‘Bom Sucesso’ tenta uma representação racial mais diversa nas novelas
A atual novela das sete tem personagens negros em várias funções de destaque, mas ainda há muito a ser feito.
Assim que o elenco completo da novela ‘Segundo Sol‘ foi apresentado ao público, muitas pessoas perceberam que havia apenas 4 atores negros. O pior: a trama era ambientada na Bahia, estado brasileiro onde mais da metade da população é classificada como negra. Após muitas críticas e debates, que levaram a emissora a inserir mais negros na novela, em ‘Bom Sucesso‘ vemos uma tentativa de colocar mais personagens negros em posição de destaque.
Para começar, já chama a atenção termos um homem negro como co-protagonista e membro do triângulo amoroso principal. Ramon (David Junior) é um dos personagens masculinos que disputa o amor de Paloma (Grazi Massafera), junto de Marcos (Rômulo Estrela), e aparentemente tem as mesmas chances do outro personagem. Os dois têm lados positivos bem claros, lados negativos e possibilidades equivalentes para concorrer a uma vaga no coração da protagonista.
Um papel desses é muito importante para David Junior, que vem participando de muitas novelas das sete nos últimos tempos (em ‘Pega Pega‘ interpretou o filho de uma mulher poderosa e em ‘O Tempo Não Para‘ foi um ex-escravo descongelado em 2018). O ator, que compareceu à festa de lançamento de ‘Bom Sucesso’ com uma roupa bem étnica, chegou a dizer que é “a contramão do sistema”.
A atual novela das sete coloca personagens negros em várias funções de destaque na história. Gisele (Sheron Menezzes) é uma das vilãs do núcleo da editora Prado Monteiro, tendo uma importância equivalente à de Diogo (Armando Babaioff), seu comparsa. O fato de termos uma personagem negra na vilania também é um reflexo de que há um esforço para ter uma maior diversidade não só nos protagonismos, mas também nos antagonismos.
Estrela do núcleo jovem de ‘Bom Sucesso’, Bruna Inocencio interpreta Alice, a filha de Paloma com Ramon, e concorda que uma maior participação de negros nos elencos de novela já é algo que deveria estar acontecendo faz tempo. “Eu quero que as pessoas se vejam e se reconheçam, porque na minha época eu não tinha oportunidade de me ver e me reconhecer”, contou a atriz.
Para Rosane Svartman, autora da novela ao lado de Paulo Halm, explica que um dos pilares da novela é buscar representatividade e diversidade, mas entende que o que ‘Bom Sucesso’ faz é apenas um caminho. “A vocação da televisão é trazer o que a gente vê na sociedade para a tela, dialogar com a sociedade“, explicou. Ou seja, por vermos as lutas por identidade no mundo real, esse tema precisa aparecer também nas novelas. E a autora finalizou: “Não acho que chegamos lá não, ainda tem um longo caminho pela frente”.
Embora uma porcentagem muito grande da população brasileira seja considerada negra, demorou muito para que tivéssemos uma protagonista negra em uma novela na Globo (Taís Araújo, em ‘Da Cor do Pecado‘). E que essa luta continue e que cada vez mais tenhamos atores negros e das mais variadas etnias mostrando o quão diverso é o nosso país.