Bebê vive com ‘2 corações’ enquanto espera transplante
Lorena, de um ano, tem instalado dois aparelhos que fazem função cardíaca
Com apenas seis dias de vida, a pequena Lorena, nascida em Maceió (AL), já estava voltando ao hospital de emergência, porque sua mãe havia notado que ela estava com a respiração ofegante. Depois de exames de Raio-x, descobriu-se que seu coração era bem maior do que o esperado. Depois de ficar um mês internada e sem nenhum diagnóstico, os pais da menina foram aconselhados a procurar o Incor.
A bebê viajou, com os pais, uma distância de quase 2,5 mil quilômetros até São Paulo. Assim que chegou, foi levada direto até o hospital que é referência em tratamentos cardíacos no Brasil. O Incor é responsável por mais de 40% das cirurgias de transplante de coração no estado de São Paulo.
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Os novos exames feitos apontaram que Lorena sofre de miocardiopatia dilatada, uma doença congênita que limita o coração a apenas 11% de sua capacidade total de funcionamento. O médico Luiz Fernando Caneo, cirurgião da Unidade Cirúrgica de Cardiopatias Congênitas do Incor, afirmou que a menina estava com disfunção nos dois ventrículos, as câmaras responsáveis por movimentar o sangue no coração, tanto o direito quanto o esquerdo.
Com a gravidade do quadro de Lorena, a única saída é o transplante de coração. No entanto, a grande preocupação era como estabilizar a pequena paciente, enquanto ela esperava pela doação. Segundo sua mãe, Larissa Monique Farias da Silva, de 31 anos, foram dados remédios à menina para facilitar a circulação sanguínea, mas a situação era tão crítica que Lorena sofreu um infarto. A parada cardíaca durou 20 minutos, “foi quando o cirurgião disse que ela não ia aguentar esperar até o transplante se não ficasse em uma máquina, que é o Berlin Heart”, disse a mãe.
O Berlin Heart é um coração artificial – o melhor para crianças com menos de 20 Kg, de acordo com especialistas entrevistados pelo G1. Essa tecnologia faz o trabalho dos ventrículos do coração e é implantada para fora do corpo. No caso da pequena Lorena, foram necessários dois Berlin Hearts, dois corações artificiais. São pequenas bombas que servem para poupar o esforço do coração.
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Por ser um método de implante externo, o Berlin Heart não precisa ser trocado conforme a criança cresce e pode ser usado por mais de um ano. No entanto, a menina de 1 ano não pode sair da UTI do hospital até a data do transplate, já que precisa de acompanhamento médico constante, medicação diária e do maquinário responsável pelo funcionamento dos corações.
Mesmo com a gravidade da situação, Larissa apenas conseguiu com que sua filha fizesse o implante um dia antes da cirurgia. A tecnologia do Berlin Heart não é comum no Brasil, isso faz com que o plano de saúde demorasse para permitir o implante, o que levou Larissa à justiça. “Nesse meio, em uma semana, eu lutando para conseguir a autorização, ela teve mais quatro paradas. De uma vez”, alega a mãe.
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A menina agora sobrevive com seus dois coraçõezinhos. Foi destubada, começou a receber os alimentos de forma oral e agora interage mais com os pais. Larissa e seu marido, Renato Luciano Torres, 34, que largaram seus trabalhos em Maceió para o tratamento de Lorena, passam dias e noites com sua filha, em uma poltrona ao lado do leito da menina. Enquanto o coração da filha deles não aparece, os pais fazem campanhas de doações de órgãos.
Recebendo os cuidados e o carinho da médica Filomena Galas e sua equipe a família continua na fila de espera, sonhando com o dia que a pequena Lorena possa receber seu coração. Larissa conhece as dificuldades, mas nunca perde sua esperança: “É difícil aceitar a questão da doação, principalmente em se tratando de criança, uma questão bem delicada. Mas o que eu falaria aos pais [de um doador] é que tivessem a consciência de que doando o órgão de um filho, seja o coração ou outro órgão, vai salvar a vida de outra criança. E ele vai saber que o coração do filho dele está podendo bater no peito de outra criança”.
Você pode acompanhar a trajetória da bebê Lorena através da conta no Instagram criada para ela @lorenaguerreira2017.
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