Ataques a Joanna Maranhão: o Brasil mostra a sua cara. E ela é bem feia
A nadadora bateu pesado contra os agressores que querem vê-la morta, afogada e estuprada mais uma vez
Eu amo o meu país. Mas ele tem uma persona rancorosa escondida atrás de uma faceta odienta e bem dissimulada. Felizmente, está se tornando pública. Caiu o mito de que somos uma nação generosa; a pátria amada e gentil que “mantinha” relação cordial com as minorias, os pretos, os pobres, os gays, as mulheres. Não, não somos nada cordiais. Desce a máscara e quem tira é gente de petulância, como Joanna Maranhão, a nadadora que saiu da piscina de cabeça erguida ao ser eliminada da Olimpíada 2016. Mulher que não apanha calada, entrou ao meio-dia desta sexta (12/8) na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no Rio, para fazer uma denúncia. Encontrou na delegada Daniela Terra uma policial que não enrola: já identificou alguns agressores da atleta e declarou que eles podem ser enquadrados em crime de injúria, difamação e ameaça. Brasileiros maus, torpes e covardes atacaram a atleta nas redes sociais. “Desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que seja estuprada. Dizer que a história da minha infância seja algo que eu inventei para estar na mídia já ultrapassa (o limite)”, afirmou ela.
O que está na gênese da agressão? Mais do que comportamento de torcedor apaixonado e em profunda decepção com a atleta que perde em nosso nome, reina a fúria. Se fosse apenas paixão pelo uniforme verde-amarelo, os rancorosos teriam mandado a seleção do Felipão se enforcar na trave do gol depois do 7×1 da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014. Ninguém revolveu o passado de David Luiz, Fred, Julio Cesar, Maicon, Hulk e cia. para achincalhar a vida pessoal deles. A revanche sobre Joanna se deu porque ela denuncia. Faz escolhas políticas. Opina. Quer um país melhor para todos os brasileiros. E – simples assim – porque Joanna é MULHER.
Uma lei se chama Joanna
Em 2008, a nadadora revelou que, aos 9 anos, havia sido abusada sexualmente por seu treinador e que isso acontece na vida de muitos atletas pequenos e outros meninos e meninas. Sensibilizou o país. Em 2012, entrou em vigor uma lei que estende o prazo de prescrição do crime de estupro de crianças. Antes, o horror prescrevia sem punição, porque uma criança não denuncia. Quando ela ficava adulta, tinha clareza e podia fazer a acusação, havia passado o prazo de processar o estuprador. A lei ganhou o nome da nadadora.
Política
Várias vezes atingiram Joanna por ela se manifestar contra o conservadorismo do Congresso Nacional, a redução da maioridade penal e políticos como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. Sobre o ouro da judoca Rafaela Silva, ela lembrou: “Quem nos ataca não sabe o sufoco que passa o atleta brasileiro. A Rafaela Silva, há quatro anos, não tinha nada, mas com a ajuda dos programas do governo conseguiu essa medalha”.
Ser mulher
Quando um homem erra, tem baixo desempenho ou desagrada à torcida em campo, no tatame e no palanque, ele recebe vaias, sim. Em geral, fica nisso. O episódio que envolve mulher tem proporções ampliadas e danosas. Não é só a sua performance pública o alvo, mas a sua moral, a sua alma. O presidente interino Michel ouviu o coro: “Fora Temer” na abertura da Olimpíada no Maracanã. Na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em São Paulo, ouviu-se: “Ei, Dilma, vai tomar no C.”. E mais as palavrinhas vaca, puta, sapata.
É preciso fibra para estar exposta ao sol e às trovoadas. Joanna Maranhão tem as costas largas de três maneiras. Suas braçadas n’água a fizeram forte, com troncos expandidos, saudáveis, que ficam lindos e sexy quando estão à mostra. No dito popular, ela tem costas largas por ter poder (que ela própria construiu). Num outro sentido, a expressão significa acostumar-se a carregar muitas coisas pesadas e a suportar a dor.
Ela pula com os dois pés no peito
Eliminada da fase classificatória dos 200 metros borboleta dos Jogos Olímpicos, Joanna Maranhão mostrou as costas e puxou a máscara. Afirmou que o Brasil é, sim, preconceituoso, machista, racista, homofóbico e xenófobo. E também alérgico a nordestinos – ela, entre eles.
DESTACO, abaixo, a Joanna que emergiu das águas ainda mais brasileira nesta Olimpíada: