O filme Duas Rainhas narra a disputa entre Elizabeth I e Mary Stuart pelo trono do Reino Unido, mas o que chama a atenção é a discussão dos preconceitos de gênero que se repetem até hoje. CLAUDIA entrevistou as atrizes e a diretora do filme.
Apesar de se passar no século 16, as espectadoras de Duas Rainhas, que será lançado em 1º de abril, vão encontrar paralelos com as próprias histórias de enfrentamento da disparidade entre os gêneros, das dificuldades de estar em posições de poder, do dilema da escolha entre família e carreira e das maneiras como são julgadas pela sociedade.
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Na trama, dirigida por Josie Rourke, a católica Mary Stuart (Saoirse Ronan), viúva aos 16 anos, volta da França para sua terra natal, a Escócia, onde havia sido coroada rainha ainda bebê. Sua prima Elizabeth I (Margot Robbie), protestante, governa a Inglaterra. Completamente opostas, as duas entram em conflito pelo trono da Inglaterra. Elizabeth sente-se ameaçada por não ter herdeiros que carreguem seu legado. Um detalhe que merece destaque: ela nunca se casa porque não quer se submeter a um homem. Mary, por sua vez, oficializa três uniões e é tachada de promíscua. “Cada uma tem suas estratégias de sobrevivência ao patriarcado”, explica a australiana Margot Robbie em entrevista a CLAUDIA. “As maneiras de governar são distintas – e não há uma mais correta –, mas fica claro que não era possível acumular o trono e uma família.”
O longa levanta a discussão sobre como traços femininos costumam ser relacionados a fraquezas uma vez que a mulher atinge o poder. “Existe uma pressão para suprimi-los. Elizabeth diz que o convívio com homens a transformou em um. Ela elimina toda sua humanidade e se torna quase uma estátua”, afirma Margot, destacando ainda o rosto coberto de base branca e pesada maquiagem, usada para cobrir as cicatrizes deixadas pela varíola. “Endurecer para não serem acusadas de sentimentais ou emotivas é algo comum a mulheres líderes”, conclui a atriz.
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Amigas e rivais
Apesar da disputa acirrada e violenta, muitas vezes as primas recorrem uma à outra para trocar conselhos e pedir apoio. “Normalmente, nos filmes, a rivalidade entre mulheres é por causa de homens, de algo romântico, e é maldosa. No nosso caso, é mais saudável”, diz a americana Saoirse Ronan. “Elas se mantêm aliadas porque entendem a responsabilidade com o trono, que deve estar acima de tudo.”
Margot elogia o fato de uma mulher estar à frente da produção, completando um trio de força. A cineasta estreante Josie Rourke, que tem um carreira premiada no teatro, quis dar um tratamento especial aos corpos das rainhas. “Mostramos coisas que são tidas como chocantes, mas que, na realidade, são totalmente naturais e parte da nossa experiência”, enfatiza. Há uma cena, por exemplo, em que Mary fica menstruada, algo simbólico, já que está refletindo sobre a importância de um herdeiro. “Foi fácil gravar porque éramos todas mulheres e sabíamos como é menstruar”, diz ela.
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A diretora também ajudou a mostrar de forma mais realista a sexualidade feminina. “Foi incrível filmar cenas de sexo com Mary sentindo prazer, porque é raro ver uma personagem mulher aproveitando esses momentos”, afirma Saoirse. “Ela reconhecia que não era apenas a rainha, mas uma garota com suas necessidades, e respeitava esse lado como um rei faria. Só que foi ridicularizada por isso, chamada de prostituta”, completa a intérprete. A trama envolvente entretém, mas também faz pensar que pouco evoluímos em tabus femininos nos últimos anos. Quem sabe as rainhas tragam boas lições e nos encham de força para continuar lutando.
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