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Marcelo Serrado: “A troca de ideias anda difícil, as pessoas estão agressivas na internet”

Enquanto dá vida a um deputado de índole duvidosa na segunda fase da novela Velho Chico, o ator Marcelo Serrado, 49 anos, assume posição firme contra a corrupção

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 27 out 2016, 23h29 - Publicado em 24 abr 2016, 07h00
Jorge Bispo
Jorge Bispo (/)
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Depois de passar meses ensaiando em frente ao espelho, o jovem Marcelo Serrado, então com 15 anos, tomou coragem e convidou uma amiga que paquerava para passar o fim de semana em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Juntos, os adolescentes aproveitaram os dois dias mergulhando no mar e, à noite, vendo as estrelas deitados na areia da praia. Nas duas horas de viagem de volta para casa, ele tentou pegar na mão da garota, sem sucesso. “Tínhamos ficado o tempo todo juntos, no maior clima romântico, e eu fui incapaz de dar um beijo nela. Ali, vi que tinha que mudar”, lembra o carioca. No dia seguinte, matriculou-se em um curso de teatro. Nunca conquistou aquela garota, mas ganhou uma profissão. Depois de se formar em artes cênicas pela Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), uma das escolas mais conceituadas do Rio, foi para o Teatro Tablado, onde estudou, virou professor e atuou em peças. A estreia na TV aconteceu aos 20 anos, na novela Corpo Santo, da extinta Manchete, em 1987. Hoje, aos 49, Serrado soma mais de 100 personagens no currículo. Atualmente, ele está ar como o vilão Carlos Eduardo na segunda fase de Velho Chico, novela das 21 horas da Globo.

O papel deu a Serrado a oportunidade de mergulhar em um tema que lhe é muito caro: a política. Carlos Eduardo é um deputado sem escrúpulos. O ator jura que não se inspirou em nenhuma figura específica, embora tenha passado dois dias em Brasília, entre o Senado e a Câmara Federal, buscando elementos para a composição do personagem. Na vida real, faz parte de um grupo de atores engajados na campanha 10 Medidas contra a Corrupção, promovida pelo Ministério Público Federal, cujo objetivo é levar ao Legislativo propostas para tornar o enriquecimento ilícito crime hediondo e diminuir a impunidade no país. “Não sou de nenhum partido, mas a favor da mudança. Trabalho bastante, pago o colégio dos meus filhos, plano de saúde e serviços que deveriam ser prestados pelo poder público. A recessão está atingindo todas as classes sociais. Também precisei cortar gastos e fico de olho nas promoções dos supermercados.”

Tão frágil quanto o equilíbrio do orçamento está a liberdade para falar da situação política atual. Recentemente, Serrado foi alvo do patrulhamento das redes sociais devido a seu envolvimento com o tema. “A troca de ideias anda difícil, as pessoas estão agressivas na internet. Cheguei a combinar com uma amiga que não falaríamos sobre o assunto para não destruir a relação”, conta.

O grande estouro

O tom circunspecto com que o ator fala de política desaparece na hora de relembrar trabalhos emblemáticos – afinal, ele teve boas oportunidades de mostrar ao público seu talento para a comédia. Em 2011, Crodoaldo Valério, o mordomo gay de Fina Estampa, garantiu ao carioca todos os prêmios a que concorreu, inclusive o da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). “Minha profissão é instável e competitiva. O Crô me deu a segurança de saber que estou no caminho certo”, diz. A popularidade do personagem foi tamanha que até hoje ele é chamado de Crô nas ruas. “Estava no Recôncavo Baiano, fazendo laboratório para Velho Chico, e os moradores me pediam para imitá-lo. Ele entrou para a galeria de tipos inesquecíveis da TV, ao lado de Sinhozinho Malta e Nazaré Tedesco”, avalia, orgulhoso. O ator chegou a ter um programa de rádio em que fazia a voz do mordomo e gravou um longa-metragem, Crô, o Filme, assistido por mais de 1,5 milhão de espectadores. A bilheteria da produção desbancou a do americano Jogos Vorazes – Em Chamas. Não à toa, a volta de Crô em um seriado está nos planos da Globo. O papel foi o resultado de muito trabalho, mas ele credita um pouco do estrelato a uma dose de sorte. “É uma profissão que causa muita inveja. Por isso rezo, me benzo, ando com medalhinha…”

Em busca de equilíbrio

Marcelo Serrado é do tipo que faz teatro, novela, seriado e cinema – tudo ao mesmo tempo. Tanto que está há dois anos sem férias. Em dezembro, permitiu-se um breve descanso de dez dias, ocasião em que se dedicou a surfar com os amigos. Entre os planos do ator para quando conseguir uma brecha mais generosa na agenda está uma lua de mel na Tailândia com a mulher, a pedagoga Roberta Fernandes, 32 anos. Os dois se conheceram em uma festa em 2011 e se casaram no ano seguinte. Em abril de 2013, vieram os gêmeos Felipe e Guilherme. O ator também é pai de Catarina, 11 anos, do casamento com a atriz Rafaela Mandelli.
Se no passado ele era do tipo que adorava curtir a noite, hoje prefere ficar em casa com a família. “A chegada dos filhos foi uma mudança grande na minha vida. Como ator, me tornei mais estudioso. Como homem, amadureci, perdi o ar de meninão”, conta. A paternidade também deixou Serrado mais prudente. “Eu voava de parapente, mas resolvi parar quando vi um cara se acidentando na minha frente. Disso não vou morrer”, assegura. “E passei a dirigir bem devagar, pois sou péssimo motorista”, brinca. As tardes radicais foram substituídas por longas horas no escritório de casa, momentos em que aproveita para dedicar-se a uma de suas paixões, a música – ele toca piano, gaita e violão. Chegou, inclusive, a ter uma banda, Os Impossíveis, cujo baterista era o ator Marcello Novaes. O grupo tocava MBP, pop e rock e se apresentava semanalmente em uma boate carioca.

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Embora a agenda do ator esteja sempre cheia, ele faz questão de reservar um tempo para ficar a sós com a esposa. Quando fala de Roberta, a lista de elogios parece não ter fim. “Ela é maravilhosa, ótima mãe, uma pessoa equilibrada e, principalmente, muito calma”, conta. Como todos os casais, eles enfrentam pequenas turbulências, mas cultivam uma regra para manter o relacionamento forte: jamais dormem brigados. “Ficamos até 4 da manhã conversando para resolver um problema, mas não vamos para a cama chateados. Se você fica remoendo, dorme e acorda mal. Melhor acertar logo.”

Chegando perto dos 50 anos (que completa em fevereiro de 2017), o ator garante não passar por nenhuma crise de idade, como as que sofreu aos 30 e aos 40. “O pique diminuiu e o futebol me deixa mais cansado, mas hoje em dia os cinquentões são garotos. E me cuido: procuro comer bem, pratico exercícios e tomo vitaminas”, conta ele, que não abre mão da academia e dos treinos de tênis. Em sua lista de cuidados também está o uso de filtro solar e de xampu para cabelos oleosos. Só. Nada de creme anti-idade, muito menos Botox. “Acho legal ter rugas, é sinal de que estamos vivos. Gosto mais da minha imagem hoje do que aos 20. Acho que sou como vinho, estou ficando melhor com o tempo”, diz, aos risos.

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