Amor pelo trabalho
Petrônio Gontijo está totalmente dedicado ao Rudi, de Poder Paralelo, o melhor personagem de sua carreira
O ator se dedica com afinco ao personagem
Foto: Rafael França
Rudi, de Poder Paralelo, é um divisor de águas na carreira de Petrônio Gontijo. Completamente dedicado ao personagem, tudo à sua volta remete ao trabalho. Sempre que ouve Lover, You Should´ve Come Over, do cantor Jeff Buckley, se liga imediatamente ao Rudi, “É uma das músicas mais lindas que já ouvi e me toca muito. E é a cara do Rudi, que grita por afeto de todas as formas”, explica o ator, de 41 anos. “Estou muito feliz com esse papel. É o mais difícil que já fiz, por ser humano. Rudi é fraco, é forte, é carente…”, completa, empolgadíssimo, o mineiro de Varginha. Sem titubear, Petrônio diz que, se não fosse ator, seria professor de história geral, por achar a profissão bonita e brinca que tem isso no sangue, já que sua mãe era professora de literatura: “Mas, com 20 peças e 15 novelas no currículo, só tenho a agradecer à vida por ter sido tão generosa comigo e ter me dado lindas oportunidades”.
Como surgiu a ideia de largar sua cidade para estudar artes cênicas?
Com 17 anos, eu sai de Varginha (MG) e prestei vestibular para arte cênicas, na Unicamp. Passei e lá estudei por cinco anos. Quando estava no final do curso, fiz teste para a novela de Gilberto Braga, Salomé (1991), e fui convidado para ser o protagonista. Aí minha carreira começou…
Como está sendo a reação do público com o Rudi?
As pessoas se reconhecem nele. É uma coisa muito estranha isso. Elas se calam, têm uma certa comoção com o personagem. Por ele ser complexo e humano, as pessoas se comovem. Dá vontade de cuidar do Rudi. Todo mundo tem um ente “torto” na família, então o público se identifica.
Como você se preparou para fazer um personagem tão delicado?
Tenho uma terapeuta, em São Paulo, que me deu muitos subsídios para conseguir compor o Rudi. Conversamos sobre sentimentos delicados, como rejeição e carência, e pesquisamos o que causou o vício da droga. E estudei esses sentimentos psicologicamente para aliá-los à lógica de um dependente químico.
O que você aprendeu com o Rudi?
Ele é um leque de opções. Nunca sei o que vai acontecer. Sou fã do Lauro César Muniz (autor da novela), por tudo, mas principalmente por ele ter confiado a mim um personagem tão complexo, que está entrando num caminho tão tenebroso, que não sabe lidar com sentimentos tão primários. Rudi me deixa completo, saio muito eletrizado das gravações. No sentido de estar cumprindo obrigações. Acredito que dá para fazer arte na televisão e Rudi me passa essa possibilidade.
Ele é um marco na sua carreira…
É um marco, sim. A confiança que todos me deram, só agradeço! E em termos de entrega, de resultado, de tudo, ele é único.
Existe algo do Rudi em você?
Todo personagem carrega um pouco da gente. Nossa profissão é bonita por causa disso. A gente se dispõe. Há, sim, dentro de cada um de nós, uma pessoa carente, necessitando de atenção.
Você já conviveu com viciados?
Claro, esse problema está mais próximo do que a gente imagina. Às vezes, convivemos com pessoas que têm compulsões, não só pela droga, mas por álcool, compras e até internet. Esse tipo de fuga da realidade, todos temos ou conhecemos alguém próximo que passa por isso. O importante é olhar com atenção.
Que final você gostaria que o Rudi tivesse em Poder Paralelo?
Eu torço pelo Rudi e para que ele se recupere. Mas existem dois desfechos que são bons, como um alerta ou como uma forma de redenção. Acredito na TV como um elemento didático. A tristeza e a morte dos usuários de drogas acontecem não só com os dependentes, mas com a família toda, que fica doente também.