Testamos o Futuro, burger de planta com gosto de carne
Da textura ao sabor - tem até "sanguinho"-, o hambúrguer é uma alternativa pra quem adora carne, mas quer consumir menos produtos de origem animal.
Olhe bem pra esta foto aí de cima. Se você não tivesse lido o título da matéria, você não diria que este hambúrguer é de carne? Pois olhe de novo, ele é totalmente feito de plantas.
Batizado de Futuro Burger, ele é uma criação da Fazenda Futuro, e se propõe a ser, de fato, uma evolução ao consumo de carne, tema que é preocupação mundial. Muito se fala sobre encontrar alternativas viáveis à produção animal, que poderiam suprir a quantidade necessária de proteína que precisamos, mas sem os malefícios atribuídos à pecuária.
E o timing é bem certo. Recentemente, o relatório “Perspectivas Agrícolas 2019-2028”, distribuído pela agência da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), alerta para um crescimento no consumo de lentilhas, feijão e outras leguminosas, como fonte de proteína nos próximos anos.
Lá fora, startups como a Impossible Foods e a Beyond Meat são duas foodtechs expoentes que estudam o “plant based” (conceito que exclui consumo de origem animal) e já soltaram no mercado suas criações que emulam carne, mas totalmente feitas de plantas. E causou barulho. Claro que este tema é muito amplo para ser resolvido com um mero hambúrguer. A ideia a longo prazo pode até ser sanar a fome mundial, mas por enquanto, as empresas que se aventuram nesta área estão em fases de testes de componentes, melhorando o sabor, descobrindo parceiros…enfim, o caminho ainda está sendo traçado.
Quando ficamos sabendo que a Lanchonete da Cidade estava trabalhando com o Futuro Burger, bateu aqui na redação, a maior curiosidade de experimentar o lanche. Na realidade, descobrimos que são os lanches, no plural mesmo, já que a hamburgueria decidiu apostar com força nesta tendência e disponibilizar o Futuro como opção de proteína em todos os sanduíches da casa. Sim, com maionese, queijo, bacon, ovo…o que o cliente preferir. E há claro, uma versão completamente vegana também.
A estratégia pareceu render bons frutos pra Lanchonete. Antes conhecida pelos sanduíches de carne bovina, o burburinho em torno do Futuro gerou interesse dos carnívoros curiosos e também dos vegetarianos/veganos que decidiram dar uma chance à hamburgueria. Só na primeira semana foram vendidos 5000 lanches com a carne vegetal.
A gente experimentou e te conta ali embaixo, mas antes, vamos entender do que ele é feito.
Eita, mas qual a diferença com um hambúrguer vegano?
A ideia aqui é que pareça MESMO que você está consumindo carne. Da textura até a suculência, do sabor até os valores protéicos. De acordo com a marca, eles querem ser uma alternativa para quem gosta de um bom burguer de carne, entregando o mesmo sabor, só que mais sustentável e saudável.
Resultado de estudos desde 2017, o Futuro é uma mistura de proteína de ervilha, proteína de soja e de grão de bico. Tudo sem glúten e sem transgênicos. A beterraba entra pra dar cor similar à de carne vermelha e suculência. “A criação começa com um grande aprendizado e entendimento da própria carne bovina e seus componentes – aminoácidos que compõe a proteína animal, cadeias lipídicas que proporcionam sensação de gordura, compostos voláteis provenientes do sangue bovino, até a caramelização dos açúcares presentes na carne. Tudo isso só foi possível por um misto de testes sensoriais e inteligência artificial”, explica Marcos Leta, um dos fundadores da Fazenda Futuro e do Sucos Do Bem.
Diferente dos hambúrgueres que misturam grãos, este usa apenas a proteína filtrada dos produtos. Isso garante, segundo os produtores, um valor nutricional muito próximo ao da carne vermelha, mas com uma quantidade menor de gordura. São 17g de proteína em um hambúrguer de 160g contra 26g de um bife bovino de 100g.
E o preparo é igual, basta ir na chapa ou na grelha. Fica a seu critério usar ou não óleo no cozimento. E ele é até menos perecível do que o de origem animal na hora de armazenar.
O Futuro é para todos
Sim, a ideia é atingir os veganos que tem saudade de comer carne e os carnívoros que buscam um consumo mais consciente. “Queremos ser uma alternativa sustentável e saudável à proteína animal. Ou seja, ao desenvolvermos tecnologias capazes de criar alimentos sem origem animal idênticos em sabor, textura e cheiro de carne, queremos mostrar que é possível revolucionar a indústria alimentícia sem causar um impacto negativo ao meio ambiente”, explica Marcos.
Vale ressaltar dois dados que ajudam a dar um panorama do que os produtores da chamada “carne limpa” enfrentam hoje. Se por um lado, o Brasil é o 6ª país que mais consome carne no mundo, segundo dados da OCDE, 14% dos brasileiros declaram-se vegetarianos, segundo um relatório do Ibope de 2018 encomendando pela Sociedade Vegetariana Brasileira. Ou seja, é difícil mudar hábitos alimentares intrínsecos. No entanto, somam-se aos vegetarianos e veganos, os carnívoros que buscam alternativas pra diminuir o consumo de carne, preocupados com a saúde, o bem-estar animal e as alterações climáticas decorrentes da pecuária. Bom, mercado tem, né? Além da Fazenda, a Seara e a Superbom também estão no segmento.
E o plano de Marcos é ambicioso: se tornar competitivo o bastante pra concorrer diretamente com os frigoríficos. “Minha meta é simples: evoluir com novas versões da nossa carne e chegar em um volume de carne de vegetais que se torne mais barato do que carne de origem animal”, aponta Leta, que já estuda uma versão 2.0 do Futuro Burger para logo.
Além da Lanchonete da Cidade, o produto também está sendo oferecido no cardápio do The Black Beef, Red Burger, Balada Mix e T.T Burger, entre outros, e em breve chega também ao Spoleto. No supermercado, você encontra no Pão de Açúcar, Extra, Carrefour, Makro e Sam’s Club, com preço médio de R$16,90 (a bandeja com dois hambúrgueres). Ah! E fica na gôndola de carne, viu?
Testamos, testamos!
Ufa, depois de investigar bastante sobre o burguer de plantas, decidimos ir uma Lanchonete da Cidade pra experimentar esta novidade. Pedimos os lanches X-salada com Futuro Burger (R$ 22) e o LC Futuro (R$ 29), a mesma versão do lanche só que com pão, maionese e queijo veganos. A média do preço dos lanches com carne bovina de 110g é de R$ 20 e com Futuro Burger é cerca de R$ 3 a mais.
O que a carnívora achou? – Fernanda Tsuji, editora do MdeMulher
“Eu me considero uma carnívora moderada. Gosto, mas consigo viver bem sem proteína animal por alguns dias. Sou adepta da #segundasemcarne, entendo o consumo consciente de animais e sempre que vejo uma opção de burger vegetariano interessante, provo. Por isso, fiquei bem curiosa quando fiquei sabendo do Futuro. Na realidade, o que mais me deixou intrigada foi o fato dele ter sido fruto de um estudo que precisou até “hackear” os componentes, diferente dos burgers veganos que são criados por chefs. Como assim ele é completamente feito de planta? Fui provar já com uma impressão de que teria um gosto bem artificial, característico de produtos que tentam emular o sabor de carne. E também já esperava aquela textura esponjosa de carnes de soja, mas olha, não era nada disso.
Primeiro ponto que me agradou: a textura. Sim, é completamente diferente de qualquer um que eu tenha provado antes. A resistência que oferece na mordida é como se você estivesse mastigando proteína animal fibrosa mesmo. O sabor não era tão artificial como eu imaginava, mas bem defumado. Lembrava mais uma linguiça do que um hambúrger bovino.
Bem suculento, ele chega a derramar “sangue” de beterraba mesmo. Esta foi, sem dúvida, a melhor parte e o que eu considero o maior diferencial. Só fiquei um pouco menos impressionada com a versão totalmente vegana – em que a maionese não levava ovo nem leite e com queijo vegano. Ele veio mais sequinho da chapa e perdeu os líquidos da outra versão ovo-lacto vegetariana. Eu culpo o queijo, que nesta versão vegan, não é oleoso.
Fiquei me sentindo saciada o dia todo. Meu veredicto é que todo mundo devia provar pra ter a sua opinião. Eu, com certeza, pediria de novo. Comer também é se aventurar, né “
Palavra da vegetariana – Júlia Warken – editora do MdeMulher
“Desde os 13 anos eu não como carne vermelha e, gradativamente, parei com o porco, o frango e, por último com o peixe e os frutos do mar. Essa escolha veio de maneira muito natural para mim, especialmente no que diz respeito à carne vermelha. Decidi tirá-la do cardápio numa época em que não conhecia nenhum vegetariano – e as redes sociais ainda não existiam -, pois não me fazia bem em diversos aspectos.
Com isso, posso dizer que as carnes não me apetecem e, portanto, não busco por produtos que “pareçam” ser carne, mas obviamente fiquei muito curiosa para provar o Futuro Burger. Novidades gastronômicas – que não envolvem carne – sempre me empolgam.
Experimentei o burger num sanduíche clássico, com maionese, alface, tomate e queijo – em versões vegana e ovo-lacto vegetariana. Na primeira mordida, achei o sabor esquisito, de fato parecia algo que lembra carne, mas eu fiquei um pouco confusa com o sabor. É porque se parece com linguiça – e eu não como uma linguiça há mais de 10 anos, então rolou um estranhamento.
Ao longo das mordidas, fui me “acostumando” com o sabor e gostei da experiência, mas, ao final, posso dizer que o gosto é enjoativo e um tanto quanto artificial para o meu paladar. É por causa do tempero defumado, que, particularmente, não me agrada muito.
Quanto à textura, ela é muito agradável. Lembra a das salsichas vegetarianas processadas – como a da Superbom, que é vendida em lata nos mercados – só que mais suculenta. A umidade presente no Futuro é, na minha opinião, o ponto alto do produto.
Também vale dizer que o sabor é bem pronunciado, o que também é um diferencial bacana. Boa parte dos burgers vegetarianos disponíveis nos mercados e restaurantes são secos e insossos, o que é decepcionante. O Futuro ganha pontos nesse quesito.
Ao final, reconheço boas qualidades no produto, mas não é para o meu paladar. Se você é vegetariano e sente falta de linguiça e carnes em geral, talvez vire fã do Futuro. Se você come animais, mas está aberto a outras alternativas culinárias, também pode virar freguês. De qualquer maneira, com certeza vale a pena experimentar, pois é uma experiência gastronômica interessante.”