiene pessoal e itens decorativos de festas.

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    Por fim, além da realização pessoal de cada uma por fazer parte de uma ação tão significativa e transformadora, há muito mais por trás de cada gesto das três: “Dedicar um tempo da minha rotina para tornar a vida do outro mais doce melhora, de maneira colateral, a minha vida.” Confessa Victoria: “Também nutro um enorme sentimento de gratidão pelas adolescentes, que permitiram a entrada de três desconhecidas e depositaram uma confiança ímpar em cada uma de nós. Essas jovens são verdadeiros exemplos de força e superação, afinal, somos nós as presenteadas por ter a chance de aprender um pouquinho com elas.” 

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