Mouhamed Harfouch: “Sou um pai que acorda à noite, troca fralda, dá banho, faz tudo”
Filho de um sírio com uma brasileira, o ator busca nas origens inspiração para o seu trabalho
“Meu pai é sírio. Tenho orgulho em retratar a origem dele. Não porque é meu pai, mas porque é a história de muita gente que colonizou este país”
Foto: Márcio Nunes
Em Amor à Vida, o carioca Mouhamed Harfouch, 36 anos, sofre com um amor impossível, já que seu personagem, o médico muçulmano Pérsio, se apaixona pela colega judia Rebeca (Paula Braun). Filho de um muçulmano sírio com uma brasileira, na vida real, o ator vive uma tranquila história de amor com a mulher, a empresária Clarissa Eyer, 32, com quem tem Ana Flor, 1 ano e 5 meses. Ao lado da filha, ele assume que vira um pouco criança. “Quando nos juntamos, não sei se protejo ou se dou ideias ruins, porque subo no sofá, faço umas coisas meio doidas”, disse ele rindo.
Você é do tipo de pai que faz tudo, dá banho, troca fralda?
Sou. Recentemente, fui para Portugal e fiquei quatro dias longe da minha filha. Ela acordou duas vezes de madrugada, chorando, chamando “papai”.
Pensam em ter outro filho?
A gente não tem babá, porque queríamos muito ficar com ela. São os primeiros anos de vida… Temos uma pessoa que trabalha em casa e que minha filha adora, isso ajuda muito. Sou um pai que acorda à noite, troca fralda, dá banho, faz tudo. Minha mulher também. Sinto que isso a tornou uma criança segura. Não é fácil, mas é recompensador. Para ter outro filho, teríamos de ter uma babá, porque não dá para gravar novela, fazer teatro, viajar e cuidar (de mais um bebê). Nós queremos muito outro filho, mas vamos esperar o momento certo.
De onde vem sua família?
Meu pai é sírio. Veio para o Brasil com 18 anos. Aprendeu a falar e escrever em português. Mas teve uma vida muito sofrida, vendeu limão, fez bijuteria, dormiu em banco de praça, lutou demais. Por isso tenho o maior orgulho em retratar sua origem. Não porque é meu pai, mas porque é a história de muita gente que colonizou este país. O nome dele é Nadim (64), mas todo mundo o chama de Aladim (risos). Minha mãe (Maria Aparecida, 59) é brasileira. Foi uma emoção ir para Portugal, porque por parte de mãe sou português, meu avô era português e minha bisavó era portuguesa. Sou um brasileiro misturado. Meu avô não é mais vivo, mas lá estava impregnado dele, da minha história, minha infância. Por meio dos personagens árabes que fiz, me redescobri, pois sou um cara totalmente ocidentalizado, criado na Igreja Católica.
Não se incomoda em fazer tantos papéis de árabe na TV?
Eu não me incomodo, é a minha história, minha família, minha origem. Não me preocupo por ser o terceiro papel de árabe, porque Pérsio é diferente. Já fiz tantos brasileiros no teatro e ninguém diz que está na hora de fazer um alemão! A gente quer é contar uma boa história.
Sua mulher é advogada. Ela tem ciúme da sua profissão?
Ela é como eu: também sou advogado, mas larguei a profissão. Clarissa tem uma empresa de cerimonial de casamentos. Ela me apoia e dá a maior força. A novela das 9 tem cenas de beijo um pouquinho mais calientes, mas ela nunca reclamou de nada. É uma parceira fantástica.
E o Mateus Solano? Já que as cenas são com a mulher dele, Paula Braun…?
Ele é a maior figura! Vive brincando comigo: “E aí, como está sendo beijar a minha mulher?” Mateus é um ator maravilhoso, um cara muito educado e gentil, que entende o que é a profissão e verdadeiramente transpira ela.
ESTA MATÉRIA FAZ PARTE DA EDIÇÃO 2000 DA CONTIGO!, NAS BANCAS EM 15/01/2014.
Em recente viagem a Portugal, Mouhamed encontrou suas raízes por parte de mãe
Foto: Márcio Nunes