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O amor de mãe e filha construído por Thelma e Yara Assis

A médica e vencedora do Big Brother Brasil 20, Thelma Assis, escreveu uma carta emocionante à sua mãe Yara Assis, que também conversou com CLAUDIA

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 Maio 2020, 23h58 - Publicado em 9 Maio 2020, 18h10
 (Reprodução/Acervo pessoal)
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Por três meses, a porta não abriu no horário habitual. Nesse período, o coração apertou do mesmo jeito que acontecia até janeiro, quando a filha demorava um pouco mais a voltar do trabalho e dar uma passadinha na casa dela para falar da vida e dar um beijo. Em 35 anos, essa foi a primeira vez que Dona Yara Assis, 70 anos, professora e funcionária pública, ficou tanto tempo distante da filha, Thelma Regina, vencedora da última edição do Big Brother Brasil (BBB).

Pra quem tem nome composto, como eu, sabe que quando a mãe fala os dois, é que complicou pro nosso lado. Mas Dona Yara conseguiu desmistificar essa lenda. Os adjetivos que usa para descrever a filha são afáveis, leves, mas também fortes e com os dois pés no chão. Desde os 15 anos, ela tinha a certeza de que a maternidade seria um capítulo da sua vida.

“Sempre tive o sonho de maternar uma criança, mesmo que não gerasse ela na barriga; queria um filho do meu coração, que você ama sem nem conhecer e saber de onde veio. Realizei esse sonho com a Thelma“, contou Yara, que compartilhou a expectativa e criação da filha com o marido Carlos Alberto de Assis, falecido há 11 meses. Nosso combinado antes da entrevista era não falar sobre a adoção de Thelma, mas o assunto acabou surgindo naturalmente, em tom leve.

Thelma e Dona Yara
(Reprodução/Acervo pessoal)

Para quem está de fora, a dor e a dificuldade parecem ser sirenes luminosas, como de viaturas policiais, chamando toda a atenção. Só que Dona Yara vem na contramão, abrindo a caixinha que reduz histórias com múltiplas camadas. Os caminhos de uma mulher negra se encontram em pontos delicados, que cobram de nós uma resposta e até a luta por sobrevivência, mas que também convergem na superação e na conquista. Para Dona Yara, esse ponto merece ser celebrado, afinal, o caminho teve muito suor.

“Sempre fui uma moça com esperança na vida por mais que não tivesse condições, sempre acreditei. Com 12 anos, fui me tornando independente do meu pai. Sempre gostei de ter meu dinheirinho, fazia unha de amigas. Cresci essa mulher e passei pra minha filha. Isso me dava ainda mais força pra criar ela”, comenta a professora.

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Sobre a entrada da filha na faculdade de medicina, Dona Yara lembra que já estava feliz com ela estudando serviço social, curso que frequentou antes de ser aprovada em medicina. “Quando chegou a carta informando que a Thelma tinha passado em medicina, foi um dos momentos mais alegres. Depois, na rodoviária, vendo o ônibus indo embora, meu coração ficou apertado, mas por um bom motivo. Nunca duvidei que ela conseguiria realizar esse sonho”, diz orgulhosa.

O racismo se fez presente na estrutura e particularmente na vida de Thelma nessa época, o que já era esperado pela mãe. “Sempre fui aquela pessoa que falava para a família encarar os fatos de frente. Pedia para ela não abaixar a cabeça para ninguém e dizia que o racismo existe e que ela iria encontrá-lo. E encontrou, mas conseguiu contorná-lo”, afirma Yara.

No BBB, não foi diferente, mas Dona Yara comenta que já estava preparada para isso. Ela conta que só assistia ao programa para matar a saudade da filha. “Sou muito orgulhosa do que ela conquistou, independente dessa última vitória, é uma médica formada e feliz com a vida. E falava com frequência a ela: ‘Thelma, junte os três dedinhos: querer, poder e vencer’”, conta Yara, que escutou da filha na despedida para o confinamento que não era para chorar, pois o momento era de muita alegria. E como foi!

Vizinhas de prédio, com apenas um andar as separando, o Dia das Mães na família Assis será diferente por conta do distanciamento social contra o novo coronvírus. “Um pouquinho longe, porque sou do grupo de risco, né? Mas faz 35 anos que passamos essa data agarradas e, no coração, vai continuar sendo assim, porque não tem o que nos separe”, garante Dona Yara.

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Para deixar a data ainda mais especial às duas, convidamos a médica e vencedora do BBB, Thelma Assis, para escrever uma carta à mãe, Yara Assis. Palavras de amor e agradecimento que diminuem qualquer distância.

casamento thelma
(Reprodução/Acervo pessoal)

“Querida mãe, Yara Maria dos Santos Assis,

As pessoas têm me chamado de rainha, mas eu enxergo que a verdadeira rainha dessa história é você. Afinal, toda a base que precisei para subir cada degrau que me trouxe até aqui e a força que necessitei nos momentos de dificuldade foram tiradas de você. Queria dizer que te amo muito, que você é o grande amor da minha vida, que o nosso amor não cabe em uma vida só, é amor para outras vidas. Vou estar sempre aqui para cuidar e te ajudar.

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Estamos passando um Dia das Mães diferente, ao mesmo tempo, muito feliz pelas realizações que a vida tem nos proporcionado. Em contrapartida, confinadas, cada uma no seu cantinho, sem poder comemorar muito bem tudo isso. É, eu ando um pouco afastada, eu sei, devido a essa mudança que vida trouxe pra mim. É como se ela tivesse virado 180 graus, mas você sempre está presente no meu pensamento e coração.

Esse momento de confinamento é um misto de sensações: medo, insegurança, ansiedade, mas também alegria por tudo o que estamos vivendo. Por isso, acredito que seja um tempo para refletir, valorizar as pequenas coisas, os pequenos gestos do dia a dia, que não damos tanto valor. E, nesse Dia das Mães, o que a gente mais queria era poder ficar o tempo inteiro abraçada, sair pra almoçar, coisas que nem exigem tanta complexidade nem tanto dinheiro, mas que seriam muito especiais se pudéssemos viver. Rezo sempre para a gente voltar a viver tantos momentos bons juntas.

Espero ter te orgulhado, a gente passou por momentos muitos difíceis há poucos meses atrás, no falecimento do meu pai, e hoje a gente se encontra em uma fase tão feliz. Acredito que a vida é assim mesmo, feita de altos e baixos pra todo mundo. E o que me deixa mais tranquila e feliz é saber que estamos sempre unidas, feito unha e carne.

Nos próximos Dias das Mães, espero que você possa ganhar não só presentes de filha pra mãe, mas também de seus futuros netos, que você quer muito. Sei que será uma avó maravilhosa, um pouco ciumenta, mas maravilhosa. Graças a Deus, após esse Big Brother, tive a comprovação de que o seu coração com 70 anos continua firme e que ele possa bater ao meu lado por muitos anos, porque te amo muito. Se cuida e fica com Deus.

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