Precisamos normalizar a menstruação
Após o episódio com a atriz Aline Riscado, autora reflete: "É o único sangue que não provém de acidentes ou feridas"
A atriz e modelo Aline Riscado usou a sua conta do Instagram (@alineriscado), na última quarta-feira (18), para desmistificar o tabu em torno da menstruação.
O debate teve início após Aline ficar menstruada durante uma live de ioga, enquanto usava uma calça de ginástica branca, que ficou manchada com o fluxo mensal. O “imprevisto”, no entanto, não interrompeu os execícios da atriz.
Além de deixar claro durante a live que a menstruação, para ela, não é sinônimo de vergonha, Aline fez questão de publicar o vídeo completo no feed e escrever sobre o episódio. “Yoga de uma forma ainda mais especial”, legendou a publicação.
Nos stories, a modelo também comentou sobre o ocorrido. “Aconteceu algo que para muitos foi um choque, para outros algo pavoroso e para muitos outro algo divino. Eu fiquei menstruada no meio da live, estava de branco e eu me sujei, e? Isso é um problema? Menstruação é vida, menstruação faz parte da vida de nós mulheres, mulheres que geram vidas que existem aqui. “Todos nós nascemos de uma mulher e mulheres menstruam”, defendeu Aline.
“Nunca me senti tão liberta na minha vida em poder estar aqui com vocês durante uma live, ao vivo, e ficar menstruada. Fico grata em ser esse canal para normalizar algo que é normal, algo que é divino, algo que é vida”, continuou.
Normalização
A abordagem do assunto por Aline Riscado nas redes sociais provou o quão necessário é falar sobre a normalização da menstruação nos dias de hoje. Afinal, o fluxo menstrual ainda é tido como algo repugnante e impuro por muitas pessoas, quando na verdade, deveria ser visto como algo natural.
Assim como Aline, a portuguesa Catarina Alves não tem rodeios para falar sobre o assunto. Autora da minissérie lusitana O Meu Sangue, disponível gratuitamente no YouTube, Tota, como é conhecida, defende que as mulheres e a sociedade devem enxergar o fluxo como algo natural e sinônimo de vida. Assista ao trailer abaixo:
“Menstruação significa vida, é graças ao ciclo menstrual que os corpos engravidam e nascem as pessoas”
“O nosso fluxo deveria ser visto na sociedade como algo saudável, que significa que nós mulheres estamos bem, que o nosso corpo está respondendo“, defende Tota.
A autora da minissérie também destaca a importância de se normalizar a menstruação e falar sobre ela como um ato de reconquista do corpo. “É importante falarmos sobre menstruação para que nós mulheres possamos ter o nosso corpo de volta”, afirma.
“A menstruação permanece como um segredo, porque é um sangue que sai pela vagina, afinal nenhum outro sangue na sociedade é tabu. Sempre vemos sangue nos filmes de heróis, nas guerras, nos jornais na televisão, no jogador de futebol que se lesiona. O problema da menstruação, aos olhos de uma sociedade patriarcal, é a sua origem: o corpo da mulher”, argumenta a lusitana.
Pobreza menstrual
Outro ponto destacado por Aline após o episódio foi o da pobreza menstrual, que é a falta de itens e condições básicas de higiene durante o período.
Segundo relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgado neste ano, aproximadamente 713 mil meninas não possuem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio. Além disso, mais de 4 milhões não têm acesso a recursos mínimos de cuidados menstruais nas escolas.
“O que mais existem são meninas que estão iniciando seu ciclo menstrual e sofrendo bullying, ficando mal por isso. Fora outras meninas e mulheres que não têm acesso aos absorventes. A menstruação precisa ser encarada como algo maravilhoso. Não é nojento, não é horroroso. Precisamos menstruar para nosso corpo estar saudável”, afirmou.
É o único sangue que não provém de acidentes ou feridas, é apenas o corpo a funcionar naturalmente”, diz Tota
Sobre a atitude de Aline Riscado, a ativista comenta: “É muito importante todas as pessoas normalizarem a menstruação. Não só as pessoas influentes, mas todas nós, pessoas que menstruamos. Não temos de ter vergonha em pedir um absorvente a alguém na sala de aula ou no trabalho e nem temos que escondê-lo no bolso a caminho do banheiro. Quanto mais falarmos sobre menstruação, mais normalizamos o corpo”, finaliza Catarina.