Autora de “Comer, Rezar, Amar” está namorando a melhor amiga
Em um post emocionante, Liz Gilbert abre o coração e conta como um câncer fez com que ela descobrisse que Rayya era mais do que uma grande amiga
A escritora Elizabeth Gilbert, ou simplesmente Liz Gilbert, tem uma relação muito próxima com seus leitores. Foi no Facebook que ela tornou pública a separação de José Nunes, o brasileiro que se tornou figura importante no best seller “Comer, Rezar, Amar”. E também pelo Facebook ela conta que está namorando a melhor amiga, Rayya.
Famosa por escrever com muita sensibilidade, Liz publicou um post emocionante contando a história das duas. Quem é fã da autora já conhecia Rayya e sabia do amor que uma sentia pela outra. Mas a escritora diz que percebeu que estava apaixonada pela amiga durante um momento difícil – depois de um diagnóstico de câncer incurável.
No post, Liz fala sobre os motivos que a levaram a falar publicamente de sua relação com a melhor amiga, e diz que “enquanto Rayya tiver saúde suficiente para estar ao meu lado, ela estará ao meu lado”. Ainda conta que o casamento com José Nunes terminou por causa dessa paixão, e sobre a importância da verdade.
Leia o post original (em inglês), e, abaixo, a tradução livre que fizemos.
EU & RAYYA
Queridos,
Hoje eu gostaria de contar uma coisa para vocês – algo que eu espero e confio que vocês vão receber com bondade.
Na primavera deste ano eu recebi notícias que mudariam minha vida para sempre. Minha melhor amiga Rayya Elias foi diagnosticada com câncer de pâncreas e fígado – uma doença para a qual não há cura.
No momento em que eu soube do diagnóstico de Rayya, um alçapão se abriu no meu coração (um alçapão que eu nem sabia que estava lá) e minha vida toda desabou por essa porta. Daquele momento em diante, tudo passou a ser sobre ELA. Eu cancelei tudo em minha vida que podia ser cancelado e corri para ficar com ela. E é ao lado dela que estou desde então.
Muitos de vocês já sabem quem Rayya Elias é para mim. Ela é minha melhor amiga, sim, mas sempre foi mais do que isso. Ela é um exemplo de vida, minha companheira de viagem, minha fonte de luz mais confiável, minha fortaleza, minha confidente. Em resumo, ela é MINHA PESSOA. Eu falei sobre ela tantas vezes nessa página, e muitos de vocês já me ouviram falar sobre ela em meus discursos, também (como em meu discurso “Hummingbird”, em que eu a elogio com todo o amor que consegui reunir). Alguns de vocês até já nos viram falando juntas no palco, ao longo destes anos todos. Qualquer pessoa que já nos viu juntas sabe que eu sou devotada à Rayya. Eu nunca fiz disso um segredo. Como Ann Patchett uma vez falou sobre nossa amizade: “seu amor por Rayya sempre foi em larga escala”.
Mas algo aconteceu com meu coração e minha cabeça nos dias e semanas após o diagnóstico de Rayya. A morte – ou a perspectiva da morte – faz com que tudo o que não é real seja deixado para lá, e nesse espaço de realidade nua e crua eu encarei a verdade: eu não apenas amo Rayya; eu estou apaixonada por Rayya. E eu não tenho mais tempo para negar essa verdade. Pensar que um dia eu estarei em um quarto de hospital com ela, segurando sua mão e assistindo ela partir, sem nunca ter deixado que ela (ou eu mesma!) soubesse do tamanho dos meus verdadeiros sentimentos por ela… bem, imaginar isso era impossível.
E aí está a grande coisa sobre a verdade: uma vez que você vê, você não pode deixar de ver. Então quando essa verdade chegou ao meu coração, não pôde ser ignorada.
Mas o que fazer com essa verdade que tem o poder de abalar vidas?
Vou contar algo que aprendi com Rayya, ao longo dos nossos 15 anos de amizade. Ela é a pessoa mais corajosa e honesta que eu conheço, e ela me ensinou mais sobre coragem e honestidade do que qualquer outra pessoa que eu tenha conhecido. Este é o mantra dela sobre verdade, que eu ouvi ela falar tantas e tantas vezes, em tantas situações difíceis:
“A verdade tem pernas; sempre para em pé. Quando tudo mais na sala explodiu ou se dissolveu, a única coisa que resta em pé é a verdade. Já que no fim das contas é a única coisa que sobra, você pode contar com ela desde o início”.
Então eu fiz o que Rayya me ensinou a fazer: contei com a verdade desde o início. Falei minha verdade em voz alta.
Para vocês que estão fazendo as contas aí, e se questionando se essa situação é o motivo do fim do meu casamento na primavera, a resposta simples é sim. (Por favor entendam que eu não posso falar mais nada sobre isso. Acredito que todos vocês sejam sensíveis o suficiente para entender o quanto isso foi difícil. Como certa vez David Foster Wallace escreveu: “A verdade liberta – mas só depois de acabar com você”. Sim, foi difícil. Sim, a verdade acabou conosco. E sim, a verdade continua em pé).
Então. Estamos assim: Rayya e eu estamos juntas. Eu a amo, e ela me ama. Estou a acompanhando nessa jornada do câncer, não só como amiga, mas como companheira. Estou exatamente onde eu precisava estar – no único lugar onde eu poderia estar.
O motivo pelo qual eu ainda não havia falado publicamente sobre Rayya e eu é porque nós (e nossas famílias) precisamos desse casulo de privacidade nos últimos meses, enquanto encarávamos e processávamos todas essas grandes mudanças e desafios.
Então por que estou falando disso publicamente agora?
Porque – para o bem ou para o mal – eu sou alguém que vive a vida publicamente. Esse verão foi um período de silêncio, cura e incubação essencial para nós. Eu precisei desse tempo, e sou grata por ter tido esse tempo. Mas o verão acabou. Eu tenho trabalho para fazer pelo mundo – trabalho que não posso mais adiar. Eu vou estar nas ruas e exposta ao público novamente nas próximas semanas e meses. As pessoas estarão olhando para mim novamente. E quando as pessoas olharem para mim, inevitavelmente verão Rayya ao meu lado, porque – Deus é minha testemunha – enquanto Rayya tiver saúde suficiente para estar ao meu lado, ela estará ao meu lado. (Acredite: não vamos desperdiçar um momento sequer de nossa vida juntas, enquanto tivermos tempo).
Por motivos de integridade e sanidade, eu preciso poder andar em qualquer lugar do mundo com Rayya de braços dados comigo, me sentindo relaxada o suficiente para me sentir confortável em que todo mundo saiba o que somos uma para a outra. Se eu não puder ser eu mesma (seja em casa, na privacidade, ou lá fora, publicamente) então as coisas vão rapidamente ficar confusas e estranhas em minha vida. Claro, eu poderia fingir que Rayya ainda é apenas minha melhor amiga, mas isso seria… você sabe… fingimento. Fingimento é degradante, e faz com que você fique fraca e confusa, e também dá muito trabalho. Eu não quero mais ter esse tipo de trabalho.
Aqui está o que funciona para mim: preciso viver minha vida com verdade e transparência, mais até do que preciso de privacidade, ou boa repercussão, ou prudência, ou a aprovação de outras pessoas ou compreensão ou qualquer outra coisa. Verdade e transparência não só fazem minha vida mais ética, mas também mais fácil. (Por que mais fácil? Porque a mentira sempre complica as coisas, e a verdade – não importa as consequências – é sempre tona tudo estranhamente mais simples). Então é por isso que Rayya e eu decidimos juntas falar disso publicamente agora – sobre o câncer dela e sobre nosso amor. É por causa de nossa integridade, mas também para deixar nossas vidas mais simples.
E o que eu peço a vocês, em resposta à minha verdade?
Deixe-me começar dizendo o que eu não peço. Se qualquer boa alma por aí está tentada a mandar para mim ou para Rayya informações sobre tratamentos ou curas para câncer de pâncreas e fígado… eu gentilmente e respeitosamente imploro que vocês não mandem. (Uma coisa que você descobre quando alguém que você ama tem câncer é que TODO MUNDO tem ou uma história milagrosa ou horrorosa sobre câncer que querem desesperadamente te contar. Rayya e eu já estamos nos afogando em todas essas histórias de dietas especiais, clínicas incríveis, médicos terríveis, novos tratamentos… eu entendo que as pessoas só querem ajudar, mas por favor não nos deixem ansiosas com mais informação, ok? Rayya escolheu o caminho dela para enfrentar essa doença, e ela é forte nas decisões. Mas obrigada por se preocuparem!)
Mas aqui está o que eu peço: porque eu acredito em amor, eu peço amor.
Qualquer amor extra que você pode estar carregando no coração neste momento, você pode mandar para a gente? Eu ficarei tão feliz e – acreditem – irei senti-lo. E vai ajudar. Nós vamos ressoar esse amor, e agradecer por ele. Porque a verdade é a força que nos guia para onde precisamos estar na vida, mas o amor é o poder que nos cura quando chegamos lá.
Paz, bênçãos e saúde para todos
ADIANTE
LG
Desejamos muito amor para o casal!