Desde o início do isolamento social, apenas no estado de São Paulo, houve um aumento de 46,2% na quantidade de feminicídios, informa relatório divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). No país como um todo, o total cresceu 22,2%. Casos de violência doméstica contra mulheres também aumentaram: enquanto em março de 2019, a Polícia Militar paulista realizou 6.775 atendimentos a vítimas, este número subiu para 9.817 em 2020.
A preocupação com este crescimento tem resultado na criação de redes de apoio, campanhas e ações nas redes sociais para fornecer ajuda e orientação às mulheres. É o caso do projeto Taliberta, uma websérie idealizada pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti. Dividida em um total de seis episódios, as lives da iniciativa vão ao ar todos os sábados no Facebook e Youtube da instituição, sempre com novas convidadas discutindo temas como, por exemplo, a identificação do que constitui um relacionamento abusivo e como encontrar ajuda em caso de violência.
“Existem muitos atores envolvidos no combate a este tipo de crime. Queremos que todas as mulheres tenham acesso ao máximo de informação possível sobre como procederem em casos de agressão ou ameaças e onde podem ser atendidas. Nosso intuito é alcançar o máximo de pessoas possível para que elas saibam como agir e se sintam mais seguras para denunciar”, afirma Helena Taliberti, presidente e fundadora do Instituto. Criado em julho de 2019, ele homenageia seus filhos Camila e Luiz Taliberti, vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho, e trabalha com a defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.
A própria ideia do projeto foi inspirada no trabalho voluntário que Camila, fazia em comunidades carentes, prestando orientação jurídica a mulheres que sofreram violência doméstica. “A agressão às mulheres envolve vários aspectos que não dão para serem tratados em um único episódio, por isso é uma série. Ela abrange o relacionamento abusivo, a proteção, o que fazer, como superar e, por fim, a inserção em redes de apoio porque é preciso que as mulheres saibam que não estão sozinhas”, conta Helena. Ela diz que fica sempre pensando no que os filhos fariam diante da situação que estamos passando e sente que seria exatamente isso que Camila faria. “É como se ela estivesse aqui. Cabe aos vivos, nós, a imortalidade daqueles que se foram.”
No episódio deste próximo sábado (20), que irá ao ar às 12h, a discussão gira em torno do que fazer quando se é vítima. A jornalista e mediadora Mariana Kotscho conversará com as convidadas Mafoane Odara, psicóloga e ativista, e Miriam Vasserman, da Federação Israelita. “Vamos falar sobre iniciativas da sociedade civil no combate à violência doméstica e também das vítimas. Todas as mulheres vítimas de violência doméstica precisam de orientação, acolhimento e segurança, especialmente as mulheres negras, que são as mais atingidas”, explica Kotscho.
Como ativista da causa e coordenadora de um grupo do Facebook que oferece acolhimento e orientação às vítimas de violência doméstica, ela afirma ser cada vez mais necessário debater este assunto, sobretudo para conscientizar a população sobre a importância de denunciar. “Quem sabe que uma mulher sofre agressões e não faz nada, é conivente com a violência. […] Falar e denunciar acaba criando uma rede de proteção e de prevenção.
De proteção porque a mulher que está num relacionamento abusivo descobre maneiras de sair dele com segurança. E de prevenção para que outras mulheres se conscientizem para sequer entrar numa relação dessas.”
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