Linda Hamilton volta às telas no papel que a fez famosa
Em entrevista exclusiva a CLAUDIA, a atriz conta que mora em uma pequena comunidade e foge dos holofotes de Hollywood
“Eu gosto de um meme que diz ‘Seja uma Sarah Connor num mundo de Kardashians’ ”, conta Linda Hamilton em entrevista a CLAUDIA, em Los Angeles. Ela se refere à protagonista dos primeiros filmes O Exterminador do Futuro, a mulher forte, batalhadora, grávida do bebê que salvaria a humanidade.
Prestes a estrear novo episódio da franquia, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, Linda admite que resistiu por um bom tempo a voltar ao cinema com a personagem. Cedeu depois de três ligações de James Cameron – todas não atendidas –, produtor do longa e pai de sua filha, Josephine. “O tempo passou e Sarah não é a mesma de 27 anos atrás, quando estreamos. Ela ainda tem o que falar”, explica a atriz, de 63 anos.
Desta vez, no filme dirigido por Tim Miller, a mulher a ser protegida é a mexicana Dani Ramos (interpretada pela colombiana Natalia Reyes); e a guardiã, Grace (Mackenzie Davis), é uma ciborgue. O Exterminador (Gabriel Luna) é mais sofisticado, sendo capaz de se dividir em dois. Sarah Connor ainda luta contra o domínio das máquinas, mas também não está caindo de amores pela humanidade. Não peça, portanto, para ela sorrir, sob pena de levar um tiro.
A atriz não poderia ser mais diferente. Gargalha, chama a todos de querido, coração, fofo. Genuinamente calorosa em uma indústria em que isso parece quase impossível, revela que Sarah Connor atrapalhou muito sua carreira. “Perdi trabalhos porque todos me viam apenas como essa mulher forte”, diz ela. “E há muitas maneiras de ser forte. Pode ser pelo diálogo, não apenas como uma assassina com armas enormes. Estou feliz de interpretá-la novamente. Meu corpo nem tanto”, completa, comentando a tendinite e a bursite no ombro desenvolvidas nas filmagens.
Para o papel, não comeu carboidrato por um ano. “Nem fruta.” Era só carne grelhada e vegetais. Treinou três vezes por dia com Mackie Shilstone, o preparador de Serena Williams. Isso sem sair de Nova Orleans, onde mora, bem longe dos holofotes de Hollywood. “Eu procurei uma comunidade onde saberia quem está morrendo ou nascendo, onde estranhos chamam você de ‘baby’, em que não saio de casa sem parar para conversar com alguém.”
Ela continuou trabalhando em séries como Chuck e fazendo papéis pequenos em filmes modestos, mas nada que pudesse chamar demais a atenção dos vizinhos. “Fico mortificada se alguém me reconhece no bairro”, revela. Uma vez, num bar, estava jogando bilhar e ouviu sussurros: “Ela parece a Linda Hamilton, mas não pode ser, porque a Sarah Connor jogaria muito melhor”. Acostumou-se a esconder os braços musculosos, uma das marcas da personagem, sob suéteres – mas, sim, eles continuam iguais.
Na época da estreia do primeiro filme, Linda era jovem e inexperiente. Foi um desafio psicológico. “Sonhei por meses com o Exterminador me perseguindo”, conta . “Hoje, faço uma cena de morte e, quando corta, estou rindo.” No segundo longa, a barreira era física. “Mas foi empoderador”, ressalta. Pouco antes da filmagem, Linda foi abandonada pelo então marido, o ator Bruce Abbott, grávida de Dalton, seu primogênito.
“Eu queria ser a pessoa mais forte possível, tendo sido deixada com um bebê para criar. Era o momento perfeito, me dediquei totalmente ao trabalho e ao meu filho.” Foi ela quem pediu a James Cameron, diretor na época, que Sarah deixasse de ser vítima e fosse ao extremo para salvar a humanidade. “Quando se é jovem, tudo parece muito importante. Os relacionamentos, os rompimentos. Sofri e fiz os outros sofrerem. Que bom que não dura para sempre”, lembra.
Se pudesse viajar no tempo, como no roteiro de Exterminador, a atriz diria à Linda de 1984 que tudo daria certo no futuro, para ela não se preocupar. “Mas, por favor, jamais use seu cabelo assim de novo”, diverte-se.