Não haverá mais a mesquinharia do tempo. Nem a submissão a ele. Será desprezível o medo que temos de envelhecer e partir. Também não sentiremos saudade de quem está longe, pois espaço e distância deixarão de ser um problema. Se os cientistas estão viajando na maionese certa, será possível frequentar o futuro e (quem sabe?) revisitar o passado. Eles se mostraram eufóricos com a descoberta, anunciada na quinta (11/03), das ondas gravitacionais que haviam sido previstas por Einstein na Lei da Relatividade. Sete brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais integram o time de pesquisadores. Entre eles, o físico Odylio de Aguiar. É dele a declaração que permite antever a desobediência à cronologia das coisas. Em cem anos, disse Aguiar, a gente vai conseguir navegar no binômio tempo-espaço. Para frente e para trás?. Bom, né!
O que você faria se pudesse dirigir-se ao ponto de onde partiu? Ou rearranjar algo que deixou meio sujinho lá atrás. E se tivesse a oportunidade de consertar a pisada na bola que fez você perder um romance, um trabalho, um dinheiro, uma amiga, uma chance na vida? Dava para pegar no ar a frase ruim, o xingamento, a injúria contra alguém. E apagar o erro e a culpa antes de acontecerem. Da minha parte, iria às últimas consequências para que Danilo, à caminho do celibato, deixasse o noviciado dos Irmãos Maristas e se juntasse ao fogo da paixão. Meu amigo, 18 anos, e eu, 16, nos víamos mais perto da pirotecnia dos corpos que dos votos religiosos e de castidade que ele fizera com tão pouca idade. Eu também ousaria mais na maior aventura em que me meti, como vereadora em Uberaba, Minas Gerais, e militaria no feminismo desde a mamadeira. Não esperaria os 15, para só começar a agir no oco surdo da ditadura militar.
Se todas as brasileiras da minha geração tivessem se engajado cedo na defesa das mulheres, talvez a última pesquisa do Data Popular para o site Catraca Livre apontasse resultados menos vexatórios. Os jovens do século 21 não teriam sido criados sob o ranço troglodita do Brasil-Colônia. Realizada durante o Carnaval, em 146 cidades, a pesquisa ouviu homens acima de 16 anos. Veja: 61% deles afirmaram que uma mulher solteira, brincando no carnaval, não pode reclamar de ser cantada. Bloco de rua, para 49% não é lugar para “uma mulher direita”. Responda rápido: o que é ser uma mulher direita?
- Não ter o nariz torto de bruxa.
- Repetir “Amém, Amém” para as decisões que o homem toma para ela cumprir ou realizar.
- Fechar com Bolsonaro, Cunha, Feliciano e afins.
- Topar salário menor que o do colega-macho
- Transar toda vez que o homem quiser
- A direita é a mulher que apanha e cala. Fica em casa. Prega botão. Dá banho no cão. Amordaça os sentidos do próprio corpo.
- TODAS as alternativas anteriores
Segue a sondagem do Data Popular: 70% dos caras que encontramos nos blocos do Carnaval/2016 têm certeza que adoramos quando eles assobiam; 59% acham que uma cantada grosseira na rua nos deixa felizes e 49% nem têm dúvida: as mulheres vibram quando são chamadas de gostosa. Que lástima! Homens tão bonitinhos e mantendo a mente na era do pênis que diz tudo. Resolve tudo, compra tudo, decide tudo, até o que a mulher ama e quer. Está explicado: por isso foi tão comum a mão-na-bunda e a língua-no-peito em plenos M’Boi Mirim, Pelourinho, Vila Madalena, Leblon, Ipanema…
Machos, porém, não metem mais medo. Uma mulher (ela pode ter 14, 20, 30 ou 50 anos) já sabe do valor que tem. E se vira bem no mundo truculento dos homens. Além disso, lembremos, esse país já tem leis que nos protegem. Não por acaso, crescem as denúncias nas delegacias de polícia. É bom olhar como estão fortalecidas as mulheres nos blogs, na internet, nos coletivos em universidades e escolas de secundaristas. Elas se organizam cada vez mais, afiam o discurso, se defendem, pressionam o Congresso Nacional, as empresas onde trabalham, e crescem como pessoa. Ainda não mudaram tudo como é preciso, mas mostraram as garras e o poder conquistado.
O que é triste: constatar que os homens só perdem com o comportamento tosco e que ainda não notam isso. Deixam de ganhar prazer e alegria na troca com as mulheres e com os homens não-violentos (sim, eles existem e estavam no M’Boi Mirim, no Pelourinho, na Vila Madalena, no Rio de Janeiro…). Quando o exército de broncos deixar de pensar pequeno, vai descobrir maravilhas, se libertará da obrigação de ogro e do dever de se exibir para o outro macho. Entenderá, enfim, que a vida é melhor com igualdade, longe do papel de estripador.
Bem, a novidade científica recém-anunciada abre muitas possibilidades, como usar as tais ondas gravitacionais para sobrevoar o tempo que há de vir. Que futuro você quer visitar? Eu desejo um de amor, sexo, carnaval, harmonia, bloco de rua, paz, compaixão, direitos respeitados, entendimento entre homens e mulheres. Todos absolutamente libertos dos padrões que nos escravizaram até agora. O físico Odylio Aguiar há de descubrir que não será necessário esperar mais 100 anos para viver dias melhores. Os homens atrasados precisam se tocar, criar juízo e desistir logo de cultuar a violência.