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Antonio Fagundes à CONTIGO: “Tenho umas peguetes, mas prefiro namorar”

O ator revela seu manual particular da boa vida masculina, fala sobre relacionamento aberto, traição, monogamia e... dormir de conchinha!

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 13h14 - Publicado em 7 out 2013, 21h00
Renata Telles (/)
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Fagundes diz não se preocupar com a idade
Foto: Laílson Santos

Aos 64 anos, Antonio Fagundes lê muito, mas também adora jogar videogame. Passa madrugadas tentando finalizar as fases dos jogos. Solteiro, diz que tem “algumas peguetes”, mas não sai atirando para todos os lados. É cuidadoso e preza a liberdade no relacionamento. “Na cabeça tenho uns 30 e poucos anos”, diz durante entrevista à CONTIGO!, no Teatro Tuca, em São Paulo. Em cartaz com a peça Tribos, ao lado do filho Bruno Fagundes, 24, e da ex-namorada Arieta Corrêa, 36, o ator grava de segunda a sexta-feira a novela Amor à Vida, da Rede Globo, e pega a ponte área para a capital paulista nos fins de semana – uma correria OK para um Fagundes que tem fôlego de garoto e diz não se preocupar com a idade. Ele tem horror à academia, diz cultivar as “ruguinhas” com muito orgulho e odeia dormir de conchinha – sim, e ele tem bons argumentos. Com 47 anos de carreira, o ator não teme o fracasso. “Sempre achei que os passos errados contribuem para o aperfeiçoamento. É aquele papo: não teríamos segurança nos navios se o Titanic não tivesse afundado.”

Na novela, seu personagem, César, ganhou o apelido de Mister Catra (funkeiro casado com três mulheres e com 21 filhos). O que acha da repercussão?
Quem é ele mesmo? Ah, aquele cara que teve 19 mulheres! É uma conta errada. Estão exagerando (risos). O Walcyr (Carrasco) acertou em cheio, colocou personagens com a complexidade do ser humano. César é mau-caráter, tem amante, é homofóbico, mas ao mesmo tempo ama a esposa, uma das filhas e tem postura ética. Não é mais ou menos assim que o ser humano é? Nos adoram ou nos odeiam. Essa complexidade está fazendo o público pensar.

Trair faz parte da natureza do homem então?
As feministas não gostam, mas existe uma visão biológica disso. Nós não podemos esquecer que antes de sermos civilizados, fomos macaquinhos. Biologicamente o homem tem a cada ejaculação 300 milhões de espermatozoides e a mulher tem um óvulo só. Você vê que o homem foi feito mesmo para espalhar essa coisa. Quanto mais mulheres o homem conseguisse fecundar, mais a espécie sobreviveria. Digamos que isso não alivia a nossa culpa, mas explica um pouquinho as traições. A monogamia é rara até na fauna. Nem passarinho é monógamo. Mas mulheres também estão dando seus pulinhos. E a mulher que não tem explicação biológica, só tem um óvulo, estão traindo por quê (risos)?

Uma vez você falou que casamento e amor não são compatíveis. Por quê?
Tem um livro que recomendo: Contra o Amor, da Laura Kipnis. Exatamente na página 100 ela lista coisas que você não pode fazer quando tem um compromisso. Por exemplo: não pode sair sem dizer onde vai; não pode voltar tarde sem dizer onde foi etc. São bobagens que destroem a vida das pessoas. Então, algo que te impeça de fazer tanta coisa não pode ser amor…

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Então não é do tipo que gosta de discutir relação?
DR para mim só tem uma, quando você separa. Eu sento, converso e vou embora. Você já trabalha o dia inteiro e vai chegar em casa e ainda tem de “trabalhar” o casamento? Deus me livre, casamento tem de ser bom! E para isso você precisa mexer em algumas estruturas. Talvez não morar juntos, ter sua privacidade…

Antonio Fagundes à CONTIGO: "Tenho umas peguetes, mas prefiro namorar"

Fagundes posa no hall do Teatro Tuca, em São Paulo
Foto: Laílson Santos

Acredita que relacionamento só dá certo se os dois morarem em casas separadas?
Eu moro sozinho. Essa coisa de dormir de conchinha era na época que as pessoas não tinham dinheiro para comprar duas camas. Ou dormia assim ou caía da cama. É mentira que dormir de conchinha é bom! As pessoas se acostumaram, mas o gostoso é virar na cama, levantar, fazer barulho, ir ao banheiro sem se preocupar.

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E nos dias de hoje, Fagundes tem “peguetes” ou namora?
De vez em quando tenho umas peguetes, mas prefiro namorar. Sou à moda antiga, preciso ficar um bom tempo com a pessoa. Peguete para mim é um ano. Não saio por aí quicando. Eu tomo cuidado. Quem decide é a mulher. Só se aproxima dela quem ela quer.

Sempre namorou belas mulheres. Prefere as jovens?
As mulheres novas que me escolhem (risos). Acho ótimo, está tudo bem. Qualquer relação é uma troca. Você vê uma mulher bonita, se ela tiver um corpo bom, melhor ainda! Aí eu dou outras coisas: eu dou segurança, conhecimento e maturidade. Tudo é uma troca.

O que a idade o ensinou?
A questão da liberdade e da individualidade. As pessoas têm de ter privacidade. Eu jamais pergunto com quem a mulher está, o que fez. Ela conta se ela quiser. De repente ela quer falar. Eu vou ouvir com o maior prazer, mas não vou perguntar. Com celular você pode estar até no motel! Se há relação, precisa existir confiança.

Sente-se com 64 anos?
Na cabeça tenho uns 30 e poucos. Todo mundo elege um momento na vida e fixa. Por isso que as mulheres fazem tanta plástica. Elas querem ficar naquela idade em que se olhavam no espelho e era bom. Parei nos 34. Mas, claro, tenho aqueles dias em que falo: “Poxa, esse cara não está muito bem hoje”.

Você não é nem um pouco vaidoso? Mesmo?
Não. Não faço nada e odeio exercícios. Terei de fazer como remédio, mas não gosto. Toda vez que dá vontade, eu me deito até passar. Também não faria nenhuma plástica. Levou tanto tempo para montar essa ruguinha e eu vou tirar? Faz parte!

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E medo da velhice?
Brincava sobre isso quando era mais moço. A velhice é o melhor momento da vida. Quando se é mais velho existe uma visão de conjunto melhor. Você tem uma tranquilidade maior para enfrentar os problemas e isso não quer dizer que eu não fique estressado ou nervoso, só que as soluções ficam mais próximas. Não preciso provar mais nada para ninguém.

Antonio Fagundes à CONTIGO: "Tenho umas peguetes, mas prefiro namorar"

“Eu vou ter 80 anos e vão me chamar de galã, acharei ótimo”
Foto: Laílson Santos

O rótulo de eterno galã já encheu o saco?
Não. Depois de velho fica melhor ainda. Eu vou ter 80 anos e vão me chamar de galã, acharei ótimo (risos). Só achava ruim quando esse galã era ligado a uma coisa pejorativa, algo como não mais que um homem bonito. Eu sempre trabalhei tanto, aprofundei e pesquisei, chegava a ser uma ofensa.

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Já são 47 anos de carreira. Alguma vez teve medo do fracasso?
Sempre achei que os passos errados que você dá numa construção do personagem ou na escolha de uma novela contribuem para o aperfeiçoamento depois. É aquele papo: não teríamos segurança nos navios se o Titanic não tivesse afundado. Que venham os fracassos, sim! Isso faz com que todas as experiências sejam bem-vindas. Penso que ainda falta muita coisa para eu realizar na carreira. Só o Shakespeare escreveu 37 peças e eu fiz uma só. Então só dele faltam 36. De projetos tenho 1,8 mil (risos).

Você está em cartaz com Tribos. É a segunda peça com seu filho Bruno. Como é a relação de vocês?
Costumo dizer que o pai e o filho ficam até dez minutos antes de começar o espetáculo. Quando dá o primeiro sinal, já é um profissional que precisa estar lá. E essa relação é importante, porque ele pode ser um filho querido e um péssimo profissional, o que não é verdade. Bruno é excelente e superdisciplinado. Fora dos palcos, saímos juntos e conversamos sobre tudo. Com os outros três filhos também, viajamos juntos uma vez por ano.

O que o espetáculo mudou em você?
O teatro só funciona se ele o modificar um pouquinho. Uma peça de sucesso faz você conversar cinco minutos até o estacionamento. Eu me senti modificado ao ler esse texto, comecei a prestar atenção numa realidade que a gente desconhece. O espetáculo usa a deficiência auditiva para falar do preconceito. Fizemos uma sessão com intérprete de libras (língua brasileira de sinais) para surdos e o teatro ficou lotado.

O que falta na nova safra de atores?
Eu tenho percebido que eles ficam bem muito rapidamente. É um trabalho árduo, difícil. Eu estou com 47 anos de profissão e não sei se a minha peça, por exemplo, será um sucesso. Eu sempre recomendo a esses jovens que querem ser atores e não apresentadores de bailes de debutantes, que eles façam teatro. É onde você estuda, aprofunda seu trabalho. A humildade também é importante. Você está em cena, acha que é o rei da cocada preta, mas tem gente dormindo na primeira fila. Essa humildade, os novos atores não têm, essa disciplina e essa vontade de aprofundar o trabalho. Eles vão sofrer muito, porque o baile de debutante só vai até certa idade.

LEIA MAIS NA EDIÇÃO 1986 DA REVISTA CONTIGO!, NAS BANCAS A PARTIR DE 09/10/2013.

Antonio Fagundes à CONTIGO: "Tenho umas peguetes, mas prefiro namorar"
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“É aquele papo: não teríamos segurança nos navios se o Titanic não tivesse afundado”
Foto: Laílson Santos

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