Javier Bardem fala sobre como é contracenar com Penélope Cruz
Em cartaz com Mãe! e prestes a chegar às telas como Pablo Escobar ao lado da mulher, Penélope Cruz, o ator fala do encontro dos dois dentro e fora do set.
Olhos grandes, pálpebras pesadas, nariz torto, voz grave. Javier Bardem, 48 anos, tem as características físicas ideais para interpretar vilões insólitos, como o assassino de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) e o cyber-terrorista Raoul Silva, de Skyfall (2012), considerado por alguns críticos o melhor antagonista de James Bond em toda a saga 007 no cinema.
Mas, sentado em uma cadeira de acrílico, de terno azul-marinho e os cabelos bem penteados, em coletiva durante o Festival
de Veneza, em setembro, Javier tem uma presença menos ameaçadora. Ele mesmo faz a cortesia de cair na risada para desarmar os jornalistas. “Sou narcisista. Por isso estou aqui”, ironiza. Para muito além dos vilões, interpreta personagens complexos. Sua filmografia reflete, na verdade, versões múltiplas de masculinidade, sendo ele mesmo uma espécie de ideal moderno disso, que valoriza mais a sensibilidade que a força física.
Ideais e estereótipos de masculino e feminino são, aliás, uma das leituras possíveis do horror psicológico Mãe!, em cartaz agora. Javier é Ele, um poeta misterioso e narcisista (rá!) casado com Mãe (Jennifer Lawrence), uma mulher generosa que se dedica à reforma da casa do marido, destruída por um incêndio. A relação deles é testada quando recebem visitas inesperadas – e é basicamente isso o que podemos dizer sem dar spoiler. “É uma história sobre amor, devoção e sacrifício. Mas há muitas camadas e interpretações. Cada um vai se ater a uma”, explica, vagamente, o ator.
Menos secreta é a trama de outro projeto de Javier. A biopic Loving Pablo, sobre o caso de amor entre o traficante Pablo Escobar e a jornalista Virginia Vallejo, vivida por Penélope Cruz, ainda sem data de estreia aqui. O filme é seu encontro mais recente nas telas com a mulher. Os dois atores espanhóis se conheceram em 1992, no set de Jamón, Jamón. Levou quase 20 anos para se reencontrarem em cena, em Vicky Cristina Barcelona (2008). Na época, Penélope já era uma estrela hollywoodiana e Javier seguia pelo mesmo caminho, recebendo prêmios, como um Oscar de melhor ator coadjuvante, em 2008, por Onde os Fracos… No ano seguinte, ela também ganhou seu primeiro Oscar, pela Maria Elena de Vicky Cristina Barcelona – #powercouple.
Só tornaram o relacionamento público em 2010, quando se casaram. Dois filhos e quase dez anos depois, o ator destaca a importância do primeiro encontro pré-fama. “Temos uma história. Nos conhecemos no início e isso é importante porque, quando nos encontramos mais tarde, eu a enxerguei e ela me enxergou.”
Depois de tanto tempo, trabalhar juntos novamente, agora como marido e mulher, tem seus desafios. “Isso realmente instiga a criatividade, no sentido em que somos forçados a criar algo novo porque não queremos misturar o que estamos fazendo em cena com quem somos”, conta. “Chegamos a um ponto em que os personagens eram como brinquedos. Podíamos ser cruéis um com o outro, sabendo que aquilo não pertencia a nós. No final, deixávamos o set numa boa. Não levei o Escobar para casa nenhum dia.”
Da Itália, Javier e Penélope, que ouvia da plateia silenciosa e atentamente as colocações do marido, seguiriam para a terra natal, Madri, onde filmam o quarto filme juntos, Todos Lo Saben, com estreia prevista para 2018.